Projeto viabiliza produção de biogás a partir de dejetos suínos e bovinos

Implantação de biodigestor trás benefícios ao pequeno e ao grande produtor, tanto na
geração de energia, quanto na produção de gás para o consumo e de fertilizantes

Você sabia que apenas um porco pode produzir de cinco a oito quilos de dejetos (água, fezes e urina) por dia? É o equivalente ao que produzem dez humanos. Imagine, então, uma criação com mais de 1000 suínos. O dado é preocupante, se analisarmos do ponto de vista ecológico: onde e como descartar tantas toneladas de detritos animais? A contaminação do solo, lagos e rios por esses resíduos, a infiltração de águas residuárias em lençóis freáticos e o desenvolvimento de moscas e gases malcheirosos são alguns dos problemas de poluição ambiental provocados pelos dejetos dos animais.

Buscando uma solução para essa questão, há mais de 10 anos os produtores rurais Lírio Oldoni e Jorge Tecchio e Renato Tecchio, sócios da granja de suínos São Roque, localizada na Capela São Roque, no interior de Serafina Correa, no Rio Grande do Sul (RS), implantaram na propriedade um biodigestor para transformar os resíduos básicos dos animais em biogás. A granja possui 1,1 mil criadeiras, que abrigam cerca de 600 leitões por semana em sistema de rodízio.

Renato Tecchio, Lírio Oldoni e Jorge Tecchio: produtores rurais investiram nos biodigestores
Renato Tecchio, Lírio Oldoni e Jorge Tecchio: produtores rurais investiram nos biodigestores

 

Eles possuem, ainda, mais dois biodigestores em outras duas propriedades, onde também produzem uma quantidade grande de dejetos. “Também tenho uma creche de suínos e a criação de gado de leite. Então, utilizo os dejetos desses animais no biodigestor”, explica Oldoni, que atualmente possui 85 vacas, que produzem em torno de 2,3 mil litros de leite por dia, produção que tem venda garantida para a Cooperativa Languiru, de Teotônia (RS). No local, ainda existe uma creche de suínos com capacidade para 1,5 mil animais. Já o produtor Jorge Tecchio cria em suas terras cerca de 150 vacas de leite, cuja produção é entregue a Lactalis do Brasil, localizada no município gaúcho de Fazenda Vilanova.

Jorge Tecchio explica que inicialmente o gás gerado era utilizado somente no sistema de aquecimento dos leitões e para aquecer a água das três propriedades. Contudo, há cerca de um ano os sócios investiram na compra de um gerador de energia com capacidade para gerar 100 kva. “Hoje, nossa produção energética equivale a cerca de R$ 5 mil por mês. Esse valor refere-se aos meses de inverno, quando utilizamos parte do gás para aquecer os leitões. Nesse período, a nossa economia é de aproximadamente 50%. No próximo verão, quando estaremos com todos os biodigestores ligados ao gerador, esperamos chegar próximo de 100% de economia de energia elétrica, ou seja, nós estamos gerando essa energia ao invés de compra-la de uma concessionária”.

Benefícios

Biodigestor utiliza dejetos de suínos para a geração de biogás.
Biodigestor utiliza dejetos de suínos para a geração de biogás.

O projeto de biodigestor trás benefícios ao pequeno e ao grande agricultor, tanto na geração de energia elétrica, quanto na produção de gás para seu consumo. O biogás pode ser aproveitado na propriedade como combustível, servindo para movimentar motores, gerar energia elétrica e aquecer água, animais ou casas nos meses de frio.

Contudo, o produtor rural Lírio Oldoni salienta o maior benefício da implantação do sistema de geração de biogás é a preservação do meio ambiente, já que ocorre um melhor aproveitamento dos dejetos dos animais do sítio, evitando a emissão de gases poluentes, que contribuem para o aquecimento global. “Após passarem pelo tratamento, esses excrementos ficam mais suaves, com carga orgânica mais baixa. É o biofertilizante: um adubo orgânico de qualidade, que pode ser usado em pastagens e lavouras, sem nenhuma preocupação, pois não queimam as plantas e não contaminam o solo e as águas”, explica.

O também produtor rural Jorge Tecchio elenca outros benefícios. “Quando a fermentação dos dejetos é feita em um biodigestor e não a céu aberto, o mau cheiro se transforma em gás. O mesmo ocorre com o produto resultante desse processo, ou seja, não tem aquele mau cheiro quando aplicado na lavoura. Outra coisa, como o biodigestor é coberto, quando chove não entra água. Por isso, o volume de excremento é menor”, observa. Outro benefício, obviamente, é a economia de energia elétrica, que já chega a 50% nas propriedades dos três sócios e que, em breve, poderá chegar a 100%. (Continua na página 11).

Investimento

O produtor rural Jorge Tecchio destaca que a implantação do sistema de biogás é dividida em duas partes: a primeira é a construção do biodigestor, que pode ser construído em propriedades de qualquer tamanho: de pequenas a grandes. O segundo passo é a aquisição do gerador de energia. “O tamanho do biodigestor será definido de acordo com o volume de dejetos produzidos, pois ele trabalha em sistema de fluxo contínuo, ou seja, está sempre cheio. Por exemplo, uma granja que em 30 dias produz 100 metros cúbicos (m³) de dejetos, o tamanho do biodigestor deve ser de 100m³”, explica.

No caso deles, o investimento foi alto para viabilizar todo o material necessário, o que inclui os três biodigestores e um gerador. “Acredito que investimos um total aproximado de R$ 500 mil. Somente o gerador custou perto de R$ 100 mil. Porém, vale ressaltar que o nosso empreendimento é de grande porte. Por isso, necessitamos de equipamentos maiores e mais caros. Isso irá depender da produção da propriedade”, salienta.

Os produtores contam que o projeto implantado por eles foi financiado pelo Banco do Brasil, por meio do Programa ABC – Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura –, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento). “Esse é um projeto viável, inclusive em propriedades menores, pois mesmo que o produtor não utilize o gás para energia, só pelo fato de estar em dia com as questões ambientais, já vale a pena”, observa Lírio Oldoni.

Como funciona um biodigestor

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Um biodigestor nada mais é do que um reservatório coberto com lona plástica. O tanque que vai receber os dejetos tem paredes revestidas com concreto ou lona. O tamanho e a profundidade variam de acordo com o lugar e o volume de dejetos de cada criação. O material entra no tanque e vai se deslocando lentamente até sair do outro lado. Durante o percurso, que dura cerca de 30 dias, ocorre o tratamento do material, que se torna menos poluente, como explica Jorge Tecchio. “Dentro do biodigestor as bactérias presentes nos dejetos consomem a matéria orgânica proveniente da granja. É um processo biológico onde toda a matéria orgânica não digerida pelos animais é decomposta pelas bactérias no biodigestor, que vão se alimentando e produzindo o biogás”, detalha o produtor rural, que também é graduado em Gestão Ambiental.

Saiba mais
Equivalência energética
Um metro cúbico (1 m³) de biogás equivale
energeticamente a:
1,5 m³ de gás de cozinha;
0,52 a 0,6 litro de gasolina;
0,9 litro de álcool;
6,4 KWh de eletricidade;
2,7 kg de lenha (madeira queimada).

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