Enquanto empresas solicitam permissão, cadeia produtiva da vitivinicultura brasileira se manifesta contra. Por enquanto, nenhum pedido foi oficializado

O ano de 2016 vem se mostrando difícil para os agricultores, especialmente aqueles que tiram das videiras o sustendo da família. Depois de uma safra que chegou a ter perdas de até 65% em algumas regiões da Serra Gaúcha devido às adversidades climáticas, o agricultor ainda teve que arcar com as contas do seguro agrícola, o qual o governo federal não repassou os subsídios. Devido a essa quebra representativa da safra, empresas brasileiras têm manifestado interesse em solicitar a permissão para importar suco concentrado e vinho a granel. O motivo alegado é que essa redução na produtividade acarreta na falta dos derivados da uva no mercado. No entanto, para o setor vitivinícola, os estoques são suficientes para abastecer o comércio até a próxima safra, e a permissão pode prejudicar ainda mais a cadeia produtiva.

Recentemente, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) organizou um manifesto mostrando que o setor é contrário à permissão da importação. Participam do documento 12 entidades que integram o Instituto e que representam os diferentes elos da cadeia produtiva da vitivinicultura brasileira. Para o vice-coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, um dos motivos do pedido de importação por essas empresas é que, em função da quebra da safra, produtores optaram por vender suas produções para empreendimentos que ofereceram melhores preços. “Essas empresas que são a favor da importação não têm relação nenhuma com o produtor. Não se preocupam com ele. O setor é contra essa permissão e estamos mobilizados para defender que não existe motivo para importar produtos. É uma atitude prematura, irresponsável e que vai acabar com o setor brasileiro se for adiante. O que faltou esse ano foi matéria prima, mas as estatísticas mostram que teremos vinho até o final do ano, inclusive o fino, este por pelos menos dois anos”, adianta Schiavenin.
De acordo com o diretor executivo do Ibravin, Carlos Raimundo Paviani, o setor deve se reunir neste mês para avaliar o mercado no primeiro trimestre de 2016. “Na reunião de abril da Câmara Setorial da Viticultura, Vinhos e Derivados, que ocorre no dia 26 de abril, em Bento Gonçalves, vamos analisar o desempenho de mercado no primeiro trimestre e os estoques disponíveis já com a nova safra. Esse pedido é uma iniciativa quase individual de algumas empresas, e não representa a maioria do setor. Não temos informação, além do pedido formulado ao Ministério da Agricultura, que já se manifestou contrário, de outra iniciativa que vise liberar a importação de uvas, sucos ou vinhos”, acrescenta Paviani.

As justificativas

A manifestação publicada pelo Ibravin em fevereiro destaca que o setor é contrário à permissão da importação de uvas para processamento, suco de uva concentrado a granel, vinhos a granel e demais derivados da uva e do vinho a granel, mesmo em caráter excepcional. Algumas das justificativas divulgadas são:
– É permitida a importação de suco de uva, néctar ou vinhos comercializados em embalagens de até cinco litros, identificando marca e produtor, envasados na sua origem;

– A não permissão do comércio de produtos vitivinícolas a granel está prevista no Regulamento Vitivinícola do Mercosul e na Lei do Vinho nº 7.678, de 8 de novembro de 1988, e tem por objetivo preservar a produção vitivinícola brasileira;

– De acordo com os dados do Cadastro Vinícola, mesmo que a quebra de safra seja superior a 50%, o setor vitivinícola dispõe de sucos, vinhos e outros derivados em estoque para abastecer o mercado interno.
Participaram do documento divulgado pelo Ibravin 12 instituições representativas da vitivinicultura brasileira: Associação Brasileira de Enologia; Associação Gaúcha de Vinicultores; Federação das Cooperativas Vinícolas do RS; Comissão Interestadual da Uva (representando Sindicatos de Trabalhadores Rurais); União Brasileira de Vitivinicultura; Sindicato da Indústria do Vinho, do Mosto de Uva, dos Vinagres e Bebidas Derivados Uva e Vinho do RS; Sindicato Rural de Caxias do Sul; Sindicato da Indústria do Vinho de São Roque/SP; Valexport e Instituto do Vinho do Vale do São Francisco; Associação Brasileira das Indústrias de Suco de Uva; Sindicato da Indústria do Vinho de Santa Catarina – Sindivinho SC e Associação Catarinense Vinho de Altitude.

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