Família do interior de Garibaldi vive de produção colonial: cultiva
frutas e hortaliças e produz massas e pães caseiros
Gesiele Lordes
Em dias de chuva, quando é difícil se dedicar aos cultivos de laranja, pêssego, amora, morango, alface, rúcula e uva, Luiz Carlos Postingler, 48 anos, ajuda sua esposa, Jaquelines Debiasi, 46, na cozinha. Além das refeições, é ali que funciona o segundo núcleo de negócios da família, onde são produzidos grostolis, massas, bolos e pães. Tanto as massas quanto as frutas e verduras são os produtos que geram a renda da família, que nunca deixou a colônia.
Ao lado de seu irmão, Tranquilo, Luiz Carlos mantém vivo o contato com a terra, cultura herdada de família no município de Garibaldi. Ainda criança aprendeu o valor do produto da colônia que, quando não era comercializado, servia como moeda de troca com os vizinhos. Na juventude, chegou a ficar em um seminário de Fazenda Souza, interior de Caxias do Sul, durante dois anos, mas sua vocação era outra. Entre os futuros padres, ficou responsável por cuidar da horta.
Depois disso, seus investimentos pessoais e financeiros sempre foram destinados à lavoura. Em 2002, quando os cuidados com o meio ambiente e com uma vida mais saudável já ganhavam força, ele tentou, durante quatro anos, cultivar a uva Isabel sem agrotóxicos, mas a tentativa não prosperou. A videira começou a produzir menos a cada safra e, ao fim do período, a colheita que antes chegava a 15 mil quilos caiu para dois mil. Nem mesmo o valor recebido por quilo, que dobrava quando não havia agrotóxicos, era suficiente para compensar tamanha diferença.
Diante da experiência, Postingler concluiu que se talvez a parreira fosse tratada desta forma desde o início pudesse vingar – a videira que ele tratou sem agrotóxicos já tinha 20 anos. Escolher outra variedade também poderia ser uma alternativa, porém ele acredita que não poderia começar do zero novamente, já que são quase três anos de espera até a primeira colheita. Sem desistir de produtos mais saudáveis, o agricultor passou a diminuir a dosagem de produtos nas plantações, aumentando a quantidade de água na aplicação. “Se é 10 ml para 100 litros, coloco 5 ml para 100 litros, por exemplo. E tem a carência. Se é de sete dias, respeito ou fico um dia, dois a mais”.
A atitude, explica ele, não chega a lhe render mais lucros de forma direta, mas além da maior durabilidade do agrotóxico, estreita relações com clientes. “O pessoal ganha mais confiança”, afirma. Além de vender em feira no Centro de Garibaldi, Postingler abastece dois restaurantes em Caxias do Sul e vende as uvas para cantinas de Bento Gonçalves.
Para cuidar da propriedade familiar no futuro, Postingler espera que o entusiasmo do caçula Gabriel, de 8 anos, perdure. “Fala em ir para a roça ele fica louco”, diz o pai. “Mas temos que ver daqui uns anos”, completa Jaquelines, que já sabe que a filha mais velha, Jéssica, 17, pretende ser professora.