A adoção de práticas contra uma das principais doenças fúngicas da videira – a antracnose, também conhecida por ‘varola’. deve ser este o ‘foco de atuação’ do produtor de uva nesta época, a de início de brotação, segundo o engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, assistente técnico em fruticultura e olericultura do escritório regional da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul.
Manifestando-se sobre a folha, flor, cacho, bagas (nas quais forma manchas típicas, chamadas ‘olho-de-passarinho’) e ramos novos, a moléstia pode reduzir a produção ou causar prejuízos na vinificação – dando ‘cheiro de mofo’ ao vinho. Por isto, é importante o viticultor atentar para seu controle desde o momento em que a doença começa a se manifestar – o início da brotação – até o começo da maturação, aponta Todeschini.
O agrônomo observa que, como o frio é fator determinante para a ‘varola’, o comportamento do clima em setembro (quando se dá o início da brotação da maioria das variedades na Serra Gaúcha) é “crucial” para seu surgimento. “E setembro é ainda mês de inverno – portanto, sujeito a temperaturas baixas frequentes”, comenta. De outra parte, a antracnose também tem como fator condicionante (importante, mas em menor escala) para seu aparecimento a ocorrência de umidade do ar elevada.
Meios de controle da doença
Considerando justamente o fato de a antracnose ter na umidade do ar elevada um fator condicionante para seu aparecimento, uma das ações que o viticultor pode adotar para enfrentar a ‘varola’ é proteger seu vinhedo contra o vento sulino, pelo uso de ‘cortina verde’ ou quebra-ventos. Todeschini, a propósito, assinala que a recomendação é o uso de espécies de vegetação perene (como cipreste, álamo, pinus ou ligustrina) ou nativa (o mato típico, considerado a melhor alternativa). No entanto, se o produtor quiser espécies provisórias, de brotação anual, pode optar pelo capim-elefante (principalmente o vermelho) e a cana-de-açúcar, anota o engenheiro agrônomo.
Outra frente de atuação é a efetivação de tratamentos foliares.
O assistente técnico da Emater/RS informa que na produção orgânica o mais eficaz destes é a ‘água-de-cinzas’ – que consiste em cinza de madeira diluída em água, em 1/100, ou seja, em proporção sobrenadante.
Na ‘produção convencional’, são dois os grupos de fungicidas mais utilizados (de acordo com o modo de ação): os de contato/protetores e os sistêmicos. “A questão é que se encontra bastante equívoco no uso destes”, adverte Todeschini.
De acordo com ele, o problema mais comum que se dá na utilização de produtos de ação sistêmica é a aplicação no início da brotação, momento inadequado para tanto. A época correta de uso será apenas cerca de 20 dias depois do início da brotação, quando a planta apresentar três a quatro folhas plenamente abertas, expandidas – o que viabiliza a circulação da seiva e, com isso, do princípio ativo. Os mais utilizados são o tiofanato metílico (presente em produtos como o Cercobin 700 (PM)) e o difenoconazole (Score (CE)).
Em relação aos produtos de contato/protetores, o agrônomo nota que eles atuam a qualquer momento (em qualquer fase do ciclo da videira), posto que sua função seja fazer a proteção externa dos órgãos da planta (ou seja, independem da fisiologia desta).
Ilustração de agricultor vestido com os principais itens de EPI disponíveis no mercado para a prática de aplicação.
Recomendações para aplicação
Quando o assunto é a efetivação de aplicações de produtos, é sempre oportuno observar que é necessário seguir uma série de recomendações. Enio Ângelo Todeschini menciona, entre outras:
01) Evitar a realização em momentos de temperaturas extremas;
02) Evitar momentos de ocorrência de vento;
03) Utilizar os devidos equipamentos de proteção individual (EPIs), no caso: botas, macacão impermeável, luvas, máscara, óculos, chapéu etc.;
04) Acrescentar um ‘espalhante adesivo’ à calda;
05) Usar somente a dosagem recomendada pelo fabricante. A respeito disso, o assistente técnico da Emater/RS diz que, com a equivocada intenção de garantir eficiência, os viticultores muitas vezes utilizam produto além do necessário. “Ele não precisa usar a mais, por ‘margem de segurança’: a dose recomendada já é a certa”, reitera. Ao incorrer em tal erro, o agricultor “gasta mais dinheiro, indevidamente, e lança produto a mais no meio ambiente, correndo o risco de causar intoxicação às plantas”, segue advertindo.
Pulverizador regulado – Ainda em tal sentido, é importante para o produtor buscar fazer as pulverização com equipamento bem regulado. “O que tem ocorrido é o uso de pulverizadores com pressão muito alta nas turbinas”, anota Todeschini. Segundo ele, são três as consequências diretas de tal equívoco: 01) O uso de um volume de calda acima do necessário; 02) O ferimento da planta, por conta da intensidade da cortina de ar gerada; 03) A redução da vida útil do equipamento.
Foto: Emater-RS / Divulgação