Regra número um para agricultores é a obtenção de mudas em viveiristas com registro vigente no Ministério da Agricultura
A vitivinicultura da Serra Gaúcha está em constante transformação. Atualmente, têm sido prática comum a renovaçãode vinhedos por diversos motivos, especialmente fitossanitários e econômicos. Quanto aos fitossanitários, destacam-se os parreirais condenados em função do “declínio e morte de plantas”. Já os econômicos, tratam da inserção de novos clones de maior interesse vinícola e a modificação da matriz produtiva (transição agroecológica, por exemplo).
Qualquer que seja o motivo da renovação, definindo-se a cultivar, inicia a busca da muda e preparo da área. Estas serão as etapas mais importantes ao longo daexistência do parreiral. Atualmente, diversos trabalhos científicos vêm mostrando que a muda é o agente transmissor de diversos agentes fitopatogênicos limitantes à cultura. Já o preparo da área é o momento ideal para o manejo específico quando há o histórico de ocorrência de insetos praga (como a pérola-da-terra) ou fungos fitopatogênicos de solo (como Fusariumspp).
Apesar da importância destas etapas, ainda se observa que existe um grande problema de planejamento, pois muitos produtores decidem renovar seu vinhedo no mesmo ano em que realizarão esta ação. No entanto, esta estratégia apresenta um elevado risco de insucesso. O produtor apressado acaba ignorando atividades essenciais para uma ideal renovação do vinhedo, sendo que, a aquisição ou formação das mudas com foco na qualidade representa um fator crucialno sucesso do novo vinhedo.São clássicos os trabalhos que mostram o aumento de °Brix pelo uso de materiais vegetais provenientes de programas de limpeza viral. Assim como o aumento da longevidade produtiva das plantas quando não são introduzidos, junto às mudas, fungos fitopatogênicos e pragas.
Atualmente, é cada vez mais comum relato de áreas com a chamada “morte precoce de vinhedos”. Em geral, esta morte ocorre em vinhedosde até três anos. Os sintomas são plantas com desenvolvimento lento e atrofia que definham até a morte. A consequência é obrigatoriedade de outra renovação, acarretando em novo custo. Apesar das causas que determinam esta morte serem múltiplas, já se sabe que a muda com baixa qualidade é determinante (Foto 1). Portanto, diante de um cenário em que a margem de lucro do produtor é cada vez mais estreita, o momento pede cada vez mais a adoção de práticas fundamentadas na qualidade do material propagativo. A muda com qualidade só será obtida a partir de uma mudança radical de conceitos, onde o produtor deverá primar pela excelência na execução das atividades relacionadas à aquisição ou formação da sua muda.
O que é a muda com qualidade
O termo qualidade, quando relacionado a mudas, refere-se essencialmente a três itens: identidade varietal, padrão agronômico e garantia fitossanitária. A identidade varietal significa que o material vegetal utilizado na formação da muda provém de uma única planta-matriz. E esta deverá apresentar as características genéticas esperadas para a cultivar de interesse.
Já o padrão agronômico trata da normalidade morfológica, fenológica e produtiva do material vegetal. Ou seja, a planta gerada a partir da muda, não deverá apresentar anormalidades no futuro vinhedo. Esta anormalidade poderá ser derivada tanto da origem do material de propagação (planta-matriz) como no processo de formação da muda (na enxertia, por exemplo) (Foto 2).
Finalmente, a garantia fitossanitária, trata da presença de agentes biológicos fitopatogênicos que possam determinar um parreiral com elevado risco de morte ou introduzir pragas em áreas livres. Atualmente, em função da inexistência de legislação adequada para regulação da qualidade sanitária de mudas de videira, torna-se difícil a exigência por esta garantia. Porém, a elevada disponibilização de mudas com baixa qualidade fitossanitária é hoje, um dos maiores responsáveis pela perda sistemática de competitividade emáreas vitícolas. Por este motivo, será sobre o aspecto fitossanitário a base sobre o qual serão descritos os cuidados para aquisição de mudas em de viveiros, ou sua formação na propriedade.
Por Daniel Santos Grohs
Analista da área de transferência de
tecnologias da Embrapa Uva e Vinho
Investir no que o consumidor busca
Sérgio Bottin, agricultor de Pinto Bandeira, implantou nove hectares de vinhedos nos últimos dois anos. Associado da Cooperativa Aurora, Bottin optou pela Chardonnay, tendo em vista o aumento do interesse dos consumidores principalmente pelos espumantes. “Temos que plantar o que o consumidor exige”, diz. Outro motivo para investir nessa variedade foi porque sua área em Pinto Bandeira está localizada a cerca de 740 metros de altitude, ideal para essa casta pelo terroir, especial para espumantes.
Bottin sabe muito bem da importância de se investir em mudas de qualidade. Ele conta que no ano passado das cinco mil implantadas poucas deram problema e hoje se mostram vigorosas. “A vantagem de plantar muda boa é que podemos já colher na segunda brotação”, diz Bottin. As mudas foram enviadas ao agricultor pela cooperativa. Parte delas provém de viveiros próprios e parte de um viveiro comercial, mas devidamente credenciado. “O viveirista precisa ser idôneo e confiável”, diz o engenheiro agrônomo da Aurora, Lidovino Bavaresco. Além de mudas de qualidade, Bavaresco diz que é muito importante preparar adequadamente o solo, fazendo a limpeza da área e analisando o solo corrigindo o que for necessário.
Por Andréia Debon
andreia@editoranovociclo.com.br
Cuidados na aquisição de mudas em viveiros comerciais
A regra número um é obtenção de mudas em viveiristas que possuam registro em plena vigência no Ministério da Agricultura. A relação dos viveiristas registrados pode ser obtida no sítio do Ministério da Agricultura: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/renasem/.
Porém, mesmo em viveiristas registrados, o produtor rural deverá estar atento a alguns critérios, referentes à qualidade do serviço prestado pela empresa. O produtor deverá se informar sobre o histórico de materiais disponibilizado pelo viveirista e sua relação com clientes. Para tanto é conveniente visitar o viveirista pretendido, assim como, áreas comerciais implantadas com mudas formadas a partir deste. O produtor deverá ter em mente que a busca pelo viveirista profissional deve-se a critérios técnicos e não por preço. Valores de mudas muito abaixo dos normais praticados pelo mercado devem ser vistos com desconfiança. Em função do tempo necessário para este levantamento, recomenda-se que o produtor inicie o processo dereserva do material com a antecedência mínima de um ano. Produtores que deixam para adquirir suas mudas no ano em que irão formar/renovar seu parreiral correm sérios riscos de não conseguirem obter em viveristas registrados. O resultado é a aquisição de mudas em viveiros sem registro, cuja procedência do material é questionável.
Visita ao viveirista
A visita ao viveirista candidato é necessária para o conhecimento do sistema de produção desenvolvido por este e a qualidade da muda comercializada. Assim, alguns critérios práticos para avaliação visual da qualidade da muda podem ser utilizados. Esta análise deverá ser direcionada principalmente às regiões do enxerto, porta-enxerto e raízes, conforme descrito a seguir:
Mudas com qualidade apresentam uma aparência morfológica visual bem definida. Em geral, apresentam copa e porta-enxerto com diâmetros similares, as raízes devem estar podadas no máximo até 10 cm, o porta-enxertodeverá ter entre 28 a 30 cm e a copa deverá ter, no mínimo, duas gemas.
A região da enxertia é um dos pontos mais importantes a ser observado. Enxertos grossos, proeminentes, com fissuras, soldagem falhada entre a cultivar copa e o porta-enxerto, devem ser imediatamente rejeitados (Foto 3). Da mesma forma, efetuando-se corte transversalna região da enxertia, ao observarem-se necroses escuras, existe elevado risco de ter ocorrido infecção fúngica. Especialmente, dos fungos que incidem através dos ferimentos causados pela enxertia (como os causadores da “morte descendente da videira”) (Foto 4).
Quanto ao porta-enxerto, algumas cultivares podem ser indicadoras de vírus, especialmente em relação aos vírus causadores do “complexo rugoso da videira”. O porta-enxerto, quando infectado, pode apresentar aspecto de engrossamento e fendilhamento da casca, além de caneluras (ranhuras no lenho, sob a casca) (Foto 5). Apesar do Paulsen 1103 ser um bom indicador destes vírus, nem todos porta-enxertos expressam os sintomas com a mesma intensidade. Cabe destacar que, existemmuitos outros vírus que podem estar presentes na muda, sem expressar sintomasno porta-enxerto ou com sintomas perceptíveis apenas em algumas cultivares copa mais sensíveis. Da mesma forma, fungos associados ao declínio e morte de plantas podem, analogamente aos vírus, estar latentes em tecido sadio do propágulo. Aliás, sempre se deve ter em mente que tanto para viroses e quanto para podridões radiculares e vasculares, a principal medida de controle, sustentável e de baixo custo, é baseada na exclusão de material infectado de áreas de produção.
Já as raízes são uma boa região para observação da incidência de fungos. O escurecimento e apodrecimento do colo da planta, avançando para o sistema radicular, devem ser rejeitados, pois há risco de presença do fungo causador do pé preto. Da mesma forma, efetuando-se o corte no tronco da muda, a coloração dos tecidos vegetais deverá ser verde-amarelada. A presença de lesões, pontuações marrom escuras a pretas, necroses e estrias longitudinais negras são indicadoras da ocorrência de fungos de madeira, especialmente aqueles responsáveis pela Doença de Petri. Em relação as raízes, vale destacar a controversa opção de muitos produtores por mudas com raízes vigorosas e grossas com a falsa noção que seu estabelecimento será mais rápido na área definitiva. Raízes mais grossas, ao serem podadas, determinam maiores ferimentos e, consequentemente, maior exposição a fungos fitopatogêncios, especialmente aqueles causadores da Fusariose. A muda depende de uma quantidade mínima de raízes, sendo recomendado que apresente pelo menos três raízes de espessura mediana.
Quanto a incidência de insetos, que podem vir a ser transmitidos com a muda, a melhor observação é realizada antes da poda das raízes. Neste caso, a presença de nodosidades, tuberosidades e hipertrofias devem ser observadas, pois são sintomas relacionados à ocorrência de filoxera ou fitonematóides. Também, não deve ser adquirido material na forma de torrão, devido ao risco de contaminação por pérola-da-terra. Porém, assim como para vírus, a melhor verificação se dará ao longo do período vegetativo.Estruturas de ácaros e filoxera podem estar ocultos sob as cascas do tronco da muda, porém são de difícil observação visual. Recomenda-se ao produtor uma visita aos canteiros de produção das mudas ou campo de matrizes do viveirista. Este será o melhor momento para verificara qualidade fitossanitária da futura muda, quando os múltiplos sintomas poderão ser facilmente percebidos em toda a planta, especialmente nas folhas (Foto 6).
A relação produtor-viveirista será estratégica nos próximos anos, dado o seu peso no processo produtivo. A escassez de mão-de-obra no campo, para formação de mudas na propriedade, tende a tornar crescente o processo de aquisição da muda pronta. Da mesma forma, a aplicação de programas governamentais, focados na melhoria da qualidade dos materiais vegetais só será viável se concentrado junto aviveiristas preocupados com a sustentabilidade do setor.
Foto 2: Porta enxerto com anormalidade morfológica no tronco.
Foto 3: Soldagem de exerto em muda com baixa qualidade.
Foto 4: Enxerto infectado por fungo de madeira.
Foto 5: Enxerto infectado por vírus do complexo rugoso.
Foto 6: Raiz infectada por fungo.
Cuidados na formação de mudas na propriedade
A produção de mudas na propriedade é uma atividade tradicional na região da Serra Gaúcha. É constituída pelas etapas de estaquia (produção do porta-enxerto) e enxertia (formação da muda). Em geral, entre a segunda quinzena de julho e o final do mês de agosto, concentra-se a enxertia lenhosa ou de inverno.
De modo geral, enxertadores com experiência, realizam a enxertia de forma eficiente, resultando em plantas uniformes e com elevado percentual de mudas efetivas. Porém, nas situações em que enxertadores não têm prática necessária, ocorrem danos que muitas vezes levam a perda total da área. Assim, o primeiro ponto a ser considerado na formação da muda na propriedade é a experiência do enxertador. O produtor que precise de auxílio profissional para esta atividade deve fazer sua requisição com antecedência, pois hoje, bons enxertadores são escassos.
O processo de formação da muda, quando o porta-enxerto já se encontra enraizado na área definitiva, pode ser subdividido em: coleta de gemas da variedade copa, execução da enxertia e proteção do enxerto.
Na coleta, o produtor deverá selecionar ramos da planta-matriz bem lignificados, com diâmetro entre 0,8 e 1,2 cm, que não tenham entre nós demasiadamente curtos ou longos. Destaca-se que, a coleta do material deverá ser mais próxima possível da enxertia, evitando-se a desidratação das gemas. As melhores gemas são aquelas posicionadas na região mediana do ramo (Foto 7), rejeitando-se a gemas “cegas” (Foto 8). No preparo do garfo (com uma ou duas gemas), a região do corte (tanto superior quanto inferior) não deverá apresentar ferimentos (Foto 9) ou doenças (Foto 10).Qualquer abertura ocasionada no garfo aumentará o risco de infecção por fungos, resultando em ressecamento ou necroses (Foto 11).
Quanto a enxertia e proteção do enxerto, em geral, na Serra Gaúcha, utiliza-se a garfagem no topo de fenda cheia. Os maiores cuidados neste momento recaem sobre a qualidade da soldadura entre a gema copa e o porta-enxerto. Para uma ideal soldadura, a cunha do garfo deve apresentar o mesmo comprimento da fenda do porta-enxerto (entre 3 e 4 cm). Após, deve-se amarrar firmemente o enxerto com filme plástico ou vime. A proteção do enxerto e da gema é feita com serragem curtida e úmida, envolvida por estrutura plástica. A serragem objetiva apreotação da gema contra o ressecamento e as geadas tardias. O uso de terra na proteção do enxerto não é recomendado em função do risco de contaminação da planta por fungos incidentes neste solo. Da mesma forma, o uso de canivete não desinfestado, também contribui para propagação de doenças. O uso de solução de Hipoclorito de Sódio (água sanitáriaà 2,5%), na dose de 2 a 3 mL por litro de água, na desinfestação de tesouras e canivetes, é um hábito simples que o enxertador deve ter como obrigação.
Porém, o ponto de maior importância na formação da muda é a obtenção do material de propagação. Habitualmente,por conveniência, o produtor adquire as gemas da variedade de interesse em áreas de vizinhos. Ainda são poucos os produtores preocupados com a seleção sanitária de plantas matrizes. Em geral, produtores selecionam as plantas-mães apenas no inverno,imediatamente antes da enxertia. Neste caso é impossível determinar as qualidades genéticas, agronômicas e sanitárias destas plantas.
Novamente, produtores que queiram produzir suas próprias mudas devem evoluir seu grau de profissionalismo. O processo de formação da muda inicia com a prospecçãoagronômica-sanitáriade matrizes,pelo menos um ano antes. Porém, mesmo com um bom conhecimento técnico, muitas doenças são de difícil diagnose visual, especialmente no que se refere a incidência de vírus em variedades americanas. Para tanto, o produtor deve buscar áreas que tenham sido formadas a partir de materiais vegetais produzidos a partir de programas de limpeza viral ou avaliada quanto a sua atual situação fitossanitária.
Assim, apesar da formação da muda na propriedade ser possível e reduzir custos na produção, é uma atividade de elevada complexidade. O produtor é o responsável direto por todas as etapas de produção da muda.O produtor interessado em manter este sistema, deve estar continuamente em busca do conhecimento atualizado. A diversidade de fatores que levam a renovação de áreas trouxe a necessidade de aplicação de novas tecnologias que, no passado, não tinham o mesmo peso de hoje.
O papel da pesquisa na promoção da muda com qualidade
A formação da muda com qualidade só é viável com o apoio de instituições científicas. São plantas matrizes, formadas a partir de programas que visam obter plantas com características agronômicas e fitossanitárias superiores, e que formam parreirais produtivos. Em função do dano irreversível causado pelos vírus na cultura da videira, a Embrapa Uva e Vinho tem atuado nesta área. Historicamente, com um sólido programa focado nas culturas da uva, maçã e pêra,tem dirigido esforços para a remoção dos principais vírus incidentes.
Atualmente, este programa vem adquirindo nova dimensão, desenvolvendo ferramentas de diagnose que possibilitam ganho de tempo e qualidade na caracterização e limpeza de materiais vegetais. Da mesma forma, diante de novos desafios, outros agentes fitopatogênicos passam a ser considerados no processo de produção da muda. Agrega-se assim, inovação na obtenção destes materiais vegetais, considerados de qualidade superior.
Finalmente, associado a geração destes novos materiais, um novo modelo de transferência passa a ser aplicado junto a parceiros como: viveiristas, associações, cooperativas, assistência técnica e vinícolas. Todos formando o elo entre a pesquisa e o produtor rural. A corresponsabilidade do parceiro, pela manutenção da qualidade das plantas matrizes, será a chave para o êxito. Não há forma de aumentar a qualidade da muda utilizada nos parreirais gaúchos se o setor produtivo não agir de forma solidária e alinhada a esta estratégia.
Foto 7: Gema ideal para enxertia.
Foto 8: Gema cega.
Foto 9: Gema com ferimentos.
Foto 10: Gema infectada por escoriose.
Foto 11: Gema infectada por fungo vascular.
Respostas de 2
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