O verdadeiro ‘desbravador’ da vitivinicultura na Serra do Sudeste

Onofre Pimentel junto aos vinhedos da antiga Granja União.
Onofre Pimentel junto aos vinhedos da antiga Granja União.

Em 5 de dezembro de 2010, o engenheiro agrônomo Onofre Pimentel recebeu uma justa homenagem. Em Flores da Cunha, na Luiz Argenta Vinhos Finos, ou na ‘antiga Granja União’ como ficou conhecido o local, a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Encosta Superior do Nordeste (AEANE) inaugurou uma placa em sua homenagem. Além de ter sido um dos fundadores da entidade, Pimentel foi uma das figuras de maior relevo na história da vitivinicultura brasileira. Entre seu nascimento, em 31 de março de 1923, e o falecimento, em 25 de janeiro de 2008, o engenheiro desenvolveu trabalhos sobre a uva e o vinho no Brasil, desbravou terras e incentivou a produção das viníferas no país.
Nascido em Venâncio Aires, aos 28 anos graduou-se em Engenharia Agrônoma. Formado, iniciou seus trabalhos na vitivinicultura respondendo pelo Departamento Vitícola da Companhia Vinícola Riograndense. Tida como uma grande potência, a Cia. Riograndense desenvolvia trabalhos nos históricos vinhedos da ‘Granja União’, local que desde a década de 1920 abrigava as mais destacadas variedades vitis viníferas da época – inclusive foi em seu solo que desenvolveu-se o primeiro vinho fino brasileiro. Por meio do trabalho nos primeiros grandes parreirais brasileiros de castas finas, Pimentel se tornava um mentor da área. Com uma visão muito avançada para os anos de 1950, o pesquisador ampliou a coleção de uvas dos vinhedos da Granja União para uma centena de variedades viníferas. Uma vez aclimatadas, as castas eram distribuídas para outros viticultores, que recebiam treinamento específico para garantir o sucesso dos vinhedos. O engenheiro permaneceu na Companhia Riograndense até o ano de 1998.

 

Na década de 1960, o agrônomo ampliou seus estudos na França. Naquele país, por um longo período realizou estudos na Escola Superior de Agronomia de Montpellier, na Universidade de Bordeaux. Conheceu também outros locais mundiais da vitivinicultura, onde colheu informações e aprendeu técnicas. Foram esses estudos que o fizeram, em 1967 e 1980, a implantar técnicas pioneiras no Brasil para identificação de uma das principais causas de morte da videira – as viroses, até então um conceito desconhecido entre viticultores e técnicos no país. Também o processo de identificação e tratamento de outras importantes pragas e doenças que afetam a planta (como antracnose e míldio) deve muito ao agrônomo. Pimentel “ensinava a quantificar os vírus presentes nas videiras, possibilitando a classificação e o aproveitamento das mudas sadias, ao mesmo tempo em que determinava com precisão as plantas atacadas para que fosse eliminadas”, escreveu o jornalista Sérgio Inglez de Souza.
Ainda na área da pesquisa, em 1962, após 10 anos de trabalho, lançou o livro Poda da videira, ainda hoje uma referência a respeito das práticas de poda seca e poda verde associadas ao sistema de condução do vinhedo.

 

Novas terras
Entretanto, foi nos anos de 1970 que Pimentel fez história em solo gaúcho. O governo estadual coordenou o primeiro grande levantamento em todo o Rio Grande do Sul com o intuito de classificar as áreas e as condições adequadas ao plantio de videiras viníferas. O resultado final foi consolidado num mapa que indicava as regiões numa escala de 1 a 4. A região da Serra do Sudeste, cercada pelas cidades de Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado e Pedras, foi considerada a melhor para o plantio de videiras. Com o mapeamento em mãos, o engenheiro partiu para a Serra do Sudeste. Na região, percorreu estradas, trilhas e pastos. O objetivo era conhecer todas as localidades e selecionar as áreas de microclima e terroir mais vantajosos. Após 20 dias sacolejando pelas estradas, Pimentel selecionou as propriedades mais vantajosas para a vitis vinífera. Isto se deu em Pinheiro Machado, onde a Companhia Vinícola Riograndense adquiriu uma área de terras para formação dos vinhedos San Felício, em 1976. Estava consolidada a introdução do cultivo de uva em uma das mais promissoras regiões vitivinícolas do país. Como um desbravador pioneiro e uma ampla visão de negócios, Pimentel apostou nos resultados na nova região. Mais uma vez o engenheiro estava certo. Feito esse, que anos mais tarde foi adotado por outras vinícolas como a Angheben, Casa Valduga, Chandon, Cooperativa Aliança e Lídio Carraro. Aliás, o agrônomo também realizou o levantamento das terras aptas à viticultura no Vale do Rio São Francisco, no Nordeste do Brasil.

 

Outro grande pioneirismo do engenheiro foi bater constantemente na questão de ensinar aos vitivinicultores que a qualidade do vinho estava definitivamente ligado a baga da uva, ou seja, vinho bom só se obtém com uva de qualidade. “Com esta filosofia na cabeça, fez peregrinações pelas mais distintas áreas do país, sempre buscando identificar novos terroirs e dar incentivo a produção de qualidade”, apontou Souza.
Um dado interessante de sua biografia é que além da vitivinicultura o engenheiro foi responsável pela disseminação do plantio de rosas na região serrana. No bairro caxiense de Desvio Rizzo há o Loteamento Parque das Rosas e a Rua das Rosas, na zona onde o agrônomo mantinha um viveiro e plantação da flor. Onofre Pimentel era casado com Yelda e pai de Edson Pimentel. Faleceu em 2008, na cidade de Caxias do Sul, deixando demonstrações de quanto germinaram as muitas sementes plantadas por ele.

 

Fontes: Jornal A Vindima, Sérgio Inglez de Souza e Associação dos Engenheiros Agrônomos da Encosta Superior do Nordeste.

Por Danúbia Otobelli

Foto: Foto/Arquivo Familiar

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