Os leves e perfumados Proseccos

Conheça o famoso espumante elaborado na região de Conegliano e Valdobbiadene, no Vêneto

 

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Foto: Andreia Debon

 

Caminhos sinuosos, muitas vezes íngrimes, ajudam a compor o cenário formado por colinas e pequenos lugarejos harmoniosos e serenos como os finais de tarde durante a primavera no Norte da Itália. Estamos na província de Treviso, a uma hora da Piazza San Marco, coração pulsante de uma das mais célebres e lindas cidades italianas, Veneza. E também a 100 quilômetros da charmosa Cortina d’Ampezzo, localizada nas montanhas italianas. A região de Conegliano e Valdobbiadene, e suas pequenas frações, encanta não só pela beleza, mas também por um vinho que é elemento da identidade de seus moradores, o Prosecco. No mês de maio, à convite do Consorzio Tutela del Vino Conegliano Valdobbiadene Prosecco, a Editora Novo Ciclo (jornais A Vindima e O Florense e revista Bon Vivant) participou de um evento nesta região do Vêneto e conheceu, além desse espumante diferenciado, características desse território e a cultura desse povo.

 

O Prosecco é um vinho espumante elaborado com a uva Glera. Essa variedade era chamada de Prosecco até 1º de agosto de 2009.  Mudou porque, como denominava uma uva, o termo podia ser empregado por produtores de qualquer parte do mundo no rótulo de espumantes feitos com essa variedade, inclusive o Brasil possui algumas vinícolas. Portanto, depois dessa data o Prosecco deixou de ser legalmente uma cepa vinífera e ganhou a condição de DOCG e de DOC. Ou seja, Prosecco virou oficialmente a designação de uma denominação de origem, de uma região produtora demarcada, um conceito protegido pela legislação europeia. A estratégia permite o uso exclusivo do nome Prosecco nos espumantes saídos desta região. Foi também em 2009 que a região de Conegliano e Valdobbiadene foi promovida da condição de DOC (Denominazione di Origine Controllata) para a de DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita).

 

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Videira centenárias na proproedade dos Ruggeri, em Cartizze. (Foto: Andréia Debon)

 

O Prosecco DOCG provém em 15 pequenas cidades, chamadas de comunes, entre Conegliano e Valdobbiadene. É nesse ambiente, cultivada em colinas, entre 50m a 500m de altura, que a uva Glera encontra as condições ideais para se desenvolver e apresentar um espumante rico em aromas, principalmente. Isso porque o solo e o microclima são ideiais. Há três tipologias de Prosecco que se distinguem entre si a partir da quantidade de açucar residual: Brut, Extra Dry e Dry. A versão Brut é a que menos permite resíduos de açúcar por litro. Já o Dry é o mais doce e pode conter, segundo as normas DOCG, até 32 gramas de açúcar residual por litro. Seu método de elaboração é o charmat. O que pode variar entre um empresa e outra é o tempo em contato das leveduras com o mosto.

 

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Festival do Prosecco acontece em um belo castelo, e serve para divulgar a bebida.

 

Segundo a história, o Prosecco teve origem há centenas de anos. No entanto, foi somente em 1876, com a fundação da Scuola Enologica de Conegliano, que a bebida começou a ter uma produção mais direcionada e  comercial. Hoje, 43% da produção é exportada para 80 países, entre eles o Brasil. “O Brasil tem consumidores muito exigentes, que sabem exatamente o trabalho manual que há dentro de uma garrafa de Prosecco superior”, diz o presidente do Consorzio Tutela del Vino Conegliano Valdobbiadene Prosecco, Giancarlo Vetorello. Por ano são vendidas em torno de 78 milhões de garrafas de DOCG. Já de Prosecco DOC, proveniente de outras colinas também da província de Treviso, são 230 milhões de garrafas.

 

Em cada um desses pequenos lugarejos se percebe o respeito que há pela vinha e por essa bebida que faz parte do desenvolvimento das comunidades. “Respeitamos o território e colhemos o máximo da uva sem intervenções na natureza”, diz o diretor da Cantina Bellussi, Enrico Martellozzo. A colina mais famosa se chama Cartizze, e compreende os pequeninos lugarejos de San Pietro di Barbozza, Santo Stefano e Saccol, todos em Valdobbiadene. São 107 hectares de uva Glera divididos entre centenas de agricultores, que dão origem a um espumante fresco e com aromas complexos, resultado da combinação perfeita de um microclima e de solo com características que permitem drenagem rápida da chuva.

 

Em Cartizze o preço por hectare é altíssimo, podendo chegar a 2 milhões de euros. Mesmo assim os proprietários não vendem e acabam repassando como herança a seus descendentes. Por isso também é que o número de proprietários desta colina aumenta cada vez mais. Aí vem o grande desafio paras as vinícolas: homogeineidade das uvas. “Temos uma relação quase familiar com agricultor. Sabemos tudo o que ele faz no vinhedo, a hora que vai tratar, quando vai colher. Assim conseguimos ter um controle sobre as uvas que iremos receber”, explica Giustino Bisol, da Cantina Ruggeri, um dos herdeiros de alguns hectares desta rica e cobiçada colina. O espumante de Cartizze também está entre os mais caros, justamente por apresentar características aromáticas e gustativas diferentes de outros Proseccos.

 

Além de bebidas diferenciadas, esta colina é de uma beleza inconfundível, na qual os vinhedos se misturam a pequeninas e centenárias casas de pedra com janelas de madeira. Ninguém reside ali – os proprietários utilizam como depósito de insumos vitícolas ou para receber turistas e visitantes em degustações.

 

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Prosecco é consumido sem compromissos, neste caso com batatas fritas.

Espumante sem compromisso
O Prosecco é um vinho que conquista pela sua imediatez. Em suas melhores versões, é um espumante alegre, sem compromissos, ideal para ser bebericado despreocupadamente acompanhando uma boa conversa. Na Itália, especialmente nas regiões ao Norte, ele reina absoluto nos aperitivos de final da tarde entre amigos e colegas de trabalho. É um vinho simples e que, com certeza, o apreciador bebe muito mais que uma taça.

 

Todos os anos, na primavera italiana, o consórcio promove um evento destinado exclusivamente ao Prosecco. Chama-se Vino in Villa e acontece na comune de Susegana, município localizado entre Conegliano e Valdobbiadene, num antigo e belo castelo chamado San Salvatore. A festa acontece para que os apreciadores amantes de Prosecco possam experimentar a nova safra e também fazer comparativos com outras. O evento segue durante um dia inteiro. Reúne dezenas de vinícolas dispostas em ilhas. Os participantes pagam um ingresso e podem beber o quanto desejarem. E o cenário inspira… Nos jardins do castelo também é possível se deliciar com comidas típicas da região, como queijos, prosciuttos, massas e risotos.

 

Mas não é somente em eventos como o Vino in Villa, um pouco mais requintado, que se bebe Prosecco. Durante a primavera é comum nas comunidades do interior a realização de eventos alusivos à estação das flores, já que os dias mais quentinhos são muito bem-vindos nesta região fria da Itália. As comemorações são simples e reúnem os moradores do interior. Cada capela se organiza e durante uma semana, sempre à noite, as pessoas são convidadas a jogar cartas, cantar, contar piadas, comer e beber. E o Prosecco faz parte da festa com a polenta branca e o queijo a la piastra (brustolado, ou na chapa), servido despretensiosamente, bebida simples, já que por lá o que importa mesmo é consumir.

 

Andréia Debon
andreia@editoranovociclo.com.br

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