Embrapa Uva e Vinho
Pesquisadores
Marcos Botton e Cléber Antonio Baronio
Em áreas de produção de uvas da região Sul do Brasil tem se observado um aumento significativo da incidência de pulgões, principalmente em vinhedos cultivados no sistema de cobertura plástica. As principais espécies que ocorrem são o pulgão-preto-da-videira (Aphis illinoisensis Shimer) e o pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii Glover) (Hemiptera: Aphididae) (Figura 1).
Em função do modo de alimentação dos pulgões, os principais danos causados são a redução no crescimento das plantas, deformação nas folhas novas e brotos e a ocorrência da fumagina (Capnodium salicinum Mont.), fungo que se desenvolve a partir da liberação de uma solução açucarada (honeydew) e que reduz o valor comercial dos frutos destinados ao consumo in natura.
O pulgão-preto-da-videira é originário da América do Norte e causa danos principalmente em mudas novas (Figura 2-A). Por outro lado, o pulgão-do-algodoeiro, é uma espécie polífaga considerada praga em diversas culturas agrícolas, encontrada recentemente na videira alimentando-se exclusivamente das folhas (Figura 2-B), tendo como principal dano a ocorrência da fumagina. (Figura 2-C).
Figura 2. Infestação de Aphis illinoisensis em brotações (A) e de Aphis gossypii em folhas de videira (B), resultando no desenvolvimento da fumagina nos cachos (C).
Embora os pulgões não sejam transmissores de doenças, o dano direto por eles causado tem sido significativo e exigido, muitas vezes, a realização de controle.
Biologia
Em uvas finas de mesa da cultivar Itália, o pulgão-preto-da-videira e o pulgão-do-algodoeiro apresentam quatro ínstares ninfais. A duração do ciclo biológico (ninfa-ninfa) é de aproximadamente oito dias. Apesar de ambas as espécies apresentarem longevidade semelhante, o pulgão-preto-da-videira apresenta maior fecundidade (22,75 ninfas/fêmea) do que o pulgão-do-algodoeiro (1,95 ninfas/fêmea). A reprodução ocorre de forma partenogenética vivípara, ou seja, as fêmeas originam descendentes sem a necessidade de acasalar com os machos, produzindo diretamente ninfas sem a fase de ovo.
De modo geral, os pulgõesapresentam comportamentos biológicos distintos na cultura da videira. O pulgão-do-algodoeiro possui maior dificuldade em se estabelecer e gerar descendentes na cultura, enquanto que o pulgão-preto-da-videira está melhor adaptado, apresentando inclusive maior capacidade reprodutiva.
Monitoramento
O monitoramento desses insetos-praga deve começar a partir da brotação da cultura, estendendo-se até a colheita. Para a detecção do pulgão-preto-da-videira devem-se observar os ponteiros dos ramos, enquanto que para o pulgão-do-algodoeiroa amostragem deve ser direcionada nas folhas, verificando a presença do inseto e/ou a ocorrência de fumagina nas folhas (Figura 2-B) ou nas bagas (Figura 2-C). O controle deve ser realizado quando 5% de plantas estiverem com colônias de pulgões numa amostragem semanal, procurando direcionar o tratamento para os focos de infestação.
Controle Biológico
Os pulgões são bastante atacados por inimigos naturais, principalmente por diferentes espécies de parasitoides(Figura 3). Isso deve ser considerado pelos produtores antes da aplicação de inseticidas.
Químico
O controle químico é a prática mais adotada para o controle de pulgões em videira, naquelas situações em que são observadas infestações elevadas. Dentre os inseticidas com uso autorizado para a cultura, merece destaque o controle a partir de neonicotinoides, imidacloprido e tiametoxam. Esses inseticidas são eficazes no controle de pulgões quando aplicados via solo ou foliar, sendo o tratamento via solo uma boa alternativa para preservar polinizadores e inimigos naturais. Ao serem aplicados via solo eles também auxiliam no controle de outras espécies-praga da cultura, como a filoxera-da-videira Daktulosphaira vitifoliae (Fitch) (Hemiptera: Phylloxeridae), a pérola-da-terra Eurhizococcus brasiliensis Wille (Hemiptera: Margarodidae), além de cochonilhas da parte aérea.
Uma alternativa ao controle químico para o manejo de A. illinoisensis e Aphis gossypii em videira é o uso da azadiractina, inseticida derivado da planta de nim – Azadirachta indica A. Juss (Meliaceae). Experimentos conduzidos com uma formulação comercial contendo 1,2% de ingrediente ativo (i.a.) de azadiractina proporcionaram uma redução populacional do pulgão-preto-da-videira A. illinoisensis e do pulgão-do-algodoeiro A. gossypii de aproximadamente 50%. Por não apresentar carência, a azadiractina pode ser uma alternativa para uso em sistemas orgânicos de produção ou na pré-colheita de uvas finas de mesa. Esse fator é ainda mais importante quando a videira é cultivada sob cobertura plástica, em que a carência dos produtos aumenta em até três vezes e o problema com resíduos é bastante crítico, principalmente devido à ausência da lavagem dos produtos pela água da chuva.
Outro ponto importante para o manejo desses insetos é o cuidado no uso de adubos nitrogenados, visto que o nitrogênio em excesso contribui para o aumento das infestações de pulgões. Dessa forma, o controle recomendado para A. illinoisensis e A. gossypii na cultura da videira ainda é baseado na aplicação de neonicotinoides, sendo possível também contar com a azadiractina no manejo de pré-colheita em uvas finas de mesa em plasticultura e/ou em sistemas orgânicos de produção.