Província é considerada uma das principais regiões produtoras
de vinho da América do Sul e está aos pés da Cordilheira dos Andes

Andréia Debon
andreia@editoranovociclo.com.br

Visitar Mendoza é uma experiência multifacética que pode ser apreciada com todos os sentidos. Sim, porque a província argentina é puro encanto e mistério, principalmente para os amantes de uma viagem que reúne lindas paisagens, boa gastronomia, degustação de vinhos e muita cultura.
Localizada no centro-oeste da Argentina, aos pés da Cordilheira dos Andes (as mais altas montanhas do continente), Mendoza é considerada uma das principais regiões produtoras de vinho da América do Sul, com um enoturismo muito forte e que cresce a cada dia. Por lá, as atividades ofertadas aos turistas vão além de uma visita a caves e degustação de vinhos. As vinícolas apresentam ao visitante novas experiências que vão desde piqueniques acompanhados pelas famosas empanadas, almoços e jantares harmonizados com carnes saborosas e em meio aos vinhedos, passeios de bicicleta e a cavalo e até tratamentos em spa. O objetivo é simplesmente admirar os vinhedos, a paisagem rural, o silêncio, os aromas e as luzes deste pequeno paraíso vinícola.
O período da vindima (fevereiro e março) é o que registra a maior movimentação de turistas, principalmente porque nessa época acontece a Festa da Vindima, evento que movimenta milhares de pessoas desde 1936. A festa dura um final de semana e inclui uma programação intensa, com escolha e desfile das rainhas dos municípios que compõem a província de Mendoza, e culmina num grande espetáculo coreográfico que reúne milhares de pessoas no anfiteatro Frank Romero Day, localizado nos cerros do Parque General San Martin. As encenações, com destaque para luz e som, reúnem centenas de atores que recontam a história da vitivinicultura mendoncina. Nesse mesmo dia é eleita e coroada da Rainha Nacional da Vindima, que está encarregada de representar a província durante um ano. Em 2014 esse grande momento de celebração da colheita da uva em Mendoza oconteceu no dia 8 de março.
Nesse período de colheita – que segue até o final de abril – as bodegas também organizam programações especiais. Mas é preciso se organizar e agendar as visitas. E como há muitas opções saiba exatamente o que você quer: conhecer pequenos ou grandes produtores. Entre as sugestões está Bodegas Norton, Sin Fin, Trapiche, Vistandes, Gimenez Riili, Salentein e Ruca Malén.
As vinícolas situadas em Luján de Cuyo e Maipú estão bem próximas da cidade de Mendoza e podem ser visitadas de táxi, indo e voltando no mesmo dia. O Bus Vitivinícola também é uma opção para conhecer os empreendimentos da região. O turista compra um tíquete e pode percorrer as bodegas de Luján. Há duas formas de passeio: meio dia e dia inteiro. Já para visitar as bodegas do Vale de Uco é melhor alugar um carro para passar o dia por lá.

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Vinícolas oferecem passeio de bicicleta em meio aos vinhedos. (Foto: Bodegas da Argentina/divulgação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Evolução na década de 1990

Os vinhos argentinos começaram a ganhar notoriedade internacional nos anos 1990. A partir disso o enoturismo cresceu tanto em demanda como em oferta. Em 2005 surgiu a necessidade de oferecer aos visitantes um salto de qualidade com investimentos em organização de rotas temáticas e promoção desses novos roteiros. “Esse trabalho finalizou em 2011 e culminou em página com os mapas dos caminhos do vinho das oito províncias vitivinícolas da Argentina (www.mapascaminosdelvino.org.ar) e um site de promoção (www.caminosdelvino.org.ar)”, explica o coordenador do departamento de Turismo das Bodegas de Argentina, entidade que reúne 250 vinícolas de todo o país e que tem o objetivo de promover o setor, Guillermo Barletta. A entidade colabora na organização e divulgação de diversos eventos, entre eles o Festival de Música Clássica, o Festival de Tango e o Circuito de Golfe, entre outros, todos em vinícolas que fazem parte do projeto Caminos del Vino.
Atualmente, a Argentina registra uma movimentação de 1,3 milhão de visitantes às vinícolas de todo o país anualmente. Setenta por cento desse total se concentra em Mendoza. Entre os estrangeiros estão brasileiros, chilenos, americanos e canadenses.
Em Mendoza o clima é agradável e quente, com pouquíssima chuva. São em torno de 300 dias de sol por ano e estima-se que chova em torno de 200mm por ano. Essas condições climáticas, bem como a existência de rios de degelo dos Andes, permitem que os sonhos e esforços de homens e mulheres transformem essa região com características semidesérticas num belo oásis urbano e rural. E foram essas

Passeio pelos vinhedos é uma das atrações.  (Foto: Andréia Debon)
Passeio pelos vinhedos é uma das atrações. (Foto: Andréia Debon)

particularidades que fizeram com que a vitivinicultura se desenvolvesse nessa região e garantissem a Mendoza o status de ser uma das capitais mundiais do vinho desde 2005, ao lado de Melbourne (Austrália), Bordeaux (França), São Francisco e Napa Valley (EUA), Porto (Portugal), Bilbao e Rioja (Espanha), Cidade do Cabo (África do Sul), Florença (Itália) e Mainz-Rheinhenssen (Alemanha).
São mais de 1.200 vinícolas em toda a província, concentradas em três regiões: Luján de Cuyo (a 20km da cidade de Mendoza), Maipú (15km) e Valle de Uco (80km e onde se concentram também investimentos estrangeiros). Juntas elas produzem quase 1 bilhão de litros de vinho por ano. Entre as tintas, a Malbec é a uva mais característica da província. É uma cepa originária do Sudoeste francês, onde é chamada de Côt, de estilo tânico e duro. A variedade foi trazida para a Argentina em 1852 por Michel A. Pouget, engenheiro agrônomo francês contratado pelo governo argentino. Em 1863 a praga filoxera destruiu a viticultura francesa e a Côt caiu no esquecimento deixando, no entanto, uma cultura de

Espaço para eventos na Bodega Gimenez Riili. (Foto: Andréia Debon)
Espaço para eventos na Bodega Gimenez Riili. (Foto: Andréia Debon)

apreciação da Malbec já construída. Atualmente, a Argentina é o principal produtor de Malbec do mundo, seguido pela França, Itália, Espanha, África do Sul, Nova Zelândia e Estados Unidos.
Também entre as tintas, a Bonarda, símbolo argentino nos anos 1990 e que por um tempo ficou em segundo plano, voltou a receber investimentos, principalmente após o melhoramento dos clones e técnicas de vinificação. Também há boas opções de vinhos Cabernet Sauvingon, Merlot e Tempranillo, entre outros. Entre as cepas brancas, a Torrontés se destaca ao lado da Sauvingon Blanc. Também são cultivadas Chardonnay e Semillon.
Uma das coisas mais fascinantes em Mendoza é o sistema de irrigação das vinhas. A técnica, adotada pelo povo Inca, primeiros habitantes da região, aproveita a água do derretimento da neve. A água do degelo é canalizada para todas as direções e abastece também a área urbana.

A melhor época para conhecer Mendoza
O período entre outubro e abril é considerado o melhor para visitar Mendoza – desde a temporada de plantio até a colheita. A primavera (outubro e novembro) e o outono (março e abril) são quentes, e ao mesmo tempo, frescos, cheios de cores, temperaturas em torno de 22ºC. Durante esse tempo, as atividades nas vinícolas estão à tona, e aventuras ao ar livre estão em temporada de pico. A época é também apelativa por contrastar com o gelado inverno do Hemisfério Norte.

Brasileiros fazendo seu próprio vinho

Quem visita Mendoza, sem dúvida, fica encantando e com vontade de voltar, principalmente pelas paisagens e pelos bons vinhos. Aos mais aficionados pela bebida é possível ter seu próprio vinhedo e elaborar o vinho. Foi o que aconteceu com Glauber Pezzin e Luiz Carlos Cattacini Gelli e outros sete amigos. “Depois de uma viagem a Mendoza, em 2010, ficamos encantamos pelo projeto Private Vineyard Estates e iniciamos um processo de aproximação com o sócio-proprietário Pablo Gimenez Riili”, conta Pezzin. O The Private Vineyard Estates é um projeto audacioso no Vale de Uco próximo a Cordilheira, com altitude média de 1.000m e grande amplitude térmica diária. O projeto consiste basicamente em vender lotes preparados para vitivinicultura com irrigações próprias, onde os proprietários podem plantar as variedades de uvas que desejam, tendo total apoio da vinícola do condomínio para plantio e manutenção do vinhedo, colheita, vinificação, corte e engarrafamento. O grupo possui uma área de pouco mais de 1,5 hectare, 100% de uva Malbec, denominado Viña Avanti (nome do vinhedo).
“A primeira colheita aconteceu em 2013. Em novembro passado provamos o vinho e tivemos uma surpresa muito agradável, pois a safra 2013 foi muito especial. Fizemos testes com alguns cortes, mas o que melhor expressou o terroir local foi mesmo o Malbec e mantivemos as três barricas com 100% Malbec”, explica Pezzin, que complementa: “Estamos iniciando as atividades como proprietários de um vinhedo e ainda temos muita estrada pela frente e muitas decisões a tomar. Com o passar dos anos o vinhedo vai adquirindo maturidade e fornecendo safras maiores, o que faz com que tenhamos de dar um destino comercial para eles, pois com um potencial de produção futuro de 10 mil garrafas não vamos conseguir beber tudo”, brinca, aos risos, Pezzin.
“Quando fui convidado a participar deste grupo de sócios não levei a sério, só dei retorno positivo quando descobri que o vinhedo estaria localizado em Mendoza. Não apenas pela quantidade de vinícolas, mas pelos contrastes, frio, calor, deserto, falta de chuva, neve. É muita energia”, afirma Gelli.

Grupo de brasileiro acompanha todo o ciclo do vinhedo.
Grupo de brasileiro acompanha todo o ciclo do vinhedo.

 

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