Cresce demanda por produtos livres de aditivos químicos e com isso, a oportunidade de investir em um novo nicho de mercado

A produção orgânica de alimentos está sendo cada vez mais estimulada no Brasil, influenciada pelo aumento da demanda. A expectativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é que este segmento movimente cerca de R$ 2,5 bilhões em 2016. Conforme o órgão, atualmente há cerca de 11,5 mil produtores no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, gerenciado pelo Mapa. O banco de dados é liderado pelos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A gama de itens produzidos sem a utilização de aditivos químicos também é variada. Conforme o órgão, a área de produção orgânica no país abrange 950 mil hectares.
Além do cultivo de frutas, hortaliças, cereais, grãos e laticínios, ganha espaço a criação de animais pelo sistema orgânico, alternativas rentáveis para agricultores que buscam a diversificação de sua propriedade. Recentemente, o jornal A Vindima apresentou o sistema de produção de frangos orgânicos. Nesta edição, a reportagem foi em busca de informações sobre a produção de ovos orgânicos, que apesar de ainda ser pequena, atende um segmento específico do mercado e vem conquistando novos consumidores, que estão dispostos a pagar mais caro por esses produtos.
O engenheiro agrônomo, Dr. em Zootecnia e pesquisador, do Grupo de Pesquisa em Produção de Aves (GPPA) da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), Valdir Silveira de Avila, dá mais detalhes sobre o tema. Primeiramente, ele destaca que para produzir ovos orgânicos é necessário, obviamente, que a propriedade siga o manejo orgânico. “A produção de aves orgânicas é semelhante às demais, pois todos precisam seguir as normativas do Programa Nacional de Sanidade Animal, estabelecido pelo MAPA, que regula a produção no Brasil, seja no sistema convencional, no colonial, no caipira, no orgânico ou no de base ecológica. Porém, o sistema orgânico é mais restrito que os demais, pois é regulamentado por uma normativa especial (046, de 6 de outubro de 2011)”.
No caso da produção de ovos orgânicos, o pesquisador explica que a diferença principal está na alimentação das aves. Primeiramente, as galinhas poedeiras devem comer exclusivamente alimentos de base orgânica, que, de preferência, sejam produzidos na própria propriedade. Contudo, a Normativa 046/2011 prevê que no caso de escassez ou em condições especiais “será permitida a utilização de alimentos não-orgânicos na proporção da ingestão diária, com base na matéria seca, de até 20%”. “Também não é possível alimentar essas aves apenas com plantas ou itens da horta. Isso pode ser um complemento, mas elas precisam receber uma quantidade diária de energia e proteína advinda de uma ração balanceada”, observa Avila.
Conforme o pesquisador, a procedência das aves é outro ponto importante. “Os incubatórios devem ser registrados como produtores orgânicos, ou seja, que cumprem todas as exigências que esse sistema exige. Depois disso, todos os passos devem ser seguidos conforme preconiza a legislação brasileira para esse tipo de sistema”, observa.

Manejo diferenciado

O bem-estar dos animais também é importante para a produção de ovos. Por isso, o manejo das aves é um ponto importante. No sistema orgânico, ao invés das galinhas poedeiras ficarem trancadas em gaiolas, são criadas soltas nos piquetes, que são áreas externas, fora do galpão. Esses piquetes devem respeitar a densidade máxima de três metros quadrados por ave para o sistema extensivo ou um metro quadrado disponível por ave para o sistema rotacionado.
Avila explica que o método extensivo consiste em um único piquete, maior. Já o rotacionado é dividido em áreas menores. Nesse caso é possível fazer a rotação, ou seja, a alternância de piquetes, para que, por exemplo, seja realizado o vazio sanitário da área ou para que a cobertura verde possa rebrotar para servir de alimento para as aves novamente. A Normativa 046/2011 estabelece ainda, que a quantidade de aves para cada piquete é de, no máximo, seis por metro quadrado.

Custo de implantação

A maior dificuldade do sistema de produção de ovos orgânicos, conforme o pesquisador da Embrapa, é a produção dos alimentos para as aves. Como devem ser 100% de origem orgânica, acabam tornando os custos de produção mais elevados do que no sistema convencional. “O agricultor que tiver interesse em produzir ovos orgânicos precisa fazer um estudo prévio para saber, por exemplo, como irá obter a alimentação desses animais, o custo disso, e qual será o valor de entrega desse produto que está sendo produzido. Com base nesse estudo será possível fazer a conta para saber se é viável ou não”.
Quanto aos custos de implantação, ele destaca que variam de acordo com cada região. Para se ter uma ideia mais aproximada de qual seria o investimento necessário é preciso analisar o valor do metro quadrado do terreno, a disponibilidade de alimentos, entre outros. Cada caso deve ser analisado especificamente. Para quem quiser mais informações, a Embrapa Suínos e Aves mantém um canal direto para troca de informações e auxílio de produtores que têm dúvidas e que pensam em investir nesse nicho de mercado.

Benefícios

O sistema de produção orgânica garante o respeito ao meio ambiente, preservando os recursos naturais de cada propriedade, o que resulta em uma produção de qualidade. A diferença entre ovos orgânicos e os convencionais inicia na maneira como a galinha é criada, num sistema mais natural, baseado no bem-estar animal, e recebendo uma alimentação balanceada, com fornecimento controlado de medicamentos. Contudo, Avila pontua que é relativo afirmar que um ovo orgânico é mais saudável que o convencional. “A diferença evidente é a coloração, que no caso dos orgânicos é muito mais intensa devido à forma de alimentação dessas aves. No mais, ambos os métodos precisam ter os mesmos cuidados sanitários, de higiene e de bio-segurança”, aponta o especialista.

As diferenças

Ovos de granja/convencionais
Diferente do que possa parecer, ovos de granja não têm esse nome porque são produzidos na ‘granja’. Essa categoria especifica a produção em grande escala, embora também seja regulamentada por uma normativa que prevê o bem-estar animal. A diferença é que as poedeiras ficam confinadas em gaiolas e recebem ração de procedência não-orgânica, composta por antibióticos e resíduos animal.

Ovos caipiras
Os ovos caipiras também são chamados de ‘colonial’ e de ‘capoeira’. Hoje, a legislação preconiza que a linhagem das galinhas poedeiras deve ser específica para esse sistema. Essas aves são criadas fora de gaiolas, ciscando livremente e põem os ovos em ninhos cobertos. A alimentação nessas criações mistura produtos de base vegetal e rações. Além disso, o uso de remédios é controlado.

Ovos Orgânicos
Ovos orgânicos são produzidos por galinhas que recebem uma alimentação 100% orgânica, ou seja, sem agrotóxicos e fertilizantes químicos. Não é permitido também usar remédios para crescimento e o uso de remédios é controlado. Com essas restrições, o ovo orgânico não vem com qualquer resíduo químico. As galinhas são criadas em condições que prezam seu bem-estar e seu comportamento natural. Na produção orgânica são proibidas as práticas da debicagem e do confinamento em gaiolas.

Certificação

Não basta dizer que os ovos são orgânicos. Para vender os produtos com tal especificação é necessário que a produção seja certificada por um órgão regulador. Nenhum produtor pode vender seus produtos como ‘orgânicos’, não legalmente, sem possuir a certificação e o selo ‘Produto Orgânico Brasil’. Essa é uma garantia para os consumidores de que o produto adquirido foi produzido de acordo com a Legislação Federal do MAPA, que regulamenta a produção. Por isso, na hora de comprar, observe se a embalagem possui o selo, caso contrário, desconfie, afinal, você está pagando cerca de 30% a mais pelo fato do produto ser orgânico.

Mais informações
Embrapa Suínos e Aves
(49)3441-0454
E-mail: suinos-e-aves.imprensa@embrapa.br
Site: www.cnpsa.embrapa.br