O crescimento constante e a boa remuneração incentivam o cultivo das
‘berries’, que estão em plena colheita nos Campos de Cima da Serra

 

Danúbia Otobelli

Elas são sofisticadas, saudáveis, saborosas e possuem uma característica em comum: são pequenas. Os agricultores e os consumidores brasileiros têm se rendido as chamadas ‘pequenas frutas’, um conjunto de culturas que engloba a amora, a framboesa, o mirtilo, o morango, além de uma dezenas de outras frutas de tamanho pequeno. Elas são utilizadas, em sua maioria, na produção de doces, geleias, sucos e no consumo in natura.

O sucesso do cultivo, aliado a alta demanda e a boa rentabilidade, tem feito com que agricultores da região invistam nas pequenas frutas. Afinal, elas são ideais para a agricultura familiar. “Por exemplo, o mirtilo é uma fruta produtiva, com média de 10 a 15 toneladas por hectare. É uma cultura que estabelece muitas plantas em uma área pequena. Um espaçamento de três metros por um metro dá em torno de três mil plantas por hectare. Por esta condição, é uma cultura que se adequa melhor aos pequenos produtores”, observa o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Luís Eduardo Côrrea.
Em média, a produção gaúcha das pequenas frutas teve um incremento de 20% a 30% nos últimos tempos. Apesar da retração registrada no último ano, o crescimento na produção e nos preços segue constante.  No município de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, o cultivo de mirtilo, framboesa e amora já é tradição – o Rio Grande do Sul cultiva 75% da produção nacional, especialmente na região de Vacaria. Para a safra desse ano – que está em plena atividade e se estende até abril, dependendo das variedades – as perspectivas são as melhores. Em termos de produção, a colheita no município deverá ficar em torno de 700 toneladas de amora, 80 toneladas de framboesa e 70 toneladas de mirtilo, cujos pomares ocupam uma área de cerca de 50 a 70 hectares. “Não será uma safra muito grande, mas de boa qualidade e com bons preços. Diferente do ano passado, tivemos menos problemas com doenças e com o clima”, pontua o engenheiro agrônomo e secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Vacaria, Eduardo Pagot.

Em termos de preços, as pequenas frutas têm um mercado promissor. Uma caixinha de mirtilo com 125g chega ao consumidor ao valor de R$ 5,50 a R$ 8. Enquanto que o preço pago ao produtor pode chegar a R$ 30 ao quilo. Mesmo com um valor considerado alto, o mercado é garantido. Os estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná, além do próprio Rio Grande do Sul, têm sido os maiores compradores.
Conforme o produtor IrineuBortolotto, que cultiva as pequenas frutas em Vacaria, a demanda pelas ‘berries’ se tornou maior que a oferta. “Chegamos na metade desse ano com os estoques vazios. Os clientes ligavam procurando a fruta e não tinha mais. Até uns anos atrás tínhamos estoque acumulado, mas de uns dois anos para cá cada vez termina mais cedo”, comenta.

 

Vantagens

Essa demanda estaria ligada ao fato das frutas serem raras, não podendo ser cultivadas em qualquer região. Aliás, é o clima que tem favorecido a produção das pequenas frutas no Rio Grande do Sul. Elas precisam de frio e solo ácido para se desenvolver. De acordo com Pagot, o clima contribui para a produção e a qualidade da fruta. “A maioria são plantas do frio, com período de dormência. Temos uma temperatura noturna e verões mais amenos, além de um índice pluviométrico bom”, explica.
Outra vantagem estaria associada à posição geográfica brasileira. Como o país está localizado no hemisfério sul, o mirtilo aqui é produzido na época de entressafra do hemisfério norte. “A produção daqui é quando eles não têm a fruta lá, e o mercado internacional é muito grande. As condições de solo também são favoráveis, porque o Brasil tem solo ácido, o que é necessário para as frutas vermelhas se darem bem”, explica o pesquisador Côrrea.

As pequenas frutas ganham ainda no manejo, pois apresentam baixo índice de uso de agrotóxicos e são pouco sensíveis a pragas e doenças. O que os pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, que fazem o monitoramento do cultivo no Rio Grande do Sul, têm constatado são alguns fungos simples de serem tratados com fungicidas e o ataque de alguns pássaros porque as  frutas são pequenas, o que serve de alimento para as aves. “É uma cultura que não exige tanta tecnologia, tem baixo uso de insumos, oferece uma multiplicidade e o preço é interessante”, aponta o engenheiro agrônomo.
Entretanto, uma das dificuldades do cultivo tem sido a mão de obra. Por serem pequenas, elas exigem um cuidado maior na colheita e no manejo. Tudo é feito de forma manual e com atenção redobrada para não machucar as frutas. “São produtos que pesam de 4 a 5 gramas e para colher 20kg demora-se até um dia inteiro, por isso o custo da mão de obra é alto e a disponibilidade cada vez menor”, explica Pagot.

 

Engenheiro Agrônomo e Secretário da Agricultura de Vacaria, Eduardo Pagot. (Foto: Danúbia Otobelli)
Engenheiro Agrônomo e Secretário da Agricultura de Vacaria, Eduardo Pagot. (Foto: Danúbia Otobelli)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mercado promissor

 

O produtor Irineu Bortolotto investiu na cultura do mirtilo e colhe bons resultados. (Foto: Danúbia Otobelli)
O produtor Irineu Bortolotto investiu na cultura do mirtilo e colhe bons resultados. (Foto: Danúbia Otobelli)

Os produtores de Vacaria estão entusiasmados com o cultivo das pequenas frutas. Caso esse de Irineu Bortolotto, que tem investido forte no cultivo de mirtilo, framboesa e amora, e obtido ótimos resultados. Há dez anos, ele procurou uma cultura que pudesse ser plantada numa área pequena e que garantisse uma boa rentabilidade. O mirtilo se encaixou no perfil proposto. No início, as dificuldades foram muitas: não tinha mercado, as mudas da planta eram restritas, de baixo vigor e havia perdas na plantação. Para evitar isso, Bortolotto investiu na produção de mudas de mirtilo – ele já trabalhava com viveiros. Hoje, são mais de 15 variedades de mirtilo plantadas em 1 hectare em sua propriedade no Loteamento Passo da Porteira. O produtor tem ainda uma plantação experimental de framboesa e meio hectare de amora. Essa última deverá ser ampliada no próximo ano.  “A ideia é com o tempo produzir também morangos, para fazer um mix das pequenas frutas. Estamos sempre correndo atrás de tecnologias e orientações. Agora que já entendemos bem do mirtilo, vamos investir na framboesa e começamos com os experimentos”, comenta.

Para essa safra, Bortolotto deverá colher em torno de 10 toneladas de mirtilo, que serão distribuídos na região metropolitana e nos estados de Santa Catarina e São Paulo. “Está bom a comercialização de mirtilo e vai se tornar ainda melhor. Apanhamos no início, pois não tinha mercado e desconhecíamos as plantas. Recebemos críticas por estar produzindo algo que não tinha mercado. Batalhamos para conseguir esse mercado e de uns dois anos para cá o negócio prosperou. Tanto que não estamos dando conta de atender tudo”, comemora.

Há quatro anos, a família também começou a investir na parte do beneficiamento, além da produção. Adquiriu câmaras frias e de congelamento e iniciou o processo de embalagem. Com os equipamentos e por meio da Associação dos Produtores de Pequenas Frutas de Vacaria (Appefrutas), a propriedade de Bortolotto se tornou um local de recebimento de frutas dos produtores próximos. Na propriedade, as frutas vermelhas são armazenadas e embaladas para venda ou congeladas para serem vendidas pós-safra. “Fizemos um mix de pequenas frutas entre os produtores para agregar mais valor com qualidade de fruta e sabor. Estamos buscando novos mercados, porque hoje pode estar faltando fruta, mas amanhã a produção pode aumentar e precisamos ter onde distribuir”, conclui.

 

Melhorias

A garantia de mercado tem feito os produtores se mobilizarem na organização da produção. Alguns passos já estão sendo dados, como a compra de câmaras frias, os pomares com irrigação e a junção dos produtores em associações, para facilitar a comercialização. Atualmente, 30% a 40% das pequenas frutas ficam em câmaras frias para serem vendidas no decorrer do ano, isso porque a venda pós-safra agrega até 100% do valor. “A tendência e estamos caminhando para isso é que os agricultores se organizem e invistam em infraestrutura para dar valor ao produto”, diz o secretário.

Uma dessas melhorias está na eletricidade. Muitas comunidades de Vacaria, por exemplo, não possuem ligação trifásica de energia elétrica para o funcionamento das câmaras frias. Outro gargalo a ser superado é na utilização das pequenas frutas para o processamento, por meio de agroindústrias que produzam geleias, sucos, polpas. “Estamos entrando numa fase que vai resultar nas agroindústrias, porque hoje o produtor vende para quem congela, este vende para uma indústria de preparados, que revender para outra empresa. A ideia é encurtar essa cadeia, porque sabe-se que quanto mais curta, maior beneficiamento o agricultor tem”, observa Pagot.

Processo de embalagem do mirtulo na proproedade de Bortolotto. (Foto: Danúbia Otobelli)
Processo de embalagem do mirtulo na proproedade de Bortolotto. (Foto: Danúbia Otobelli)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que são pequenas frutas

O termo ‘pequenas frutas’ é utilizado nos Campos de Cima da Serra para algumas espécies do grupo chamado de ‘berries’, que seriam o morango, o mirtilo, a amora e a framboesa. Ainda podem ser classificadas dentro do termo o physalis, a pitanga, a gabiroba e o araçá. A palavra começou a ser utilizada e expandiu-se após a realização do primeiro seminário regional de pequenas frutas, realizado em Vacaria, a partir de 2005.
As pequenas frutas também são conhecidas como ‘frutas vermelhas’, ‘frutas do bosque’ ou ainda ‘frutas silvestres’.

Características

(Fotos: Divulgação)
(Fotos: Divulgação)

Mirtilo: É também conhecido como ‘blueberry’ e tem popularidade por ser a fruta da longevidade. Sua riqueza em pigmentos tem alto poder antioxidante e de prevenção das doenças degenerativas. O mirtilo é uma espécie arbustiva, com 1,5 a 3 metros de altura e exige clima temperado, que necessita de frio no inverno para quebra da dormência. Produz em agrupamentos de frutos que amadurecem de forma irregular no ramo, exigindo várias colheitas seletivas para retirar somente os frutos maduros, que são de coloração azul intensa. A produtividade varia conforme a cultivar e a região, mas fica entre seis a 10 toneladas por hectare. A colheita normalmente se dá entre novembro a abril. As principais cultivares existentes no Brasil são: Aliceblue, Bluebelle, Bluegen, BriteBlue, Climax, Delite, Bluecrop e Darrow.
O mirtilo requer um solo drenado, poroso e com boa fertilidade. É recomendado o uso de fertilizantes orgânicos e condicionantes físicos do solo. Deve ser transplantado no inverno, quando estiver em dormência.

 

amoraAmora-preta: É uma espécie arbustiva de porte ereto ou rasteiro, geralmente dotada de espinhos. Sua coloração pode variar do branco ao negro e a sua casca é brilhante, lisa e frágil quando madura. É facilmente confundida com a framboesa, mas se diferencia pelo centro esbranquiçado.
As amoras são cultivadas desde regiões com invernos amenos até com frio intenso. O solo mais apropriado para a cultura são aqueles bem drenados com boa capacidade de retenção de água.
A variedade mais cultivada no Brasil é a Tupy. Sua colheita vai de meados de novembro a início de janeiro. Na implantação do pomar, os maiores custos referem-se ao preparo do solo, a mão de obra e a aquisição da muda. Depois de plantada, a amoreira tem uma vida útil de 15 anos. A produtividade é de até nove toneladas por hectare.

 

framboesaFramboesa: É uma cultivar de clima temperado, com exigência de frio para frutificar. Desenvolve-se melhor em solos profundos, bem drenados e com boa capacidade de retenção de água. A planta é florescente produzindo num primeira safra na haste mais velha e numa segunda fase na haste mais nova. A produtividade varia devido a região, sendo de cinco a seis toneladas por hectare.
Em geral, as plantas iniciam a produção um ano e meio após o plantio das mudas. A frutificação ocorre nos meses de novembro a fevereiro. Os frutos apresentam de 10 a 20mm de diâmetro, sabor variando de doce a ligeiramente ácido e aroma bastante peculiar. A coloração é um dos parâmetros utilizados na classificação das framboesas, havendo as vermelhas, pretas, roxas e amarelas. Os frutos devem ser colhidos no momento em que atingem a maturação completa.
É recomendado renovar o pomar, em média, a cada quatro anos, para evitar que a concorrência entre hastes prejudique a produtividade e a qualidade dos frutos. No Brasil, as principais cultivares são: Heritage, Autumm Bliss, Batum, Scepter e Southland.

 

Para divulgar a produção
Na metade do mês de dezembro, o município de Vacaria realizou a 11ª Feira de Pequenas Frutas, Artesanato e Mel e a 1ª Feira de Frutas Nativas do RS. Durante o evento, o público, estimado entre cinco a sete mil pessoas, pode assistir a palestras técnicas sobre novas variedades de amora-preta, morango e framboesa e também acompanhar oficinas culinárias com o uso das pequenas frutas e com as nativas. Na feira, foi acertado que Vacaria será um pólo de observação dos novos cultivares de pequenas frutas. Alguns produtores receberão as seleções e testarão as mudas, antes do lançamento. A feira tem por objetivo mostrar para a região os produtos cultivados.

Mais informações
Os agricultores que desejarem mais informações sobre o cultivo das pequenas frutas pode entrar em contato com a secretaria da Agricultura de Vacaria, através do telefone (54) 3232 1176, ou, ainda ligar para a  Embrapa Clima Temperado, de Pelotas. Telefone: (53) 3275-8100. A Embrapa Clima Temperado vai realizar o 6º Encontro Sobre Pequenas Frutas e Frutas Nativas do Mercosul, de 8 a 10 de abril de 2014. Este é um evento bianual que acontece desde 2004. Local: Auditório da Embrapa Clima Temperado.

 

Receita

Triffil de sorvete com frutas vermelhas

A instrutora do Senac-RS, Neusa Maria Boeira, ministrou oficinas de gastronomia durante a 11ª Feira de Pequenas Frutas, Artesanato e Mel. Ela ensina uma receita com pequenas frutas. Confira:

Sorvete Receita
1 litro de leite frio
1 colher (sobremesa) rasa
de emulsificante
1 colher (chá) de liga neutra
1 xícara e meia de açúcar
2 colheres (sopa) de leite
em pó
¼ creme de leite
Modo de Preparo
Bater tudo 3 minutos no liquidificador. Após, levar para o freezer em um refratário.
Quando endurecer bater na batedeira por 5 minutos. Por fim, levar para gelar

Chantilly
500g de creme de leite fresco
50g açúcar refinado
50ml leite de gelado
Modo de Preparo
Bater tudo na batedeira até ficar um creme fofo.

Frutas maceradas
100g amoras
100g framboesas
100g morangos
100g mirtilos
20g açúcar refinado
Modo de Preparo
Misture tudo e reserve por 5 minutos

Montagem do prato
Sorvete
Frutas maceradas
Chantilly
Frutas para decorar

 

 

Respostas de 6

  1. Boa tarde. hoje assisti o globo rural e vi que tem essa fruta (mirtilo) que minha neta é tão doida pra degustar. como eu faria pra comprar uma caixinha e mandar pra ela em Aracajú? pois moro em Borborema, interior de SP. Desde ja agradeço a atenção a mim dispensada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *