Redução da qualidade da uva na última década preocupa setor

Levantamento realizado pelo IBRAVIN aponta que nos últimos dez anos o teor de açúcar na produção vitivinícola da Serra Gaúcha, não apenas estagnou, mas sofreu redução. O acompanhamento do grau glucométrico da uva, que mede o teor de açúcar, é o principal fator de indicação de qualidade.  O Diretor Técnico do IBRAVIN, Leocir Botega, defende que essa queda é mais resultado dos tratos culturais, as maneiras de cultivo do que em razão de localização regional ou clima. Os dados indicam que em 2005, o grau de açúcar na uva comum foi 15,3. Em 2014, baixou para 14 graus. Veja dados completos das uvas americanas e viníferas na reportagem na página 4. “O clima tem sua influência, mas existem tecnologias de produção e condução culturais que minimizam as influências climáticas”. Segundo Botega, há um mercado com espaço para linhas de produtos que exigem uva de qualidade superior para elaboração, como é o caso do suco natural integral e os vinhos engarrafados. Por outro lado, as uvas de graduação mais baixa começam a ser rejeitadas pela indústria. Ele avalia que chegou a hora de fomentar a produção de uva de boa qualidade, para que resultem produtos finais de melhor qualidade. “Essa é uma atribuição de todo o setor. A questão industrial evoluiu muito nos últimos anos, mas a parte agrícola não acompanhou este mesmo processo de melhoria tecnológica”.  Na análise de Botega, esses fatores apontam para a existência de uma defasagem tecnológica na produção. Alguns setores já estão trabalhando firme na adoção de tecnologias e modelos de condução do vinhedo para melhorar a qualidade da matéria prima, como é o caso de várias empresas e das Cooperativas como Programa ATER, o Programa de Alimento Seguro e outras iniciativas.

 

O que dizem as lideranças

O Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Garibaldi, Denis Debiasi, afirma que o debate sobre a qualidade cresceu nos últimos anos. “Em todos os setores é assim. Se a matéria prima não é boa, ninguém faz  milagre no produto final. O fato é que com a redução do grau glucométrico os Agricultores perderam muita rentabilidade”. O dirigente sindical acredita que a primeira necessidade é modificar a metodologia de manejo da propriedade. Ao mesmo tempo, a indústria terá de premiar o Produtor que entregar produto de melhor qualidade. “Sem isso, ele não se estimula a produzir melhor. Ninguém vai convencer o Agricultor a melhorar se ele não tiver mais lucro produzindo com melhor qualidade”.   Debiasi explica que “nas uvas viníferas não conseguimos ainda a qualidade necessária em nossa região para disputar mercado. Então precisamos qualificar”. As variedades centenárias também foram afetadas por viroses e não produzem mais cor e grau elevado, exigindo uma intervenção imediata. A condução e o manejo precisam ser aprimorados para alcançar um bom equilíbrio entre quantidade e qualidade da uva. “Nesse processo os programas de orientação como o ATER são fundamentais”. Para o sindicalista, é hora de diálogo de todo o setor, para assumir um compromisso conjunto. Somos centenários na produção e descuidamos de medidas essenciais. “Chegou a hora de aprimorar todo o sistema para alcançarmos competitividade”.

Para o Presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, a situação preocupa porque a constatação ocorre no momento em que o setor está buscando junto à CONAB melhor remuneração por grau de açúcar. “O clima tem uma importância grande, mas o Agricultor precisa fazer a sua parte”.  Ele aponta que o manejo adequado desde o equilíbrio do solo até o espaçamento e a poda correta é função do Produtor. Segundo Dalle Molle, existe necessidade de pesquisa e assessoria técnica, mas um dos principais fatores para que aumente a qualidade é a forma de aquisição pela indústria. “Se a remuneração for pela quantidade, claro que o Agricultor vai produzir quantidade. O que há de pecaminoso é a forma de aquisição do produto do Agricultor, sem remunerar a qualidade de forma adequada”. Ele afirmou que se houvesse uma remuneração justa por quantidade de açúcar a colheita seria retardada e resultaria num produto melhor.  “É uma questão de tempo para que esse ajuste aconteça pela dor da perda de recurso e produto, porque, outra vez, estamos incentivando a produção de volume”.  Para o Dirigente da Nova Aliança, é necessário fazer um processo que envolva reconversão de variedades com mais cor e açúcar.  Todo o setor precisa se replanejar. No entanto, “a parte mais forte desse elo é a indústria. Se ela determinar o tipo de produto que ela necessita o Agricultor vai se ajustar. Não podemos fazer uma política para cada ano”.

Página 15 - lideranças
Alceu Dalle Molle e Denis Debiasi.

 

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