Conheça a história de duas agricultoras que tem orgulho em
trabalhar com a terra e são referências de trabalho e superação

Larissa Verdi
larissa@editoranovociclo.com.br

O trabalho na agricultura exige força e conhecimento. Mesmo quando as famílias eram tão numerosas que enchiam as mesas de jantar, as mulheres desempenhavam papel fundamental para dar apoio ao trabalho na terra, cuidar dos filhos e da casa sem nunca deixar de serem mulheres. A sensibilidade feminina, onde os traços delicados e os braços provaram ao longo da história a sua importância, conquistaram um espaço definitivo. Mulheres que com muito orgulho superaram obstáculos, criaram suas famílias e ajudaram na construção das comunidades. A seção ‘Agricultor, com Orgulho’ desse mês do A Vindima traz  a história de duas mulheres, uma de Nova Pádua e outra de Antonio Prado, que são exemplo da bravura das mulheres que trabalham na colônia.

Apoio dos filhos e da comunidade, oração e trabalho

Em um vale no Travessão Bonito, interior de Nova Pádua, é que Edite Inês Tonet Panizzon, 56 anos, criou sua família. Viúva há 18 anos de José Panizzon, ela assumiu a frente de todo o trabalho na propriedade familiar e na criação dos quatro filhos, na época ainda crianças e adolescentes: Ana Paula, Josenice, Joel e Miguel. O marido faleceu de câncer, mas deixou a Edite os filhos para que a família continuasse. “Não sei o que seria de mim sem meus filhos. E a comunidade, que muito nos ajudou nas épocas de colheita e trabalhos mais pesados”, reconhece. O tempo foi passando, o trabalho dando frutos e os filhos crescendo. “Com muito esforço conseguimos dar a volta por cima. Hoje meus filhos já são adultos, receberam estudo e estão encaminhados na vida” conta Edite. As duas filhas são professoras e os filhos se dedicam ao trabalho na agricultura. Atualmente a família cultiva uva, alho, cebola e um pouco de tomate.
Além de exercer o papel de mãe e pai, Edite teve que aprender tarefas que na época somente seu marido sabia fazer, como ir a bancos e comprar defensivos e insumos para as lavouras e parreirais. “E eu sempre fiz, até hoje sei me virar muito bem. Tive que aprender, e isso teve seu lado positivo”.
O filho Miguel emociona a mãe ao falar sobre o exemplo de luta que ela representa. “A gente vê ela como uma heroína. Acompanhamos tudo o que ela passou. Penso que se eu conseguir fazer por ela metade do que ela fez por nós já estaria ótimo”, ressalta Miguel.
A fé no Sagrado Coração de Jesus sempre deu apoio nos momentos de maior dificuldade. A família encontrou na devoção uma força maior para enfrentar as provações. Além do terço rezado em casa, Edite sempre colaborou na comunidade, na parte da liturgia. E nos finais de semana encontrou no Clube de Mães da capela seu momento de lazer.
Hoje Edite é avó de dois netos, o Jean Pedro e o Arthur José, e ambos encontram nela um coração de avó cheio de amor e alegria. “Dos momentos difíceis temos que tirar boas experiências. Não dá pra desanimar, temos que tocar a vida adiante. Me sinto vitoriosa por conseguir criar meus filhos. Hoje estamos com a propriedade produzindo como meu marido planejava”, conta, orgulhosa, a agricultora.

Edite e o filho Miguel cuidam da propriedade da família no Travessão Bonito, em Nova Pádua. (Foto: Larissa Verdi)
Edite e o filho Miguel cuidam da propriedade da família no Travessão Bonito, em Nova Pádua. (Foto: Larissa Verdi)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“É preciso ter coragem e enfrentar os problemas.
Com muito orgulho sou agricultora”

No interior de Antônio Prado, na Linha Silva Tavares, reside a família Slaviero. Em um casarão herdado das gerações anteriores, os costumes antigos são mantidos e novas gerações são criadas. Ali deu-se a história de Geni Maria Slaviero Dotti, 64 anos, mais conhecida como Nica. Filha mais nova entre nove irmãos, ela casou jovem, e um acidente no segundo mês do casamento causou a morte do esposo. “Foi um fato muito triste na minha vida, mas nunca pensei em desistir. Voltei para a casa dos meus pais e passei a viver para o trabalho e para a família”, conta Geni. Ainda muito jovem, ela ajudou a criar todos os sobrinhos, e até hoje ajuda na criação dos sobrinhos-netos.
O trabalho na agricultura sempre foi à base que a manteve forte. Logo ela passou a fazer parte da diretoria do sindicato rural e manteve-se envolvida no setor. “Na propriedade, sempre tomei decisões. Mesmo morando junto a um cunhado e um irmão, eles sempre respeitaram muito minha opinião”, conta. A família trabalha com maçã, gado leiteiro, cebola, milho, caqui e um pouco de uva. “A cada dia sempre surgem problemas, e eu logo resolvo. Meu negócio é despachar o trabalho”, enfatiza a agricultora. O envolvimento no sindicato a fez crescer como incentivadora e líder na comunidade em que vive. “Eu distribuo o jornal A Vindima aqui na comunidade, pois se ficar no balcão do sindicato poucos vão pegar. Eu digo para as mulheres que é para abrir e ler”. Geni trabalha também pela comunidade, nos eventos como cozinheira e nas missas como liturgista. “Eu quero que a comunidade vá pra frente, não podemos parar no tempo. As mulheres evoluíram muito, e sempre pra melhor. Nós também temos voz ativa”, diz. A história de luta e sofrimento fez com que a trajetória de Geni servisse de exemplo para outras mulheres. “É preciso ter coragem e enfrentar. A mulher tem seu espaço e, com muito orgulho, sou agricultora. Não troco minha profissão por nenhuma outra”, ela afirma.  Além do trabalho na agricultura, ainda sobra tempo para os trabalhos manuais: crochê, tricô, costura sempre fizeram parte da rotina de Geni.

Geni Dotti divide seu tempo entre os trabalhos manuais, como o crochê e a colheita da uva na propriedade da família. (Foto: Larissa Verdi)
Geni Dotti divide seu tempo entre os trabalhos manuais, como o crochê e a colheita da uva na propriedade da família. (Foto: Larissa Verdi)

 

 

 

 

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