Foram dois dias para pensar o setor vitivinícola, identificando os desafios e as oportunidades que se apresentarão nos próximos anos, e muitas degustações de vinhos de diversas partes do mundo. O Wine Future Rioja 2009, que aconteceu no início de novembro em Logroño, na Espanha, reuniu os maiores experts do mundo e foi definido por um de seus organizadores, Rony Bacqué, como o “epicentro do mundo vitivinícola nacional e internacional”.
As 11 mesas redondas, com palestras de quase 40 profissionais, trataram dos principais temas com os quais o setor se confronta quando tenta olhar para o futuro. Com relação aos mercados, um dos principais e reiterados aspectos foi o impacto da crise econômica internacional no setor vitivinícola. Outro tema, não menos importante, foi a distribuição em todos as suas modalidades (HORECA – Hotéis, Rsturantes e Cafés / on trade – qualquer estabelecimento onde se possa consumir no próprio local / off trade – estabelecimentos onde o consumo do produto se dá fora do local / branding – conjunto de atividades que visa otimizar a gestão das marcas de uma organização como diferencial competitivo / e vendas pela internet).
Também com relação a mercados, foram apresentados alguns países consumidores emergentes, que surgem como uma das possíveis alternativas para o crescimento da categoria ‘vinhos’. Outro eixo de destaque tratou sobre a interação entre produtores e consumidores, cuja discussão centrou-se em aspectos como o impacto da tecnologia na comunicação, as mudanças na sociedade contemporânea e suas consequências na promoção do vinho, a importância dos concursos e o papel dos críticos. O uso de ferramentas de marketing, como branding, foi tema de diversas palestras. Como não se poderia deixar de lado, a questão mudança climática também foi tratada de maneira incisiva, mostrando o impacto negativo que tem e terá na produção de uvas para fins vinícolas no mundo e apontando alternativas para minimizar os seus efeitos.
A degustação mais esperada
Na degustação conduzida por Robert Parker foram apresentados 20 vinhos. O momento mais aguardado do evento, que tinha previsão para a participação de 360 pessoas, contou com 530 de mais de 40 países. Foram abertas 600 garrafas e o vinho servido em 10.700 taças. O tema da degustação foi a variedade Grenache, ou Garnacha em espanhol. A cepa, segundo Parker, é uma das variedades do futuro, juntamente com Tempranillo e as internacionais, pois harmonizam muito bem com a cozinha mediterrânea, que “tem evoluído muito nos últimos anos”, de acordo com o crítico.
Parket, fundador da revista Wine Advocate, selecionou 18 vinhos desta variedade, elaborados em diferentes regiões do mundo, não desprezando o fato de que a garnacha é autóctone de La Rioja, região onde foi realizado o evento. Fugindo um pouco do tema principal – e do estilo Parker, diga-se de passagem – um dos patrocinadores disponibilizou seu Rioja Reserva 1945, época em que eram permitidas variedades bordalesas no corte, sendo este elaborado com 70% de Cabernet Sauvignon e 30% de Tempranillo. O outro vinho degustado foi um Rioja bastante jovem, frutado, um cosechero (vinho da safra atual ou no máximo da anterior), que desapareceu completamente após vinhos tão potentes selecionados por Parker e do senil Rioja 1945.
Sobre o futuro
Na última mesa redonda, alguns dos principais palestrantes do evento se dedicaram a responder perguntas do público e discutir os rumos do setor vitivinícola. Dentre os principais desafios, o aspecto econômico apareceu em primeiro lugar. O MW Justin Howard-Sneyd, comprador de uma grande rede de supermercados na Inglaterra, ponderou que os desafios econômicos são dois: “deve-se buscar rentabilidade no curto prazo e a sustentabilidade no longo prazo, tendo em vista a finitude dos recursos naturais”, disse. A responsabilidade ambiental se mostrou importante não só para a sustentabilidade do setor, mas também para acessar mercados e agregar valor aos vinhos.
Por outro lado, compreender e interagir com o consumidor se mostrou um desafio não menos importante para os participantes da última mesa redonda do evento. Essa compreensão passa por aspectos estratégicos como as restrições legais para o consumo de bebidas alcoólicas em países consumidores tradicionais como a França e a Espanha e o desenvolvimento de mercados emergentes como os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), além de países que ainda têm um grande potencial como os EUA e os Escandinavos.
Consultor. A matéria é parte da primeira de uma série de reportagens elaboradas para a revista Bon Vivant.
Por Júlio César Kunz*