Attilio Santini,
veterinário
Um dos fatores limitantes da produtividade ovina é a alta taxa de reposição, a qual pode ser maior que 20%, reduzindo a possibilidade do melhoramento genético, aumento do rebanho e produtividade da fazenda. Problemas de casco e baixa condição corporal são importantes causas de descarte de matrizes em rebanhos ovinos.
Uma boa locomoção é necessária para um pastejo efetivo. As patologias de casco afetam diretamente o bem estar animal e produzem perdas econômicas importantes devido a menor locomoção, infertilidade temporária dos reprodutores (pois com problemas nos cascos, não conseguem seguir e montar ovelhas que apresentarem cio), perda de peso e condição corporal (matrizes magras não se reproduzem), menor produção leiteira (alto índice de mortalidade até a desmama, peso de desmama muito baixo ou idade a desmama muito elevada), desvalorização do animal e eliminação prematura do rebanho.
A prevalência da doença varia muito de um rebanho a outro por estar influenciada por muitos fatores, como o clima, alimentação, idade, intensificação da exploração e manejo rotineiro. A descrição e causas das doenças do casco foram estudadas por diversos autores, mostrando que Dichelobacter nodosus e Fusobacterium necrophorum são os principais causadores da enfermidade, sendo este último a causa primária de doenças como o ‘foot rot’.
O ‘foot rot’ é uma doença contagiosa, crônica e necrosante da sola e meio dos cascos dos ovinos, levando a manqueira, com consequente perda de peso, queda na produção de lã e dificuldade reprodutiva em carneiros. É causado pela associação sinérgica de, pelo menos, duas bactérias: Bacteroides nodosus, atualmente conhecida como Dichelobacter nodosus e Fusobacterium necrophorum, o qual faz parte do trato digestivo de ovinos.
Esta bactéria (Fusobacterium) aparentemente contribui para a patogenia da doença causando invasão inicial e superficial, que resulta em uma leve lesão da epiderme, a qual facilita o estabelecimento do Dichelobacter nodosus.
O Dichelobacter nodosus não é encontrado em nenhum local da natureza a não ser em pés de ovinos, caprinos e bovinos. Ele permanece viável por períodos curtos no meio ambiente, uma vez que é um germe não esporulado.
Por ser uma doença infecciosa, a sua transmissão está relacionada com três principais variáveis epidemiológicas: o agente, o hospedeiro e o meio. Outros fatores ambientais, como o solo e tipos de pastagens, podem influenciar a transmissão da doença.
O sinal clínico mais comum em casos de ‘foot-rot’ é a claudicação (manqueira). Casos graves, com lesões nos cascos anteriores fazem com que os animais pastejem ajoelhados, levando a maceração e consequentemente miíase (bicheira). Animais seriamente atacados perdem peso e carneiros tem sua atividade reprodutiva reduzida.
Em casos iniciais da doença se observa uma leve dermatite interdigital, a qual progride para uma ferida que apresenta secreção sanguinolenta e odor desagradável. Em casos mais graves ocorre deslocamento do casco (inicialmente na porção posterior, podendo se estender para a parte anterior.
Em casos iniciais recomenda-se como tratamento a utilização de pedilúvio com solução de formol a 5% e sulfato de cobre a 5%. O uso de antibióticos parenterais como o florfenicol (20 mg/kg) ou tetraciclinas (20 mg/kg) são muito utilizados em casos mais adiantados da doença.
A associação do tratamento parenteral com o uso do pedilúvio aumenta a eficácia do tratamento para 90%. Como medidas preventivas deve-se proceder o exame minucioso e apara dos cascos de todos os ovinos do rebanho pelo menos duas vezes ao ano.
O uso de pedilúvios preventivos (principalmente em épocas chuvosas ou em ambientes que apresentem solo úmido) apresenta boa eficiência para prevenir a enfermidade. Também é importante descartar os animais com lesões severas e crônicas, pois dificilmente serão curados, podendo ser fonte de contaminação bacteriana ao solo, pastagem e instalações.