
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que rótulos de bebidas alcoólicas na Europa passem a incluir alertas explícitos sobre o risco de câncer relacionado ao consumo de álcool. A medida, que faz parte de um novo relatório divulgado pelo braço europeu da entidade, busca ampliar a conscientização da população e reforçar políticas de saúde pública. No entanto, a proposta gerou reações no setor vitivinícola global, que alerta para impactos no mercado e questiona a necessidade de medidas extremas sem um amplo debate sobre o tema.
A recomendação da OMS não se restringe ao vinho, mas abrange todas as bebidas alcoólicas. O relatório aponta que “não existe nível seguro de consumo” e que qualquer quantidade de álcool pode estar associada ao risco de câncer. Países como Irlanda já implementaram regulamentações semelhantes, exigindo advertências sanitárias nos rótulos. A tendência preocupa produtores, especialmente no mercado europeu, onde o consumo de vinho faz parte da cultura e da tradição alimentar.
A proposta acendeu um alerta no setor vitivinícola, que acompanha de perto as discussões sobre a rotulagem de bebidas alcoólicas e possíveis reflexos no Brasil. No país, medidas regulatórias frequentemente seguem tendências internacionais, e qualquer mudança na legislação europeia pode influenciar normas futuras no mercado brasileiro.
Embora o assunto ainda não tenha sido discutido pela associação, o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Daniel Panizzi, reconhece que o tema exige cautela e um debate aprofundado antes de medidas extremas. “Sem dúvida, é um assunto delicado e precisa ser aprofundado antes de serem tomadas medidas como a que está sendo proposta. Existem diversos produtos consumidos diariamente que também apresentam riscos à saúde, e não foram tomadas medidas drásticas”, pondera.
Para Panizzi, o impacto da determinação pode trazer consequências significativas. “Essa é uma medida que causa um impacto no mercado. Além disso, existem estudos publicados que falam de benefícios, por exemplo, no combate a aterosclerose. Logicamente, com um consumo moderado e em indivíduos sem nenhuma restrição ou complicação na sua saúde.”
Caso a proposta da OMS ganhe força e se torne obrigatória em mais países, o setor deve se adaptar, mas Panizzi destaca que é necessário equilíbrio na abordagem. “Estamos falando de um produto milenar, que tem na base da sua cadeia milhares de pequenos agricultores familiares, os quais têm da produção da uva o seu sustento. Precisamos ser corretos ao ponto de identificarmos os problemas, mas também corretos ao ponto de destacar os benefícios”, explica.
Daniel Panizzi ainda lembra que o setor tem investido em estudos e diálogos com especialistas para contribuir com um debate mais amplo sobre vinho e saúde. “Investimentos em estudos que comprovem os benefícios, investimentos em comunicação, diálogos setoriais e diálogos com autoridades políticas”, acrescenta Panizzi.
O setor vitivinícola defende que medidas de conscientização sobre o consumo de álcool sejam sempre embasadas em dados científicos e que as campanhas educativas sejam voltadas ao consumo moderado, sem demonizar um produto que faz parte da cultura e da economia de muitos países.
A Câmara Setorial da Viticultura, Vinhos e Derivados também acompanha o debate e deverá discutir o tema em suas próximas reuniões. A tendência global de regulamentação pode impactar a cadeia produtiva do vinho no Brasil, tanto em relação à tributação quanto à percepção do consumidor.
Enquanto isso, o setor segue atento às movimentações internacionais e reforça a importância de um debate técnico e equilibrado, que considere os impactos econômicos e sociais da regulamentação sem desconsiderar a necessidade de políticas responsáveis para a saúde pública.
O Portal A Vindima segue acompanhando os desdobramentos da proposta da OMS e aguarda a manifestação de outras entidades do setor sobre o tema.