Publicação da Emater traz em suas páginas a força e garra
daquelas que hoje fomentam propriedades familiares do interior
Exemplos de determinação, trabalho e superação. É cada vez mais alto o número de mulheres que assumem seus próprios negócios, enfrentam e vencem o mercado e a cultura – muitas vezes preconceituosa, inclusive em comunidades interioranas de municípios gaúchos, aumentando o número de agroindústrias familiares, qualificando a produção local e a qualidade de vida no interior. Com o intuito de valorizar ações como estas, a Emater RS – Ascar lançou durante a 37ª Exposição Internacional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários (Expointer), em Esteio, o livro ‘As mulheres na agroindústria familiar no Rio Grande do Sul – Participação e Sustentabilidade’. Com a presença de autoridades do setor, 16 mulheres receberam a homenagem e tiveram suas histórias retratadas nas páginas da obra em forma de depoimentos e fotos. Da região, duas agricultoras fazem parte da publicação: a agroindústria Doces Silber, de Flores da Cunha, com a empreendedora Maria Aparecida da Silva Bernardi e, de Pinto Bandeira, a Sabores da Montanha, à frente dela Cirley Lorenzati.
A obra, organizada pelas extensionistas Bruna Brezolin, Magda Limberger Tonial e Leila Ghizzoni, com fotografias de Rogério Fernandes, conta histórias de trabalho, dedicação e superação de mulheres agricultoras e empreendedoras que estão à frente de agroindústrias familiares gaúchas. “O processo de gestão está sob responsabilidade das mulheres em 42% dos empreendimentos assistidos pela Emater”, relata Magda.
Sobre a escolha das histórias que compõem o livro, Magda explica que foram utilizados alguns critérios, visando mostrar a diversidade deste público. “Procuramos englobar produtoras de todas as regiões administrativas da Emater, que processassem diferentes matérias-primas e que representassem os variados públicos assistidos pela Instituição, como quilombolas, assentadas da Reforma Agrária e agricultoras familiares”, explica Magda.
O objetivo da obra é simples, mas de grande importância: valorizar o trabalho da mulher na agroindústria familiar e analisar como as políticas públicas têm chegado até elas, podendo, desta forma, qualificar a atuação de órgãos como a Emater. “O trabalho destas mulheres nas agroindústrias é importante, pois ele gera emprego e renda no meio rural, promove o resgate da cultura e auxilia na permanência do jovem no campo”, destaca Magda. O lançamento do livro ocorreu no dia 4 de setembro. Para o presidente da Emater gaúcha, Lino De David, a inserção das mulheres rurais no processo econômico-produtivo as torna cidadãs, que passam a ser reconhecidas como tais pela sociedade. “Que o registro destas histórias sirva de exemplo para outras pessoas”, motiva o presidente.
De Pinto Bandeira, a Sabores da Montanha
Desde 2008 a propriedade da família Lorenzati, no interior de Pinto Bandeira, tem uma rotina diferente. Isso porque a agroindústria Sabores da Montanha, que tem como mentora Cirley dos Santos Lorenzati, 56 anos, está ganhando espaço e sendo cada vez mais lembrada pelos consumidores. A produção de frutas desidratadas como a maçã, pêssego, pêra, banana, abacaxi, caqui e marmelo, somam-se com o tomate seco, compotas e geleias de diversos sabores e combinações, como a adição de pimenta e as opções sem açúcar. A criatividade e competência de Cirley são referência na região e determinaram sua participação no livro promovido pela Emater.
Com uma vontade sempre presente de investir em um negócio próprio, Cirley contou com o suporte da Emater de Bento Gonçalves, que proporcionou uma visita em outra agroindústria de Antônio Prado, onde era feita a desidratação em estufa com ervas medicinais para chás. Obedecendo a norma de que uma agroindústria deve ter no mínimo 70% da matéria-prima de produção própria ou adquirida de outros agricultores, Cirley adequou a agroindústria conforme a produção da família. Hoje ela compra apenas abacaxi e banana, além da maçã que vem de outro agricultor, o restante é produção própria. A agroindústria Sabores da Montanha está inserida na Lei Federal que obriga a presença de 30% de produtos da agricultura familiar na merenda escolar. Com isso, boa parte das maçãs desidratadas da agroindústria segue para escolas do município.
Além das escolas municipais, a Sabores da Montanha dá um gostinho diferente ao lanche de mais três escolas estaduais de Pinto Bandeira e Bento Gonçalves. A produção é vendida em feiras e lojas especializadas, sempre com a ajuda do marido Antoninho Lorenzati e dos filhos Otávio e Moisés. Para o futuro apenas uma ideia: ampliar. “Começando pelas variedades das geleias sem açúcar, além dos molhos especiais. Ideias não me faltam”, complementa Cirley, que está sempre em busca de novos sabores para seus produtos. “Para começar uma agroindústria não pode ter preguiça, tem que trabalhar, buscar a profissionalização e sempre querer mais qualidade. Fiz muitos cursos, mas sempre busquei inovar nos produtos, como, por exemplo, a geleia sem açúcar que hoje é meu carro chefe junto com as frutas desidratadas”, destaca a produtora. A participação no livro da Emater foi um pequeno passo perto de tantas vitórias de Cirley. “Eu não imaginava que seria tão bonito e emocionante. Esse livro foi realmente muito importante e, para mim, ficou muito gravado na memória. Jamais me vi da maneira como vi naquele dia, é um incentivo para crescermos sempre mais”, valoriza a empreendedora.
De Flores da Cunha, a Doces Silber
É no Travessão Carvalho, no distrito de Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, que uma fruta um tanto diferente para a região encontrou terras férteis e mãos dispostas a trabalhar. O mirtilo, uma pequena fruta, menor que um grão de uva, e que quando madura fica na cor da jabuticaba, é o carro chefe da agroindústria Doces Silber, criada pela agricultora Maria Aparecida da Silva Bernardi, 45 anos. Com produção de geleias, compotas e frutas cristalizadas desde 2010, a Doces Silber foi a primeira agroindústria formalizada em Flores da Cunha, contando quase que na totalidade com produção da matéria-prima própria e selos de qualidade como o Sabor Gaúcho e o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf). Com dedicação e o auxílio do marido Luiz Bernardi, e dos filhos Antônio Luis e Carlos Henrique, hoje a agroindústria representa cerca de 50% da renda da família e conta com muitos projetos de ampliação.
O plantio do mirtilo iniciou com a ideia de vender a fruta in natura, o mercado, infelizmente, não respondeu como o esperado e muitas frutas foram para o lixo. Maria começou a produzir geleia de mirtilo que presenteava amigas ou vendia a um preço simbólico. Aos poucos a fama do doce foi crescendo e a ideia de uma agroindústria bateu na porta da família. “Participei de muitas palestras e tudo foi me dando suporte para abrir o negócio. Conseguimos financiamentos que incentivaram e montamos a primeira parte da agroindústria. Lembro que para participar pela primeira vez na Expointer compramos um carro com cheques pré-datados, pois não tínhamos como comprar. Mas a feira pagou o carro e isso foi motivo suficiente para seguirmos, além de motivar meus filhos a permanecerem na colônia”, conta Maria, que agora já adquiriu um novo automóvel, maior e mais confortável para a entrega dos produtos.
No portfólio da Doces Silber estão geleias de goiaba, amora, marmelo, figo, uva, pêssego e, claro, o mirtilo. São comercializadas ainda frutas cristalizadas e compotas, destinadas para lojas de produtos naturais, coloniais e artesanais na região, Porto Alegre, Santa Catarina e São Paulo, além das feiras. Os próximos passos do negócio são a instalação da câmara fria, que já foi adquira, e a construção de uma estufa para desidratar frutas. Sobre a participação no livro, Maria se emociona e conta que, embora sejam histórias e produtos diferentes, as dificuldades foram as mesmas para todas. “Foi muito emocionante ver tantos exemplos de coragem e eu estava junto. Não importa o tamanho da publicação, mas a valorização do nosso trabalho. Somos todas exemplos e, graças a Deus, de sucesso”, valoriza Maria. A produção de mirtilo da propriedade chega a 6 mil quilos.
Por Camila Baggio
camila@editoranovociclo.com.br
Uma resposta
Gostaria de saber…como faço para comprar estes produtos…pois vou trabalhar com cestas de café… como faço para entrar em contato??? obrigada….