Raul Rosalino Bigarella – Na defensa pelo vinho brasileiro de qualidade

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Raul Rosalino Bigarella.

Entusiasta da vitivinicultura e preocupado em produzir vinhos de qualidade. É dessa maneira que descrevem Raul Rosalino Bigarella. Nascido em 7 de outubro de 1928 em Nova Pádua, Bigarella acumulou inúmeras funções ao longo da vida, de funcionário de banco a prefeito, de diretor de vinícolas a presidente de entidades ligadas ao setor da uva e do vinho. Uma de suas características era trabalhar pela qualidade do vinho brasileiro e em defesa do produtor rural. Lutou por isso quando esteve a frente da Vinosul e da Federação das Cooperativas do Vinho (Fecovinho). O jovem saído do interior de Nova Pádua também conquistou cargos políticos no Estado. “Trabalhou única e exclusivamente em prol do viticultor. Abraçou a causa da uva e do vinho e como político tinha interesses no fortalecimento do setor. Gostava de vinho, entendia do funcionamento e era uma pessoa respeitada em vários lugares. Angariou muitos amigos e também alguns inimigos na política devido a sua honestidade”, afirma o genro de Bigarella, Luiz Alberto Franzoi.

O filho de Bortolo Bigarella e Ida Garbin cursou o primário, seguindo os passos do pai, que era diretor e professor do Grupo Escolar de Nova Pádua. Aos 13 anos, ingressou no Seminário Nossa Senhora Aparecida, iniciando o curso ginasial. Os estudos foram concluídos no Instituto Champagnat, em Porto Alegre.

Seu primeiro trabalho ocorreu na Metalúrgica Abramo Eberle, em Caxias do Sul. No ano de 1948, saiu da metalúrgica para assumir uma das secretarias municipais de Flores da Cunha, durante a administração de Pedro Rossi, primeiro prefeito eleito do município. Elegeu-se vereador, entre 1952 a 1955, pela Câmara de Vereadores de Flores da Cunha. O cooperativista também trabalhou, de 1956 a 1958, no antigo Banco da Província.

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Em 1966, reunião com os cooperativistas.

A trajetória profissional e política o levou a ocupar um dos maiores cargos do município. Em 1960, foi eleito prefeito de Flores da Cunha. Durante o seu mandato a frente do executivo, Bigarella dedicou atenção especial as estradas do interior para beneficiar os agricultores durante a safra da uva. Foi dele também a iniciativa da instalação da primeira central telefônica do município, o que levou a comunicação para o interior. Esse era uma de seus sonhos. Tinha uma motivação pessoal em fundar uma rádio ou um jornal em Flores da Cunha.

Depois de ter deixado a prefeitura, prestou uma grande ajuda a Flores da Cunha. Em 1964, por um período aproximado de quatro meses, assumiu o cargo de deputado estadual na Assembleia Legislativa. Lá, conseguiu que a cidade não tivesse sua comarca extinta por um projeto que previa o enxugamento das estruturas do Poder Judiciário no Estado. Na Assembleia conquistou um feito importantíssimo para a qualidade do vinho brasileiro. Durante os meses que permaneceu no cargo lutou pelo projeto que abordava sobre a correção da acidez do vinho com o uso de álcool vínico e não mais daquele vindo da cana de açúcar. “Se hoje estamos tomando alguns vinhos bons e reconhecidos internacionalmente eu diria que foi graças a aprovação desse projeto. Ele era um nacionalista e defensor do vinho brasileiro”, recorda Franzoi.
No executivo estadual cumpriu atividades nas secretaria de Economia e Administração e também na Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).

Entidades
Profundamente ligado às origens e ao povo do interior, assumiu a direção da Cooperativa Vinícola Santo Antônio, em 1965, onde permaneceu por mais de 15 anos. À frente da cooperativa, lutava na representação das causas dos colonos e também pelo vinho brasileiro. Segundo lembra a filha, Silvana Bigarella Franzoi, ele não admitia que os produtores colocassem água no vinho. Por causa desse posicionamento, angariou inimigos, mas não deixava suas convicções de lado. Sua honestidade garantiu acesso direto com ministros e secretários para falar sobre o setor da uva e do vinho. Conseguiu também recursos de Fundo Perdido para investir na vitivinicultura. “Tudo pelo bom vinho”, diz Frazoi.

Com a criação da Vinosul, pelo governo do estado, ocupou o cargo de diretor financeiro em 1976. Mais tarde, foi conduzido à presidência da Federal das Cooperativas do Vinho (Fecovinho), quando cumpriu tarefas pertinentes em Brasília, inclusive representando organizações como a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e a Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi). A seguir, em 1998, foi eleito para a presidência da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), onde permaneceu até 2002. “Cultivou muitas amizades nessas entidades. Uma vez, num congresso no Maranhão, no estande do Rio Grande do Sul foi colocada uma placa com o nome: rua Raul Bigarella. Tinha um conceito muito grande em cima do vinho e sem qualquer interesse político ou financeiro. Nas reuniões da Vinosul em Porto Alegre usava dinheiro do próprio bolso para pagar transporte e alimentação”, descreve o genro. A última atividade pública de Bigarella foi dirigir a Cooperativa Vinícola Tamandaré de Garibaldi.

O legislativo de Flores da Cunha o homenageou, em 2004, com o Título de Cidadão de Mérito. A Câmara de Vereadores de Nova Pádua também prestou uma condecoração, postumamente, em 2010, com a placa de ‘Honra ao Mérito’. No ano de 2008, Bigarella se tornou nome de rua. A Câmara florense aprovou o projeto para denominação de Raul Rosalino Bigarella uma rua no Loteamento Sonda.

O cooperativista foi casado com Zelita Maria Antoniazzi Bigarella com quem teve dois filhos: Silvana e Raul. Após seu falecimento, casou-se com Liane Slomp e ao ficar viúvo pela segunda vez casou-se com Maria das Graças Correa. Faleceu aos 76 anos em abril de 2005, deixando na memória de muitos a luta pelo vinho brasileiro de qualidade.

Fontes: Silvana Bigarella Franzoi (filha de Raul Bigarella), Luiz Alberto Franzoi (genro de Raul Bigarella) e jornal O Florense.

 

Por Danúbia Otobelli
danubia@editoranovociclo.com.br

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