Cooperativa Ecocitrus de Montenegro comemora 20 anos
de uma experiência focada na produção orgânica
Aproximadamente 1,2 mil pessoas conhecem anualmente uma das experiências ecológicas mais bem sucedidas do Rio Grande do Sul. Há 20 anos, quando 14 famílias deram início a Ecocitrus – Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí, localizada no município de Montenegro, não imaginavam a proporção que o projeto tomaria. Hoje, a cooperativa possui 97 associados em 62 propriedades agrícolas, 107 funcionários, uma usina de compostagem, uma usina de biogás e uma indústria de sucos e óleos essenciais. Essas iniciativas oferecem sucos orgânicos e concentrados, óleos essenciais, recebimento e tratamento de resíduos, adubos orgânicos e gás natural. Tudo voltado para a sustentabilidade e a promoção da saúde. “O nosso diferencial sempre foi o ecológico e a nossa formação foi muito importante, porque deu confiança aos produtores e os ensinou a buscar seu próprio caminho. Somos um exemplo de agricultura sustentável que tem dado certo”, salienta o presidente da Ecocitrus e um dos fundadores, Fábio José Esswein.
A cooperativa foi formada em 2 de novembro de 1994 (primeiramente em forma de associação), como uma alternativa à agricultura convencional, que dependia da utilização de agrotóxicos. Por meio de incentivos e orientações técnicas vindas de um projeto entre Brasil e Alemanha, denominado de ‘Prorenda Agricultura Familiar’, os agricultores começaram a perceber os danos que os insumos causavam à saúde e ao meio ambiente. Focados nesse objetivo passaram a buscar informações sobre agricultura ecológica, especialmente em citricultura. Logo perceberam que, além de quase não haver citrus plantados de forma orgânica, não havia compostos ecológicos disponíveis no mercado para serem utilizados nas lavouras. Foi assim que surgiu a ideia de uma usina própria para compostagem de resíduos, que seriam usados como adubo nas propriedades. Em três anos, todas as lavouras convencionais dos associados passaram a ser ecológicas. Os frutos in natura eram comercializados em feiras orgânicas de todo o estado. “Começamos com muitas dificuldades e não tivemos auxílio de entidades. Iniciamos- do zero e nos primeiros dois anos cada sócio contribuía com R$ 100 todo o mês”, relembra Esswein.
O primeiro passo estava dado e a partir daí os resultados começaram a surgir. A Usina de Compostagem foi ampliada para 14 hectares e passou a fornecer não somente adubos para os associados, mas também a oferecer serviço ambiental para destinação correta de resíduos agroindustriais. Hoje são mais de 200 empresas atendidas e uma produção anual de 48 mil metros cúbicos de composto orgânico. Todo o adubo orgânico é distribuído gratuitamente para os associados.
A comercialização de frutas in natura passou a exigir um beneficiamento maior. Nasceu a agroindústria em 2001, para limpeza, seleção, classificação, embalagem e armazenamento das frutas em câmaras frias. Em 2009, o projeto foi ampliado para a produção de óleos essenciais orgânicos de mandarina e laranja – utilizados na indústria de alimentos, bebida e cosméticos. No ano passado, a agroindústria passou a produzir sucos orgânicos de laranja, tangerina e uva. A cooperativa produz sucos tanto com marca própria, quanto terceiriza para outras empresas. Uma parceria com a Cooperativa Nova Aliança está sendo firmada.
Atualmente, 80% da produção de sucos concentrados ou integrais são destinados para exportação. Os maiores compradores são Alemanha e França, que adquirem o suco biodinâmico e vendem com sua própria marca. “O mercado nacional está aumentando aos poucos para os orgânicos”, diz o presidente. Uma parcela da produção ainda é fornecida para a merenda escolar de escolas municipais e estaduais. A produção chega a quatro mil toneladas de cítricos por ano.
Novo produto
Além dos derivados cítricos, a Ecocitrus lançou o ‘Consórcio Verde Brasil’, numa parceria com a empresa Naturovos – maior produtora de ovos da região Sul. A ideia é produzir e distribuir uma gama de produtos 100% renováveis, como GNVerde, energia elétrica, energia térmica, nitrogênio verde, CO2 Verde, biofertilizante foliar e compostos orgânicos. O primeiro deles é o GNVerde que aguarda a liberação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para começar a ser utilizado. Por enquanto, apenas as frotas da cooperativa e da Naturovos são abastecidas com o gás natural, mas até a metade do próximo ano os sócios deverão ter de graça o combustível.
Com a cooperação da Sulgás, empresa responsável pela comercialização e distribuição de gás natural no Rio Grande do Sul, o projeto para os próximos anos é construir um posto para comercialização do GNVerde no Estado. Os lucros e as despesas do Consórcio Verde Brasil são repartidos entre a Ecocitrus e a Naturovos.
O diferencial sustentável
O grande diferencial da Ecocitrus é o foco na agricultura sustentável. Para ser associado à cooperativa é imprescindível trabalhar de forma orgânica, o que, conforme o presidente Fábio José Esswein, não é somente plantar de forma ecológica, “mas ser uma pessoa que acredita no sustentável e ter isso como uma filosofia de vida”. Segundo ele, ainda é grande a resistência pelo plantio orgânico. “Temos uma fábrica com capacidade cinco vezes superior a que estamos utilizando porque não temos produção suficiente. Para ser orgânico é preciso seguir algumas regras e muitas pessoas não estão habituadas a isso”, afirma.
Para transformar uma cultura convencional em orgânica o processo é simples e requer a substituição de adubos e agrotóxicos químicos por produtos naturais. Em média, uma lavoura tradicional demora três anos para ser considerada ecológica. A Ecocitrus conta hoje com associados que praticam os mais diversos tipos de sistemas ecológicos. Há aqueles tradicionais, que utilizam somente adubos orgânicos e tratamentos com produtos permitidos; e outros que adotam a prática da agricultura biodinâmica, um sistema em que a propriedade é tratada como um organismo vivo e autossustentável capaz de produzir tudo o que necessita. Nesse sistema de plantio, são utilizados preparados elaborados a partir de elementos naturais (folhas, casca, plantas, flores), plantios conforme estações do ano, ritmos astronômicos, fases da lua, energia solar e sistemas agroflorestais, em que árvores frutíferas e de reflorestamento são usadas para proteção das plantas de citrus. Os produtos biodinâmicos são reconhecidos em todo o mundo e identificados pelo selo Demeter. “Temos um cliente alemão que anualmente compra nossos sucos biodinâmicos para vender em seu país”, conta Fábio.
Os projetos da Ecocitrus
Usina de Compostagem
Entrou em funcionamento em 1995, após dificuldades em encontrar uma solução de adubação orgânica para os pomares. Hoje, além de fornecer, sem custo, compostos orgânicos aos associados, também comercializa o excedente da produção para outros públicos e trata resíduos agroindustriais de empresas para a correta destinação. São recebidos todo o tipo de material, como restos de plantas, comida, sementes e alimentos vencidos, esgoto cloacal, entre outros, que servem como matéria-prima no processo de compostagem. “Com a autorização da Fepam recebemos esse material e transformamos em resíduos sólidos que vão para a lavoura e deixam de ser um passivo ambiental (obrigações que as empresas têm com a natureza e com a sociedade)”, explica o presidente.
Atualmente, a Usina atende cerca de 200 empresas e tem uma capacidade de processar 192.000 toneladas/ano de resíduos sólidos, através de biodegradação e biodigestação anaeróbica. São produzidos, por ano, 48 mil metros cúbicos de composto orgânico; 24 mil metros cúbicos de biofertilizante líquido; e seis mil metros cúbicos de cinza para adubação e correção do solo.
Indústria de sucos e óleos essenciais
Numa área de 80 mil metros quadrados, a indústria realiza seleção, embalagem, armazenamento dos cítricos, conservação em câmaras frias, extração de óleos essenciais orgânicos e processamento de sucos integrais e concentrados. A fábrica para sucos foi inaugurada em 2013 e deve entrar em funcionamento efetivamente nesse ano.
A capacidade é para processar, anualmente, 20 mil toneladas de frutas para produção de sucos de laranja e bergamota e extrair 30 mil quilos de óleos essenciais de laranja e mandarina.
Usina de Biogás
Localizada junto a Usina de Compostagem, a planta de biogás tem capacidade de produzir até 20 mil metros cúbicos por dia de gás natural. A operação foi iniciada em 2012 por meio do Consórcio Verde Brasil, uma união entre a Ecocitrus e a Naturovos, para a geração do primeiro gás natural veicular do Brasil 100% renovável, o GNVerde.
A produção é feita por um processo de biodigestão anaeróbica de substratos orgânicos, que além do GNVerde, também geram energia elétrica, energia térmica, CO2, nitrogênio, biofertlizante foliar e compostos orgânicos.
Por enquanto a distribuição e comercialização do gás, que será de responsabilidade da Sulgás, aguarda pela regulamentação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para se associar
Além de plantar de forma orgânica, quem quiser se associar precisa antes de tudo frequentar durante seis meses as reuniões e cursos promovidos pela Ecocitrus. Após isso, são explicadas as obrigações e os benefícios e o interessado passa pelo conselho para ser admitido. Entre os benefícios, a Ecocitrus fornece a seus associados todos os adubos orgânicos para a plantação; busca toda a produção na propriedade do associado; fornece mão de obra com custo para o produtor de 30% apenas; auxilia na assistência técnica; paga um preço fixo para todas as frutas, independente da qualidade; e no próximo ano disponibilizará gratuitamente gás natural. A grande parte dos associados é de Montenegro e cidades vizinhas, mas há também sócios de Carlos Barbosa.
Visita
A Ecocitrus é aberta para visitação. A taxa é de R$ 5 e inclui passeio na agroindústria, usinas e propriedades rurais. Informações pelos telefones (51) 9725.1460 ou (51) 3632.4824, pelo e-mail bruna@ecocitrus.com.br ou no site www.ecocitrus.com.br.
Por Danúbia Otobelli
danubia@editoranovociclo.com.br
Uma resposta
União de interesses comum, sempre rende bons frutos.