A embalagem sempre teve um papel relevante no mercado de vinhos, mas nos últimos anos, o rótulo se consolidou como uma das principais estratégias para atrair novos consumidores no Brasil. A explicação está na mudança de comportamento do público e na forma como o vinho chega até ele.

Com o avanço do e-commerce, a explosão das vendas em marketplaces e o fortalecimento das adegas nos supermercados, muitos consumidores passaram a escolher vinhos sem recomendação prévia — guiando-se apenas pelo que veem na tela ou na prateleira.

Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), mais de 70% das vendas de vinhos no país ocorrem nos supermercados. Para o gerente executivo da AGAS, Francisco Schmidt, o fenômeno se intensificou durante a pandemia. “Enquanto muitos restaurantes tiveram dificuldades, o canal supermercadista permaneceu atendendo e suprindo a demanda das famílias, cujo consumo doméstico aumentou”, afirmou.

Esse contexto reforça a necessidade de as vinícolas investirem na identidade visual como um fator de decisão no ponto de venda, especialmente considerando que a maior parte do público consumidor brasileiro ainda é iniciante ou não especializado.

Além disso, o cenário digital impulsiona ainda mais essa demanda por diferenciação visual. De acordo com projeções do IWSR (International Wine and Spirits Research), o mercado global de e-commerce de bebidas alcoólicas deve ultrapassar US$ 36 bilhões até 2028. No Brasil, esse movimento acompanha o crescimento do comércio eletrônico de vinhos, especialmente nas grandes plataformas online.

Na Campanha Gaúcha, a Vinícola Campos de Cima tem explorado esse cenário de forma interessante. Suas linhas de vinhos buscam refletir a identidade da região, da família produtora e dos diferentes momentos de consumo.

Pedro Candelária, diretor comercial da vinícola, explica que a motivação vai além do apelo visual. “Queremos fazer vinhos que tenham a nossa personalidade, que contem histórias, que tenham a tipicidade da nossa região e também para nos destacarmos nas prateleiras. Os rótulos são um complemento visual do que está dentro da garrafa”, conta.

A linha Lúdicos, por exemplo, inclui os vinhos Tosquia, Aprochego e Guriazita, com design descontraído e acessível. A proposta é clara: atrair um público mais jovem ou iniciante, interessado em vinhos descomplicados, para ocasiões informais. O objetivo não é somente aumentar o volume total de vendas, mas ampliar o alcance e a penetração da marca junto a novos perfis de consumidores.

Essa estratégia acompanha um movimento identificado em diversas vinícolas que atuam com e-commerce ou grandes redes varejistas: rótulos cativantes geram mais cliques, mais curiosidade e mais chances de compra por impulso.

Os rótulos da Campos de Cima carregam referências à cultura, à paisagem e ao cotidiano da Campanha Gaúcha. As ilustrações do artista Felipe Constant são inspiradas nos “heróis da vida ordinária”, retratando trabalhadores da região com leveza e bom humor — uma forma de comunicar terroir sem recorrer ao discurso tradicional.

“Temos clientes que fazem questão de postar as fotos dos vinhos – fazendo essa ligação com as tradições/histórias gaúchas. Outros querem saber mais sobre o artista por trás da criação da arte”, destaca Pedro. Assim, o rótulo gera engajamento e vínculo emocional com os clientes, algo difícil de alcançar apenas com a ficha técnica.

Na vinícola, os rótulos são concebidos a partir de um briefing da própria família produtora, que traduz a intenção do vinho em conceitos visuais. Uma equipe de design, contratada conforme o projeto, desenvolve as peças em diálogo direto com os proprietários.

Em alguns casos, como o Tosquia, o estilo do rótulo já nasce junto com a concepção do vinho. Em outros, o visual é definido após a finalização do produto. Em ambos os cenários, o foco está em coerência e autenticidade, não em seguir tendências.

“Cada vinícola deve ser fiel a si mesma e faça com que os rótulos sejam uma extensão visual da própria empresa — quer através do nome ou das histórias que têm”, observa Pedro.

Rótulo como ponto de contato estratégico

No ambiente digital, o rótulo aparece antes mesmo da taça. Ele está na busca de um site, no cardápio de um restaurante, nas redes sociais, no celular do cliente. Por isso, produtores que desejam conquistar novos mercados precisam encará-lo como uma ferramenta de comunicação e de posicionamento, e não apenas como uma obrigação normativa.

A tendência é clara: consumidores iniciantes se sentem mais confiantes quando um vinho “conversa” com eles visualmente. E essa primeira conexão, muitas vezes, decide a compra.

Diante do cenário de crescimento expressivo do comércio eletrônico e da forte presença de vinhos nas gôndolas de supermercados, pensar em rótulos que comuniquem com clareza, que atraiam visualmente e que criem uma narrativa consistente se tornou um imperativo estratégico para produtores que desejam ampliar sua competitividade no mercado brasileiro.