Que tal investir em oliveiras?

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Expectativa é que em 2018 sejam produzidos no Brasil cerca de 150 mil litros de óleo de oliva, um aumento de 42%, visto que na safra anterior a produção fechou em 105 mil litros

Mirian Spuldaro

Quando pensamos em comprar um azeite extravirgem logo vem à mente os rótulos clássicos espanhóis, italianos, portugueses, argentinos ou chilenos. A tradição e a qualidade dos produtos elaborados pela maioria dos produtores desses países são indiscutíveis. Porém, eu, pessoalmente, quando estou em frente à prateleira escolhendo meus azeites, sempre me questiono: em que condições chegam aqui no Brasil? Será que suas características organolépticas estão preservadas depois de uma longa viagem em condições adversas? Então, quando possível, recorro aos azeites brasileiros, pois, assim como vinhos, queijos e cervejas, o Brasil possui produção de azeites de excelente qualidade. Além disso, por serem produzidos aqui, a chance de termos em nossas mesas um produto fresco é muito maior.
Em fevereiro de 2018, a primeira extração comercial oficial de azeite extravirgem brasileiro, ocorrida em Maria da Fé, em Minas Gerais, completa dez anos. Nessa última década, muita coisa mudou nesse setor, desde a quantidade de hectares plantados, que hoje chega a seis mil, até a qualidade do produto elaborado. Os dados da safra de 2018 ainda não foram totalmente computados, mas de acordo com o Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva), a expectativa é que neste ano, apesar das geadas no Rio Grande do Sul, com compensação da produção no Sudeste (Minas Gerais e São Paulo), sejam produzidos cerca de 150 mil litros de azeite, um aumento de 42%, visto que em 2017 a produção fechou em 105 mil litros.
Apesar dos números serem crescentes, a Associação Nacional dos Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliva acredita que menos de 1% do que é consumido no Brasil é produzido aqui. A entidade destaca que anualmente são investidos R$ 400 milhões na importação de azeitonas de mesa e azeite, vindos principalmente da União Europeia (85%) e da Argentina (13%). Isso faz do Brasil o segundo maior importador mundial de azeite, com 60 mil toneladas em 2017, perdendo apenas para os Estados Unidos. O consumo per capita brasileiro hoje é de 0,35 litro.

Regiões produtoras

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Olival da Olivas do Sul Agroindústria, em Cachoeira do Sul/ FOTO/OLIVAS DO SUL

O Rio Grande do Sul é hoje o maior produtor do Brasil. Possui 3.464 hectares de plantações de azeitonas. Conforme o Cadastro Olivícola do RS – 2017, realizado pela Câmara Setorial das Oliveiras, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, o Estado conta com 145 produtores rurais, em 56 municípios, sendo oito indústrias e 20 marcas de azeite. Em 2018, os produtores gaúchos devem produzir entre 50 e 55 mil litros de azeite, ante 57.873 litros.
A Serra do Sudeste é a região gaúcha que apresenta a maior área plantada, com 1.778 hectares. A produção se estende por outras regiões do Estado, como Campanha/Fronteira Oeste, com 599,7 ha; Depressão Central, com 453 ha; região Metropolitana/Costa Doce, com 422,4 ha; Serra Nordeste, com 146 ha; e Norte/Missões/Planalto, com 65 ha. Os municípios com maior plantio declarado no RS são Canguçu, Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado, Cachoeira do Sul, Santana do Livramento, Bagé, Caçapava do Sul e Barra do Ribeiro.
Além do Rio Grande do Sul, o cultivo de oliveira é registrado na região Sudeste, nos Estados de Minas Gerais, em algumas regiões serranas de São Paulo e do Rio de Janeiro e no Espírito Santo (um hectare), esse último, ainda de forma experimental, localizado nos municípios de Santa Tereza e Venda Nova do Imigrante. Juntos, os produtores de azeitonas e de azeite do Sudeste, cerca de 200, em mais de 60 municípios, projetam produzir em torno de 80 mil litros de azeite em 2018, o dobro do que foi produzido em 2017, cerda de 42 mil litros.
Nos Estados de Santa Catarina e Paraná, a produção ainda é incipiente. Conforme dados da Produção Agrícola Municipal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Santa Catarina são cerca de 40 hectares cultivados nos municípios de São Miguel do Oeste (oito ha), Guaraciaba (oito ha), Rio do Sul (12 ha) e Presidente Getúlio (12 ha). Já no Paraná, a produção é de aproximadamente 86 hectares, sendo 70% no município de Ventania.
De acordo com o engenheiro agrônomo Luiz Fernando de Oliveira, coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a região da Serra da Mantiqueira (que abrange os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro), responde hoje por 60% da produção da região Sudeste. Para 2018, espera-se elaborar cerca de 32 mil litros de azeite por lá. Em Minas Gerais, a produção está concentrada nos municípios de Maria da Fé, Poços de Caldas, Aiuruoca, Alagoa, Delfim Moreira, Gonçalves, entre outros.

Pioneiros na olivicultura no RS

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José Alberto Aued, proprietário dos Azeites Olivas do Sul

Se hoje o RS se coloca como maior produtor nacional de azeite extravirgem, é por que empresários como José Alberto Aued e Vani Maria Ceolin Aued acreditaram na cultura olivícola quando pouco se sabia sobre ela por aqui. A cidade de Cachoeira do Sul foi escolhida para a implantação, no ano de 2006, de um pomar de oliveiras de 12 hectares. “Em 2010 já estávamos com nosso azeite nas gondolas do supermercado, com marca, código de barras, etc…”, conta Vani Maria, fazendo referência ao Olivas do Sul, o primeiro extravirgem produzido em escala comercial no Brasil.
Hoje, já são 25 hectares de oliveiras, entre 11 e três anos, que rendem uma produção média que varia de seis a dez mil quilos de azeitonas por hectare. Conforme Vani Maria, nos últimos três anos a Olivas do Sul tem elaborado uma média de seis mil litros de azeite. “Nos últimos anos, em função do granizo, tivemos uma queda na produção. Tivemos de recuperar nosso pomar. Hoje, encontra-se totalmente recuperado e pronto para uma grande safra em 2019”, projeta. Além disso, a empresa investiu em mais 100 hectares de oliveiras, hoje com dois anos, em Encruzilhada do Sul. No total, são dez variedades diferentes cultivadas.

Maior olival em área contínua do país

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Luiz Eduardo Batalha, dos Azeites Batalha/ FOTO AZEITES BATALHA

Um dos maiores produtores de azeite do Brasil está localizado no Rio Grande do Sul, mais especificamente no município de Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste. Após muita pesquisa, o empresário paulista Luiz Eduardo Batalha apostou no Paralelo 31 (mesma latitude de regiões produtoras do Chile, da Argentina, da África do Sul e da Austrália) como o terroir ideal para o plantio de azeitonas. Por lá, em 2010, implantou as primeiras árvores. Quatro anos depois, colhia os primeiros frutos, que deram origem ao azeite extravirgem intitulado Batalha.
A Estância Guarda Velha hoje concentra o maior olival em área contínua do país. Já são 400 hectares plantados, com 14 diferentes variedades. Conforme o gerente da Oliva Agroindustrial, dona da marca Batalha, Rossano Lazzarotto, em 2023 o olival da empresa alcançará plena produção, quando se pretende elaborar 400 mil litros de azeite. A safra 2018 rendeu em torno de 100 toneladas de azeitonas e 15 mil litros de azeite, cerca de 15% a mais que na safra anterior.
O azeite Batalha vem conquistando o mundo em diversas competições internacionais. Nos dois últimos anos foram sete premiações. Em 2016 e em 2018 foi selecionado entre os 500 melhores Azeites de Oliva do Mundo e integra o conceituado guia italiano Flos Olei 2018, o qual reúne amostras de 51 países, dos cinco continentes.

Prosperato: venda de mudas e produção de azeite

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Rafael Marchetti / FOTO KLUWE DIAS

Outra marca de destaque no segmento olivícola gaúcho é a Prosperato. Detentora de diversos prêmios nacionais e internacionais que certificam a qualidade de seus azeites iniciou sua história por meio da Tecnoplanta, empresa do ramo de produção de mudas florestais, que em 2011 passou a produzir também mudas de oliveiras na cidade de Barra do Ribeiro, na Região Metropolitana do Rio Grande do Sul. Com a comercialização das mudas, a empresa decidiu investir no plantio próprio, implantando os primeiros olivais naquela região. No ano seguinte, a empresa comprou um olival já em produção, e em 2013 lançou o primeiro azeite com a marca Prosperato.
Hoje, a produção soma 280 hectares, em diferentes locais. Na região metropolitana estão concentrados em Barra do Ribeiro e Sentinela do Sul, e na Campanha ficam em Caçapava do Sul e em São Sepé. Conforme o proprietário da Prosperato, Rafael Marchetti, a produção em 2018 foi de 10 mil litros de azeite, cerca de 25% a menos que em 2017.
Marchetti destaca que em 2018 a empresa pretende plantar mais 20 hectares de oliveiras, fechando o ano com 300 ha. “Nossa ideia é manter uma produção constante para termos azeite sempre fresco para entregar ao consumidor”, frisa o empresário. Hoje, a extração do azeite se concentra em Caçapava do Sul. Porém, conforme Marchetti, em aproximadamente dois anos o projeto é construir outro lagar (unidade de processamento) na região Metropolitana, onde a Prosperato também possui olivais.

 

A paixão que virou negócio

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Lagar Olivais da Fonte foi construído no coração do pomar

Apaixonados pela cultura olivícola, como o juiz e desembargador do Tribunal de Justiça, Arno Werlang, fazem do Rio Grande do Sul o maior produtor do Brasil de azeitonas e de azeite. Sua relação com o setor teve início há 12 anos quando, em busca de alguma atividade útil e prazerosa para desenvolver após a aposentadoria, decidiu plantar oliveiras em sua fazenda no município de Formigueiro (próximo de Santa Maria). Dos 100 hectares de terras, aproveitou 15 para o plantio das mudas. “Quando me aposentei, reuni minhas economias e montei uma indústria de primeira linha, dentro das exigências sanitárias e do meio ambiente, no centro do pomar”, conta o empresário que também possui formação agrícola. Em 2014 produziu o primeiro azeite com a marca Olivais da Fonte.
A produção anual, conforme Werlang, é pequena e varia conforme o ano. “Neste ano, por exemplo, foi muito pequena, por que não tivemos inverno. A azeitona necessita de cerca de 200 horas de frio abaixo de 8ºC. Não tivemos isso. Além disso, houve verão em pleno mês de julho (de 2017). A floração do inverno foi prejudicada pela geada de setembro. Para 2019, penso que teremos uma safra boa, pois tudo está correndo bem”, adianta.
O produtor acredita que a qualidade do azeite não está apenas relacionada à baixa acidez. Segundo ele, o segrego do bom azeite está no tempo que se leva entre a colheita e a prensagem. “Quanto menor, menos ácido e melhor será o azeite. Por isso, é fundamental que o lagar esteja próximo do pomar e o tamanho do maquinário esteja ajustado à quantidade colhida por hora. Por tais razões, embora tenha propriedade acima de 100 ha, planto apenas 15 de oliveiras. Talvez chegue, no futuro, a 20 ha. Não pretendo mais, porque não conseguiria alcançar o objetivo de produção rápida do azeite”.
A marca Olivais da Fonte é comercializada em diversas lojas físicas no RS e em sites especializados na venda de azeites. Conforme o proprietário da marca, a ideia é, em breve, disponibilizar um e-commerce próprio para a venda direta ao consumidor com os mesmos preços praticados na indústria.

Como escolher

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O principal diferencial do azeite brasileiro é o fato dele ser fresco, ou seja, chega ao consumidor logo após a sua extração. Isso confere ao produto características de frescor e aromas frutados muito interessantes. “O azeite importado da Europa, por exemplo, é transportado em um navio por meses e chega aqui num estado bem diferente do que estava na hora do envase. Porém, o óleo que é produzido no Brasil em, no máximo, uma semana pode estar na prateleira sendo vendido. Quanto menor for esse tempo entre colheita, produção, envase e comercialização, maior a qualidade do azeite”, explica a sommelier de azeites, com certificação concedida pela International Oliveoil Agency, Maria Beatriz Dal Pont.
O engenheiro agrônomo Luiz Fernando de Oliveira, que coordena o Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), explica que na hora de escolher um azeite, é importante observar algumas características que indicam que o produto é de qualidade. Segundo ele, o primeiro ponto é optar por azeites jovens. Todavia, essa informação nem sempre está descrita no rótulo. Nesse caso, a dica é buscar no contrarrótulo a data de envase e a data de validade.
O segundo ponto é observar como esse azeite está disposto no supermercado. “O local onde o produto fica deve ser fresco, com temperatura média de 18ºC. Fuja de azeites que ficam expostos a altas temperaturas. A garrafa é outro fator importante para preservar a qualidade do produto, que deve ser armazenado em frascos escuros. A luz é grande inimiga do azeite”, explica.
Vale a pena saber onde o azeite foi produzido e onde foi envazado. “Preferencialmente, optar pelos azeites que foram produzidos e envazados no mesmo local. Isso por que a chance de ocorrer alguma adulteração durante a viagem é maior do que se ele tivesse sido transportado em garrafas. Por fim, outro ponto muito importante: sempre desconfie de azeites de oliva muito baratos. A possibilidade é grande de encontrar produtos velhos, que já não estejam com suas características comprometidas”, alerta Oliveira.

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