Animal é uma espécie invasora que arrasa lavouras e rebanhos, principalmente, nas regiões Sul e nos Campos de Cima de Serra
A passagem dele pode ser percebida de longe. Não sobra milho, batata, mandioca ou o que estiver plantado inteiro. Tudo fica mordiscado e espalhado ao longo da lavoura. As pegadas são características, assim como as fuçadas na terra. Não é de hoje que os javalis vêm causando danos enormes para lavouras de todo o Brasil e, no Rio Grande do Sul a situação não é diferente. Por ser um animal originário da Europa, o javali não encontra predadores naturais por aqui e sua reprodução aumenta exponencialmente. Em solo gaúcho, os principais problemas são registrados na região Sul e nos Campos de Cima de Serra, onde não existem cercas que impeçam os animais de arrasar lavouras e também de atacar pequenos animais como ovelhas, cordeiros e bezerros. Na Serra Gaúcha, os principais danos são registrados em plantações de milho.
Em julho deste ano, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) divulgou a elaboração de planos de controle e monitoramento do javali. A ação é realizada em conjunto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O Plano Nacional de Controle e Monitoramento de Espécies Exóticas Invasoras é voltado à espécie de javalis-europeus (Sus scrofa) com a estratégia de proteger os ambientes naturais, ecossistemas e espécies nativas. Este será o primeiro documento elaborado no Brasil com esse objetivo.
No final de agosto, foi realizado o ‘Seminário de nivelamento de informações e conhecimentos sobre a invasão de javalis no território nacional’, unindo esses três órgãos além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Durante os dias 30 e 31 de agosto, especialistas falaram sobre o histórico da invasão e distribuição do javali no Brasil; impactos ambientais; prejuízos socioeconômicos; legislação e fiscalização; regulamentação de uso de armas de fogo para o manejo; entre outros tópicos.
Praga para os pequenos agricultores
A agressividade e facilidade de adaptação são características que, associadas à reprodução descontrolada e à ausência de predadores naturais, tornam o javali asselvajado o responsável por uma série de impactos ambientais e socioeconômicos, principalmente para os pequenos agricultores. De acordo com o gerente técnico estadual da Emater/RS-Ascar, Jaime Eduardo Ries, a espécie exótica foi introduzida no Uruguai com o objetivo da exploração da caça e, a partir da década de 1960, principalmente para o consumo de carne, entrou no território brasileiro a partir da metade Sul do Rio Grande do Sul. “Na Serra, no entanto, a hipótese mais provável é que esses animais sejam oriundos de antigos criadouros existentes na região, de onde fugiram em função das estruturas precárias de contenção”, complementa Ries.
Entre os inúmeros problemas causados pela espécie, o principal dano é para o meio ambiente, com transformações em ecossistemas, extinção de espécies nativas e prejuízos para plantações. “Essa espécie compete por recursos com animais da fauna nativa para sua alimentação (pinhão, frutas nativas, entre outras) e abrigo, além de causar outros danos como a destruição de ninhos de pássaros construídos no solo. Além disso, podem ser reservatório de diversas doenças que podem ser transmitidas tanto para os animais silvestres como domésticos”, destaca Ries.
De acordo com a Emater, na Serra o principal dano econômico está relacionado com as lavouras de milho, onde os prejuízos podem ser muito relevantes, dependendo do número de javalis responsável pelo ataque e do tamanho da plantação. No Sul, as ocorrências mais numerosas são de ataque ao rebanho ovino. O problema se intensifica com a primavera, quando inicia o período de parição. “O javali está se tornando um grande problema em diversas regiões do país, porque possui grande capacidade de adaptação aos mais diversos ambientes, é onívoro (consome uma variedade muito grande de alimentos) e se reproduz com os porcos domésticos criados soltos, o que aumenta a sua prolificidade”, reconhece o gerente da Emater.
As medidas de controle
Nos países em que a espécie ocorre, seja nativa, como França, ou introduzida, como Estados Unidos e Austrália, a caça é autorizada. Nenhum país, no entanto, apresentou uma alternativa para a captura dos animais vivos. O alto grau de agressividade dos javalis asselvajados e a impossibilidade de destinação aos seus territórios de origem dificultam encontrar uma alternativa para o manejo de controle dessa espécie invasora. No Brasil, a Portaria Ibama nº 7, de 26 de janeiro de 1995, autorizou em caráter experimental a caça amadorista do javali no Rio Grande do Sul por um período de três meses e meio, sendo a norma reeditada nos anos seguintes, até que novos estudos fossem realizados.
Em 1998, em consequência da falta de uma regulamentação adequada para a criação em cativeiro e do aumento na ocorrência de fugas ou solturas, foi publicada uma portaria que proibiu a abertura de novos criadouros de javalis no país, estabelecendo um prazo para a regularização dos já existentes. No mesmo ano, também foi proibida a importação de javalis. Em 2010, ao observar a presença desses animais em vários Estados, foi suspensa a norma, a qual se restringia ao território gaúcho, para que se estudasse uma regulamentação federal. A nova Instrução Normativa, de 2013 (o documento está disponível pelo link www.ibama.gov.br/areas-tematicas-fauna-silvestre/manejo-e-controle-de-javalis), autorizando o abate do javali para manejo controlado em todo o país, foi elaborada pelo Ibama em consulta ampliada a diversas instituições governamentais e de pesquisa, como Embrapa, Exército Brasileiro e Mapa.
De acordo com o Ibama, o javali é classificado como uma das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional de Conservação da Natureza. O animal está presente em 15 unidades da federação. Para o órgão, espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior causa de perda da biodiversidade em escala global e representam um desafio para a conservação dos recursos naturais.
Quem pode abater?
Os interessados em apoiar a medida de combate aos javalis devem acessar o site do Ibama (www.ibama.gov.br) e inscrever-se previamente no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais, na categoria ‘Uso de Recursos Naturais’, descrição ‘Manejo de fauna exótica invasora’, código 20-28. Todos os inscritos deverão encaminhar relatório semestral de suas atividades de controle do animal para o Ibama. O modelo de relatório também está disponível no site do órgão, juntamente com mais informações na seção ‘Fauna Silvestre’.
O manuseio de armas é de controle estrito do Exército Brasileiro e as informações para cadastramento podem ser obtidas no site da instituição (www.dfpc.eb.mil.br). O transporte de javalis capturados vivos não é permitido. A comercialização ou a doação desses produtos é proibida pela legislação sanitária e ambiental brasileira.
Fonte: Ibama.