Pesquisador descobriu ainda criança que poderia melhorar a qualidade das frutas produzidas no quintal de casa

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Foto Divulgação

O pesquisador e empresário paranaense Roberto Hauagge, 58 anos, trabalha de segunda-feira a domingo e está sempre disponível para atender a uma ligação telefônica ou responder e-mails de clientes que o procuram em busca de ajuda. Hauagge é proprietário da Clone Viveiros com outros dois sócios: a esposa, a engenheira agrônoma Claudete Aparecida Cabrini Hauagge, e o também engenheiro agrônomo Munenobu Soneta. A Clone é considerada a principal empresa no desenvolvimento de variedades, porta enxertos e na produção de mudas frutíferas de clima temperado do Paraná e uma das maiores do Brasil. Além da produção de mudas, a empresa tem um programa de melhoramento genético próprio e pomares comerciais nos municípios de Araucária e Lapa, ambos no Paraná. Para o desenvolvimento de novas variedades, possui interação com outras companhias da França, Estados Unidos, África do Sul e duas universidades note-americanas.

 

A Clone Viveiros iniciou as atividades na década de 1990 e hoje vende mudas para todas as regiões que produzem frutas com fins comerciais, de Norte a Sul do país. Conforme Hauagge, atualmente são cerca de três mil clientes. Destes, aproximadamente 500 são ativos. Já o número de funcionários varia entre 150 a 230, distribuídos nas duas unidades. A empresa cultiva cerca de 130 hectares de ameixa, kiwi, pera, nectarina e maçã, que são comercializadas no mercado interno com a marca Clone. Cerca de 10 hectares dessa produção foi reservada para a criação de uma célula demonstrativa, que recebe produtores interessados em conhecer as variedades produzidas, além de esclarecer dúvidas com os engenheiros agrônomos que atuam no espaço. Na opinião do empresário, a relação de confiança estabelecida entre a Clone Viveiros e seus clientes tem sido responsável pela consolidação da marca no mercado. “Temos uma ligação muito forte com o produtor. Estamos sempre em busca de aperfeiçoamento e de novidades que sejam úteis e interessantes para ele. Hoje, além de sobreviver financeiramente, ele tem de ter uma fruta de boa qualidade para competir com as outras que chegam ao supermercado. Por isso, a nossa meta é sempre tentar desenvolver um produto que seja competitivo para que o produtor possa ter seu ganho de vida nesta atividade.”

 

Como tudo começou
Roberto Hauagge é natural de Guarapuava, interior do Paraná. Filho de empresários do segmento de transportes, teve uma infância privilegiada para a época. Cresceu em uma casa grande, com um quintal repleto de árvores frutíferas, verduras e flores. “Foi no quintal que comecei a prestar atenção à produção de frutas e verduras, mas tinha mesmo era curiosidade de saber como é que as coisas aconteciam. Com 12 anos eu fazia o melhoramento genético em plantas e nem sabia o que estava fazendo”, conta o pesquisador.

 

Segundo ele, o que aguçou a curiosidade para a área da biologia e da genética foi um livro que leu quando tinha apenas 10 anos, uma obra que trazia, de forma simplificada e de fácil entendimento para uma criança, a primeira Lei de Mendel, que, basicamente, foi a primeira grande descoberta na parte de biologia dos Séculos XVII e XVIII. “Ele entendeu como os caracteres são transmitidos de geração em geração. Com 10 anos de idade, achei um livro que mostrava isso de maneira simples. Então, comecei a fazer o cruzamento de tudo que tinha no quintal, inclusive de flores, que é uma coisa simples. Comecei a perceber variação de cores, de tamanhos e de formatos”, recorda.

 

Com o tempo o empresário começou a plantar seus próprios pomares de pêssego e de maçã, a fazer porta enxerto e a testar formas de melhoramento genético. “Desde os meus 13 anos já produzia mudas para fornecer ao pessoal interessado. Como naquela época a minha família não estava interessada e não precisava financeiramente, eu produzia uma grande quantidade de mudas e distribuía para os amigos”, relembra. Começava, então, uma paixão que o acompanharia pela vida toda.

 

Mesmo enfrentando oposição da família, Hauagge prestou vestibular para Agronomia da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba. “Por pressão familiar havia feito um ano de Arquitetura, mas desisti. Então, fiz vestibular escondido e cheguei em casa dizendo que iria fazer Agronomia, eles me dando dinheiro ou não. Foi muito difícil, pois sofri pressão econômica por ter desobedecido, mas segui atrás do meu sonho.”

 

A vontade de saber cada vez mais sobre o assunto levou Hauagge a fazer um curso de especialização na Holanda; um mestrado em Horticultura na Universidade da Califórnia, em Davis; e um doutorado na área de Melhoramento Genético na Universidade de Cornell, em Nova Iorque. “Antes de fazer o mestrado consegui um emprego no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), da Secretaria de Agricultura paranaense. Lá comecei a trabalhar com melhoramento genético de frutas, oficialmente em larga escala. Foi uma grande aventura, pois estava fazendo o que eu sempre quis fazer”, afirma Hauagge.

 

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Foto Clone Viveiros/Divulgação

 

Apesar das dificuldades enfrentadas no setor público, foi no período que esteve no Iapar, 30 anos no total, que o pesquisador desenvolveu diversas das variedades mais conhecidas e utilizadas por produtores de todo o país como a Maçã Eva, a Maçã Julieta e a Ameixa Irati, entre outras. Nas horas de folga, Hauagge desenvolvia pesquisas em sua propriedade e investiu na produção de mudas e frutas, organizando a Clone Viveiros. A aposentadoria, de fato, se deu há três anos, quando o pesquisador decidiu dedicar-se integralmente à empresa. “É uma atividade que me realiza muito. Se eu fizesse qualquer outra coisa seria muito difícil. Trabalho de domingo a domingo, mas faço com amor”, afirma o empresário.

 

Dificuldades
Para o pesquisador e empresário Roberto Hauagge, são muitas as dificuldades que atrasam o desenvolvimento da pesquisa e, consequentemente, da criação de novas variedades no Brasil. Em sua opinião, a falta de uma lei de patenteamento efetiva é uma das principais, assim como a falta de conscientização do agricultor com relação ao pagamento de um valor justo para o material desenvolvido pela empresa. “A lei de patentes no Brasil é muito vaga. A única maneira de termos retorno financeiro de algo que se produz é por meio de royalties, que é o que move a agricultura nos EUA e na Europa. Digo que o grande limitante é a seriedade de muitos produtores brasileiros, que plagiam materiais sem pagar patente. Para produzir uma variedade de pêssego precisamos investir em média R$ 400 mil. Levaríamos 30 ou 40 anos para recuperar esse valor vendendo mudas ao preço que vendemos. Por isso, hoje, além dos viveiros, temos a produção de frutas, como qualquer produtor. Fazemos isso para poder pagar as contas”, desabafa.

 

Roberto-Hauagge2 Planos para o futuro
Segundo Hauagge, os sistemas de melhoramento genético e desenvolvimento de novas variedades são contínuos dentro da Clone Viveiros. Dessa forma, a empresa programa diversos lançamentos em 2013 e para os anos seguintes. “Pretendemos melhorar a parte de produção de frutas e de viveiros, que são uma fonte importante de renda que nos mantém economicamente. Não temos expectativas de mudanças, mas sim de estruturação. Queremos contratar mais pessoas com competência para termos novas diretrizes no futuro.”

 

A filha de Roberto e Claudete, Carina Hauagge, formada em Administração, é a provável sucessora do casal no comando da empresa. “Nesse momento estamos procurando alguém que domine a arte de melhoramento genético. Por isso, estamos repensando os negócios para que ela, com ajuda de terceiros, possa dar continuidade ao que fizemos até agora.”

 

Por Mirian Spuldaro

Respostas de 6

  1. gostaria de saber como cuida de plantas frutifica como maça ameixa pessego jabuticaba uva pois tenho todas elas no meu quintal mas ate agora nunca coloca nada de frutas so aameixa que colocou flores mas nao segurou o frutos tem pe de caju pitanga acerola gostaria de sabe o que fazer

  2. Boa Noite.
    Sou proprietário de um pequeno Sítio, no Noroeste de Minas, na cidade de Unai,às margens do Rio Preto, com abundancia de água, e tenho como vizinhos pessoas interessadas, que estão na monocultura do leite.Estamos fazendo planos de incrementar produções variadas, incluindo a fruticultura, e por indicação da Embrapa Cerrados de Brasília, gostaríamos de obter mais informações sobre as variedades de Maçãs , como a Eva, Julieta, dentre outras, apropriadas para a nossa região. Caso V. Sa., possuem informações de mais variedades de outras Frutíferas apropriadas ao nosso clima, gostaríamos de obter mais informações. Estamos montando parcerias com vistas a comercialização de frutíferas e de outras variedades de vegetais,no sistema orgânico..
    No Aguardo de vossa manifestação e colaboração, agradecemos, José Eustáquio.

  3. Boa noite Sr. Hauagge.

    Gostaria de entrar em contato para conversar sobre a possibilidade de cultivar cerejas no Brasil (área serrana de Sta. Catarina)
    Alguns anos atrás me informaram que não havia possibilidade de tal cultivo.
    Gostaria de saber se atualmente existe essa possibilidade, com os novos avanços tecnológicos.

    Agradeço a atenção,
    Livio Flavian
    41 99991-0707

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