Vocação da região e as incertezas climáticas registradas marcaram
encontro que ocorreu na cidade de Bagé no início de junho

 

Com o objetivo de discutir as potencialidades e os desafios para produção de uvas e elaboração de vinhos na região da Campanha Gaúcha foi realizado no início de junho, em Bagé, o IX Seminário de Vitivinicultura da Metade Sul do Rio Grande. O encontro teve a participação de mais de 350 pessoas, que assistiram palestras sobre o desenvolvimento setorial e tecnológico da atividade. O seminário é um fórum técnico para fortalecer os laços entre os produtores, técnicos e empreendedores na vitivinicultura regional com as instituições de pesquisa, de extensão e de organização setorial, além de ser uma grande oportunidade de divulgação deste importante polo vitivinícola. “Não há dúvida de que os desafios para a competitividade incluem temas que precisam ser discutidos com frequência”, avaliou o chefe-Adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, Alexandre Hoffmann.
Na abertura do seminário, o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do RS, Cláudio Fioreze, salientou que a atividade na região está vivenciando um ciclo virtuoso e que a tendência é um crescimento ainda maior. “Uma das características que tem contribuído para o desenvolvimento da vitivinicultura na região é a participação ativa dos atores no processo, como os produtores rurais, as vinícolas, o poder público e instituições de pesquisas”, disse Fioreze. O chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Celso Zanus também ressaltou a importância do envolvimento de diferentes elos da cadeia produtiva para o desenvolvimento do setor. “O fortalecimento dessa rede, que já está consolidada, é fundamental para alcançarmos a qualidade desejada e conquistarmos mais mercados”, salientou.
A primeira palestra do seminário foi realizada pelo pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda, que abordou o tema ‘A vitivinicultura frente às incertezas climáticas presentes e futuras’. Segundo Miranda, mudanças climáticas podem afetar a produção de uvas e a qualidade dos vinhos, mas isso não significa, obrigatoriamente, mudanças negativas. O pesquisador destacou ainda que, de acordo com o relatório do IPCC, as regiões tropicais e subtropicais serão as menos afetadas pelas mudanças climáticas. “Além disso, a história evolutiva da uva mostra que ela é extremamente adaptada a mudanças”. Miranda comentou que já existem alternativas tecnológicas para aumentar a sustentabilidade da produção frente às variações climáticas no caso da viticultura, como o uso da irrigação, da eletrificação (cadeia do frio), da mecanização rural, da logística e do seguro rural.
Um painel com pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho abordou o projeto de pesquisa ‘Desenvolvimento da Indicação de Procedência Campanha para vinhos finos e espumantes’, liderado pela instituição. O pesquisador Jorge Tonietto apresentou os exemplos de outras indicações geográficas de vinhos localizadas na Serra Gaúcha, que  já obtiveram o reconhecimento junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A Embrapa há um ano está coordenando as pesquisas com o objetivo de pleitear a mesma certificação, juntamente com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de Caxias do Sul (UCS). “As linhas de pesquisas foram definidas em conjunto com os produtores de uva e de vinho e além de buscar a conquista da IP também servirão para o desenvolvimento da atividade como um todo”, afirmou Tonietto.
O pesquisador Henrique Pessoa dos Santos abordou as estratégias do projeto em relação ao manejo das plantas. Segundo ele, as pesquisas estão sendo desenvolvidas em propriedades da região e abordam diferentes aspectos do manejo das videiras, como relação hídrica, fitossanidade, manejo de dossel, entre outros. “Os experimentos vão gerar um conjunto de dados que vão possibilitar a melhoria da produção e da qualidade”. Por fim, o pesquisador Celito Crivellaro Guerra falou sobre os estudos que estão avaliando a qualidade do vinho dentro do projeto. Nesse sentido, estão sendo desenvolvidas ações que visam tanto a análise sensorial da bebida como também aspectos químicos.

 

Vinhos da Campanha

No dia 18 de junho aconteceu a primeira análise sensorial de vinhos de vinícolas que integram a Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha. Foram avaliados 59 amostras de vinhos das safras 2013 e anteriores, incluindo vinhos brancos, rosados, tintos e espumantes, que já estão no mercado. A atividade é parte do Projeto ‘Desenvolvimento da Indicação de Procedência Campanha para vinhos finos e espumantes’, liderada pela Embrapa Uva e Vinho. Segundo Mauro Zanus, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e responsável pela condução da análise sensorial, o objetivo é caracterizar os vinhos da região, com base nas análises sensoriais conduzidas ao longo dos três anos do projeto. “Os vinhos estão sendo avaliados com o objetivo de dar subsídios para o processo de construção da Indicação de Procedência da Campanha. Iremos apontar, ao final do projeto, as principais características que formam a identidade dos vinhos da região”, informa Zanus.
Na avaliação do vice-presidente da Associação dos produtores da Campanha, Tauê Hamm, essa primeira análise dos vinhos comerciais da Campanha já mostrou que a região está produzindo vinhos com estilos muito diferentes, podendo produzir vinhos jovens ou outros com possibilidades de serem vinhos de guarda. “Esse processo relacionado à Indicação de Procedência vai ser muito importante para guiar as vinícolas, seja para identificar os verdadeiros potenciais da região ou até mesmo para identificar o que deverá ser melhorado”, avaliou Hamm.
A degustação aconteceu no Laboratório de Análise Sensorial da Embrapa Uva e Vinho e contou com a participação de 19 pessoas, entre enólogos das empresas da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, Embrapa, Ibravin, UCS, Unipampa e outros. Paralelamente à análise sensorial, serão realizadas análises laboratoriais nos vinhos, nas quais serão avaliados os aspectos físico-químicos dos produtos.

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