Setor considera que a seca e as altas temperaturas
prejudicaram o crescimento e a qualidade dos frutos
Com a colheita da maçã chegando ao terceiro mês no Brasil, já é possível traçar um parâmetro de como será a safra de 2014. Inicialmente, a expectativa do setor era de colher em torno de 1,2 milhão de toneladas em todo o Brasil, ante 1,063 de 2013. No Rio Grande do Sul também esperava-se superar a produção do ano anterior, que foi de 483 mil toneladas, em cerca de 10% a 15%, atingindo a marca de 560 mil toneladas da fruta.
Contudo, em decorrência da seca e das altas temperaturas registradas no mês de janeiro, isso não se concretizou. Dessa forma, ao que tudo indica, a safra deste ano será menor que a anterior. A estimativa nacional é que haja um decréscimo de 5%, devendo chegar a, no máximo, 951mil toneladas. No RS, o setor acredita que a produção chegará a 450 mil toneladas. “Isso irá acontecer porque os frutos não atingiram o tamanho que era almejado. Além disso, também houve uma queda excessiva das frutas, ocasionada pelo calor intenso. Alguns pomares registraram queda de até 15% “, contabiliza, o presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi) e diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), Leandro Bortoluz.
Ele explica que um fator muito importante para a qualidade da fruta é a amplitude térmica, ou seja, a diferença entre a maior e a menor temperatura registrada durante o dia. Segundo o técnico, neste ano, como os dias e as noites foram muito quentes, a variação foi muito baixa. “Essa variante de temperatura é uma condicionante para que tenhamos a formação do pigmento vermelho dos frutos. Como não houve isso, tivemos a falta de formação da coloração vermelha. O resultado são frutos mais amarelados”, define. As altas temperaturas também contribuíram para a aceleração da maturação e propiciando o aumento de queimaduras dos frutos pelo sol. Aliado a isso, a grande quantidade de chuvas registradas no mês de fevereiro resultaram na perda de frutos em virtude de rachaduras.
Conforme Bortoluz, tais fatores acabaram depreciando a qualidade. “A perda da qualidade reflete diretamente na diminuição da quantidade de frutos de categoria 1, que é que mais vale. As frutas são enquadradas em categorias 1, 2 e 3. Se temos menos frutos da categoria 1, obviamente o preço pago ao produtor se torna menor”. Atualmente o valor médio pago pelo quilo da maçã é de R$ 0,80 a R$1,00.
Em geral, a safra de maçã no Estado iniciou no mês de dezembro, com as variedades mais precoces. Atualmente os produtores estão terminando de colher a qualidade Gala e seus clones. A partir de 20 de março será a vez da Fuji Suprema. Os demais clones da Fuji serão colhidos a partir da primeira semana de abril. A variedade que encerra a colheita é a Pink Lady, no mês de maio.
Como evitar prejuízos
No ano de 2013, o Brasil produziu em torno de 1,06 milhão de toneladas de maçã (a expectativa era de 1,2 milhão). Desse montante, inicialmente espera-se destinar cerca de 15% para a indústria e 60 mil para a exportação. O restante, cerca de 960 mil toneladas, iria para consumo interno. Bortoluz explica que para que o produtor não seja prejudicado com a queda dos preços da fruta, em decorrência da grande oferta, eles deveriam armazenar seus produtos durante o período de safra para que sejam vendidos na entressafra. “Hoje o Brasil tem capacidade de armazenamento de 750 a 800 mil toneladas. Então, calculamos que dos 960 que sobram para comercialização interna, restariam apenas 210 mil para serem vendidas em um período de quatro meses (durante a safra). O restante iria para o mercado quando a oferta fosse menor. Essa estratégia fará com que os preços se mantenham estáveis”.
Pomicultura brasileira atinge marco histórico
Apesar da queda na produção e na qualidade da maça, o Brasil ainda tem muito a comemorar. Em 2013, após 16 anos de trabalho, conseguiu-se erradicar a Cydia pomonella, uma lagarta introduzida no país através da Argentina e que ataca os frutos, causando grandes prejuízos nos pomares. Conforme Leandro Bortoluz, essa é uma conquista inédita em todos os países do mundo. “Em decorrência disso, no mês de abril teremos uma reunião em Vacaria com representantes do Ministério da Agricultura para oficializar essa constatação. Isso vai ser um marco que fará com que existam restrições na hora de importar maçãs de outros países. Algumas obrigações fitossanitárias precisarão ser cumpridas para que essa praga não se restabeleça novamente no país”, comemora.