O mercado brasileiro de vinhos e espumantes movimentou, em 2024, mais de R$ 19 bilhões, sendo comercializados 455,8 milhões de litros, incluídos os produtos nacionais e importados, um crescimento de 7,9% em relação a 2023. Os dados são da Ideal BI, que realiza estudos e monitora o mercado brasileiro, e foram apresentados por Diego Bertolini, da Venda + Vinhos, durante a Wine South America.
Apesar do avanço em relação ao ano anterior, os números continuam abaixo do recorde de 2020, quando o consumo no país atingiu 501,7 milhões de litros. Entre os destaques de 2024, está a forte presença dos vinhos de mesa nacionais, que responderam por 58,4% do volume, mas representaram apenas 29% do valor total de mercado. Bertolini frisa que estes são os volumes disponibilizado pelas vinícolas para o varejo e de internalização das importações para distribuição.
O crescimento do mercado no ano passado foi impulsionado pelo crescimento dos vinhos importados, com alta de 10%, vinhos de mesa nacional, com 9%, e espumantes brasileiros, com 3%. Por outro lado, o champanhe e espumantes importados tiveram uma redução de 4% e os vinhos finos nacionais caíram 3%.
O Chile manteve a liderança entre os países exportadores para o Brasil, com 35% de market share, seguido por Brasil (25%), Portugal (13%), Argentina (13%) e Itália (10%). Apenas o Chile cresceu 16% no mercado brasileiro, com Portugal e Itália também se destacando com crescimentos de 9% e 10%, respectivamente. Argentina e Brasil tiveram um aumento modesto de 3% e 1%.
Segundo Diego Bertolini, os espumantes moscatéis superaram em volume os tradicionais brut, nature e extra brut. Ao todo, foram comercializados 37,2 milhões de litros de espumante no Brasil em 2024 – o equivalente a um pouco mais de 40 milhões de garrafas. Os produtos nacionais abarcam uma fatia de 81,5% do mercado brasileiro.
De 2017 para 2024, os vinhos brancos e rose aumentaram significativamente sua participação no mercado, – o branco de 20% para 26% e o rose de 4% para 8%. Consequentemente, os vinhos tintos reduziam de 76% para 67% do total consumido.
Um olhar ampliado para o mercado latino-americano mostra que o Brasil recebe 64% das importações que chegam neste continente. Isso desperta atenção dos grandes exportadores, principalmente da União Europeia, que tem sofrido com as barreiras impostas pelos Estados Unidos. Colômbia e Paraguai respondem 10% e 8% das importações no continente sul-americano.
Tamanho do mercado
Com base em informações obtidas na comercialização de produtos nacionais e nas importações de vinhos e espumantes, a IDEAL BI estima que o mercado brasileiro de vinhos e espumantes representa 2% do PIB nacional, atingindo um volume comercializado de R$ 19,35 bilhões.
MERCADO DE VINHOS EM 2024* | |||
CATEGORIA | VOLUME GARRAFAS | PREÇO MÉDIO RETAIL R$ | MERCADO EM R$ |
Vinho de mesa NACIONAL | 326.242.825 | 17,21 | 5.614.639.012 |
Vinho Fino NACIONAL | 28.897.668 | 25,09 | 725.042.488 |
Vinho Fino IMPORTADO | 203.086.219 | 53,7 | 10.905.729.952 |
Espumante IMPORTADO | 9.174.675 | 67,85 | 622.501.731 |
Espumante NACIONAL | 40.352.997 | 36,87 | 1.487.814.988 |
TOTAL | 607.754.384 | 31,85 | 19.355.728.171 |
*Elaborado por IDEAL BI com base nas importações e vendas de produtos nacionais |
Neste contexto, a maior fatia do mercado, fica com os vinhos importados, que comercializando um pouco mais de 200 mil garrafas de vinhos atingem R$ 10,9 bilhões e representando 56% em valor do mercado brasileiro.
Avaliações do mercado
Durante a Wine South America, diversas lideranças e profissionais do setor se manifestaram otimistas em relação ao desenvolvimento do mercado. O presidente da Uvibra e vice-presidente do Consevitis, Daniel Panizzi declarou que os espumantes brasileiros são “a cereja do bolo” por sua ótima relação preço/qualidade. “É o produto pelo qual nos apresentamos no mercado externo” revelou.
Panizzi também citou o suco de uva como importante produto da vitivinicultura, tanto para o mercado interno como para exportações, e, ainda, relembrou os impactos ao enoturismo – setor essencial para o fortalecimento do consumo local e para a valorização dos vinhos brasileiro -, prejudicado pela catástrofe climática no Rio Grande do Sul, em 2024.
O gerente executivo da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), Francisco Schmidt destacou que mais de 70% das vendas de vinhos no país ocorrem nos supermercados. “Enquanto muitos restaurantes tiveram dificuldades, durante a pandemia, o canal supermercadista permaneceu atendendo e suprindo a demanda das famílias, cujo consumo doméstico aumentou”, revelou.
Segundo avalia Schmidt, existe um baixo número de vinícolas com quantidade suficiente para atender o maior canal varejista. O grande consumo, no supermercado, está na faixa dos R$ 20 a R$ 30, podendo chegar a R$ 50 por garrafa. “Precisamos de mais vinícolas com produção para entrar no supermercado” declarou o dirigente da AGAS.
Schmidt também citou a produção de vinhos branco e rose brasileiros com bom potencial de mercado, revelando que o consumo destes produtos cresce entre os clientes mais jovens.
Para Caroline Dani, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul (ABS-RS), é preciso continuar a investir na formação do mercado, promovendo informação e educação ao consumidor. “A apropriação de conhecimento é melhor caminho para expandir este mercado”, disse. Para ela, quando a pessoa “passa a conhecer o vinho, passa a gostar, querer mais informação e provar novos produtos”.
Pedro Hoffmann, membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), destacou a necessidade de treinar profissionais da gastronomia para melhorarem a gestão de cartas de vinhos e estimularem a criatividade com drinques à base de vinho. “A comida melhora o vinho e vice-versa, precisando ser estimulado até mesmo nas hamburguerias”.
Hoffmann e Bertolini anunciaram durante o painel que a Abrasel e a Venda+Vinhos estarão trabalhando juntos em projeto de qualificação e treinamento do serviço do vinho.
Orlando Pinto Rodrigues, da Associação Brasileira de Importadores e Exportadores de Alimentos e Bebidas (BFBA), defendeu a modernização dos rótulos, principalmente para atrair o público jovem. “Há os vinhos tradicionais, de regiões demarcadas, mas os rótulos dos demais vinhos precisam ser mais alegres e chamativos”, opinou.
Para Rodrigues, o maior entrave ainda é o poder aquisitivo da classe média e a carga tributária elevada. Ele também criticou a legislação que permite a entrada de até 16 garrafas de vinho por passageiro em viagens internacionais, o que desestimula o consumo local.
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