Período da brotação requer prevenção contra certas moléstias, como escoriose, antracnose e míldio
Estamos em período de brotação da videira. É especialmente nesta época de mudança de ciclo que são necessários cuidados especiais devido a algumas doenças que afetam a planta, entre elas a escoriose e a antracnose e o míldio. O produtor que não levar isso em consideração pode ter prejuízos sérios.
A utilização conjunta das várias formas de controle, como a resistência varietal e as práticas culturais, apresenta como vantagens a redução do uso de produtos químicos, a diminuição dos riscos de intoxicação e poluição ambiental e a melhoria na eficiência dos tratamentos fitossanitários.
De outra parte a proteção da videira é comumente feita pela aplicação de fungicidas e visa diretamente aos patógenos, impedindo a sua penetração. No entanto, a eficiência da proteção depende das características do produto, bem como da estratégia de aplicação.
O método, a época, a dose e o número de aplicações, bem como os produtos mais adequados, são aspectos que devem ser considerados nos programas de proteção. A identificação rápida e correta dos sintomas da doença que está ocorrendo no vinhedo é fundamental para prevenir sérias perdas tanto em produção quanto em qualidade. Confira abaixo e nas páginas 19 e 20 as características das principais moléstias que atacam a parreira nesse período.
Escoriose
Características gerais
Causada pelo fungo Phomopsis viticola (Sacc), a escoriose pode ser muito agressiva em regiões onde há alta umidade no período da brotação e logo depois dele. Geralmente, sua incidência é na primavera, quando os brotos começam a crescer e sob condições de temperatura superior a 8° C e umidade relativa do ar acima de 80%. Outras circunstâncias necessárias para sua ocorrência: que tenha chovido e que exista umidade livre sobre as brotações verdes, quando estas não estão protegidas. A escoriose atinge os tecidos verdes não-protegidos, quando existir água livre por diversas horas. Freqüentemente, é confundida com a antracnose. Onde a doença é endêmica (aparece todos os anos), tornase severa quando chove por diversos dias seguidos durante o início da brotação. Quando a temperatura estiver entre 5º e 7º C e os brotos tiverem de três a cinco centímetros de comprimento, estes são muito suscetíveis ao ataque da moléstia.
Sintomas
Nas folhas – Os primeiros sintomas que aparecem sobre a folha e as nervuras são pequenas manchas de cor escura (marromescuro), rodeadas por um círculo amarelo. Se ocorrerem em grande número, estas manchas podem necrosar uma parte da folha, levando-a a cair. As folhas da base muito infestadas ficam distorcidas e geralmente não atingem o tamanho normal. Quando as folhas e o cabinho forem muito atacados, as folhas tornam-se amarelas e caem. As localizadas além dos entrenós infestados desenvolvem-se normalmente.
Nos brotos – Sobre o broto verde, os primeiros sintomas aparecem logo após a abertura das primeiras folhas, na forma de manchas escuras, alongadas e geralmente sobre os três primeiros entrenós. Durante o período rápido de crescimento, estas manchas produzem fi ssuras no tecido cortical. Estas fi ssuras na epiderme e no córtex dos brotos tendem a cicatrizar durante o desenvolvimento, mas a região permanece áspera durante o amadurecimento do ramo.
Nos cachos e uva – Durante a primavera, manchas similares as dos brotos e das folhas podem aparecer sobre os pedúnculos do cacho. As lesões podem fi car inativas no verão, mas, no início do outono – havendo chuva, combinada com temperaturas baixas –, a doença pode ser reativada, resultando no ataque aos cachos e às uvas. Os frutos normalmente não são muito atacados: os sintomas aparecem geralmente sobre alguns cachos isolados e em algumas plantas. Entretanto, se ocorrerem chuvas durante a maturação, logo antes da colheita, podem aparecer manchas escuras sobre a uva.
Controle
Quando ocorre ataque severo durante o período vegetativo, recomenda-se realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica. No início da brotação, aconselha-se efetuar dois tratamentos com fungicidas protetores, o primeiro quando os brotos tiverem de um a três centímetros de comprimento (uma folhinha aberta) e o segundo, de 6 a 12 centímetros de comprimento (duas a três folhinhas abertas). Entretanto, em períodos muito frios, em que o crescimento dos brotos é lento, é aconselhável realizar uma ou duas aplicações suplementares. Também é muito importante a retirada dos restos de poda do vinhedo, quando ocorreu forte ataque do fungo.
Míldio
(peronóspora, mufa ou mofo)
Características gerais
O fungo Plasmopora viticola (Berk & Curt) é a causa da doença, que ocorre em regiões quentes e úmidas durante o ciclo vegetativo da videira. O fungo desenvolve-se com temperaturas entre 10° e 32° C – ainda mais facilmente quando entre 18º e 22° C. Todos os fatores que contribuem para aumentar o teor de água no solo, ar e planta favorecem o desenvolvimento do míldio: difi cilmente ocorre infecção se a umidade do ar for inferior a 75%. De outra parte, o risco será maior quando o período de água livre (chuva, orvalho ou neblina) for maior do que três horas e sob condições de céu encoberto. O fungo incide sobre todos os órgãos verdes da planta, preferencialmente naqueles mais tenros, desenvolvendo um talo que neles penetra para absorver a seiva. O tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas é de, em média, quatro dias, dependendo da idade da folha, cultivar, temperatura e umidade. Durante o período vegetativo da videira, podem ocorrer de cinco a dez ciclos de míldio.
Sintomas
Nas folhas – Os primeiros sintomas podem aparecer quando as folhas são ainda muito pequenas – com cerca de três centímetros de largura –, por sua grande sensibilidade nesta fase. Inicialmente, aparecem manchas amareladas na superfície da folha (mancha de óleo); na parte inferior, correspondente à mancha de óleo, surge uma mancha branca, constituída pela frutifi cação do fungo. Mais tarde, as manchas tomam coloração parda-avermelhada, podendo confl uir e abranger grande parte da folha. As folhas que apresentam muitas manchas em avançado desenvolvimento caem prematuramente, privando a planta de seu órgão de nutrição e interrompendo o desenvolvimento dos cachos e sarmentos, redundando no esgotamento da planta e em prejuízos na produção do ano seguinte.
Nos brotos – Quando o míldio ataca brotos novos, estes dobram a ponta (em formato de anzol) e fi cam cobertos por uma camada branca de frutifi cação do fungo, vindo a morrer. Se o ataque for sobre brotos maiores, forma manchas escuras; se atacar o nó dos brotos, os quebra.
Nos cachos e uva – O ataque do míldio sobre a inflorescência (antes da floração) provoca a queimadura e queda das fl ores, quando incide sobre elas diretamente ou através do pedúnculo. Sobre os cachos recém-formados, causa destruição total. Se o ataque acontecer mais tarde (bagoinhas), origina a podridão cinzenta. As bagas tomam uma coloração verde-azulada, tendo seu crescimento paralisado, por conta do que endurecem, cobrem-se de efl orescência (pó) branca, secam e caem. Quando o ataque ocorrer em bagas com mais da metade do tamanho normal, causa a podridão parda. Neste caso, a invasão ocorre pelo cabinho da uva e o fungo desenvolve-se no interior da polpa. A uva fi ca com manchas escuras (forma larvada) e deprimidas em vários pontos, toma coloração parda, torna-se endurecida e pode se destacar facilmente do cacho. Os grãos são suscetíveis ao ataque até o início da maturação.
Controle
Um aspecto fundamental para controlar o míldio é conhecer as condições climáticas ideais para seu desenvolvimento:
– Temperatura entre 10º e 32º C – ainda mais se próxima de 18º-22° C;
– Presença de água: se não chover continuamente
– ou mesmo com interrupções –, numa intensidade mínima de dez milímetros, não ocorrerá à infecção, a não ser em sua forma secundária (menos agressiva);
– Para a ocorrência de infecção secundária, é sufi ciente apenas uma garoa ou uma fi na névoa, por um período de duas ou três horas. As práticas culturais recomendadas para diminuir o ataque de míldio são drenar a umidade superfi cial do solo, aplicar tratamento de inverno e cortar as pontas dos brotos infestados. Entretanto, como nenhuma destas práticas é suficiente, recomenda-se a aplicação de fungicidas preventivos. A fase crítica é entre os estádios de floração a fechamento do cacho. Em regra, as cultivares americanas e híbridas são mais resistentes que as Vitisvinífera.
Antracnose
Características gerais
A antracnose, causada pelo fungo Elsinoe ampelina (de Bary), desenvolve-se em todos os órgãos verdes da planta e durante todo o ciclo vegetativo, se ocorrerem as condições ideais. Nas regiões de primavera úmida, com chuvas abundantes e freqüentes, associadas a ventos frios, a doença é mais agressiva. O fungo sobrevive de um ano para outro nas lesões dos ramos e gavinhas, bem como nos restos de cultura no solo, sob condições de alta umidade por períodos de 24 horas ou mais e com temperaturas acima de 2º C. A temperatura ótima para o desenvolvimento da moléstia é entre 15º e 18º C. Ela é especialmente agressiva em anos muito chuvosos na fase inicial do desenvolvimento vegetativo da videira.
Sintomas
Nas folhas – Formam-se pequenas e numerosas manchas circulares (de um a cinco milímetros de diâmetro), que, inicialmente, são pontas de aspecto amarelado, evoluindo para uma necrose do tecido, que, normalmente, desseca e cai, deixando a folha com inúmeros orifícios. Quando ocorrem sobre folhas novas, as manchas evitam que estas se desenvolvam normalmente e então a folha enruga-se. As lesões podem ser numerosas, ligando-se umas às outras ou permanecendo isoladas. As folhas novas são mais suscetíveis ao ataque. As lesões podem ocorrer sobre o limbo foliar, como nas nervuras e no cabinho.
Nos brotos – Nos brotos, nos sarmentos jovens e nas gavinhas, formam-se, inicial- mente, manchas de necrose pardo-escuras. Progressivamente, elas vão se alargando, aprofundando-se no centro, transformandose em verdadeiros cancros – acinzentados na parte central deprimida e pardos-escuros nas bordas levemente salientes. Sob condições de alta umidade, formam-se, na parte deprimida das lesões, massas rosadas de esporos do fungo. Quando o ataque ocorre sobre brotos novos, pode simplesmente interromper o seu crescimento, devido à união das lesões, comprometendo a safra do ano e a do ano seguinte.
Nos cachos e uva – Os cachos são suscetíveis à antracnose desde a sua formação até o início da maturação. As lesões no cacho e nos cabinhos são semelhantes às que ocorrem nos brotos. Nas bagas, a doença se manifesta isoladamente, na forma de manchas circulares (olho de passarinho), necróticas, de cor vermelho-escura. Quando completamente desenvolvidas, essas manchas deprimidas podem ter de cinco a oito milímetros de diâmetro, apresentando o centro acinzentado circundado por uma área parda-avermelhada. Sobre as bagas, o dano sucede se o ataque ocorrer durante a fase inicial do desenvolvimento, pois elas caem, comprometendo a safra. Acontecendo na fase fi nal, prejudica seriamente a uva de mesa e na uva para vinho pode causar prejuízos na vinifi cação – o cheiro de mofo.
Controle
Quando ocorrer ataque severo durante o ciclo vegetativo, é aconselhável realizar tratamento de inverno com calda sulfocálcica. Durante o período vegetativo, devemse aplicar os fungicidas recomendados para o controle da doença, iniciando quando a brotação tiver de cinco a dez centímetros de comprimento e seguindo até que as condições climáticas estejam favoráveis ao desenvolvimento da moléstia. Quando se usa fungicida de contato e chove mais de 20 milímetros, é aconselhável a reaplicação até 24 horas após a chuva. A fase crítica é o início da brotação, quando o controle é indispensável. A severidade da antracnose depende, principalmente, das condições locais de alta umidade e exposição a ventos frios. A retirada dos restos de poda é uma medida de grande efi ciência no controle da doença. Na fase inicial do desenvolvimento, como a área foliar é pequena, aconselha-se a aplicar produtos de contato até que o broto tenha, no mínimo, três folhinhas abertas. Após este estágio, podem-se aplicar produtos sistêmicos. A aplicação contínua (por mais de três vezes) do mesmo produto sistêmico poderá induzir o aparecimento de resistência.