
O 5º Simpósio de Viticultura Regenerativa, realizado na Espanha, reuniu especialistas de diversas áreas da agricultura e do meio ambiente para discutir soluções reais e aplicáveis para enfrentar a crise climática. O evento foi promovido pela Associação de Viticultura Regenerativa com apoio do INNOVI, e trouxe debates com forte repercussão para o futuro da vitivinicultura mundial – inclusive para produtores brasileiros atentos à sustentabilidade, ao mercado de carbono e à saúde dos solos.
Durante o simpósio, ficou claro que práticas regenerativas não só ajudam o planeta, como também melhoram a produtividade dos vinhedos e podem gerar receitas extras por meio dos créditos de carbono. A proposta é transformar o solo num aliado contra o aquecimento global e fortalecer os vinhedos para lidar melhor com secas, pragas e doenças.
O agrônomo Luis López Bellido explicou como a agricultura pode ser protagonista no combate às mudanças climáticas, ao capturar mais carbono do que emite. Segundo ele, “no solo há de duas a três vezes mais carbono do que na atmosfera e na vegetação, mas as práticas do século XX prejudicaram esse sistema”. Ele defende o uso da ciência para reverter esse quadro e afirma que “o objetivo é que cada hectare cultivado retire entre 0,8 e 4,5 toneladas ao ano de CO₂ equivalente”.
O especialista Salvador Samitier, ex-diretor da Oficina do Clima da Catalunha, abordou os créditos de carbono, que podem ajudar agricultores a ganhar dinheiro por práticas que removem CO₂ da atmosfera. Mas ele alerta: “É um sistema de comércio útil, mas altamente complexo.”
Um crédito equivale a 1 tonelada de CO₂. Porém, os critérios para gerar e certificar créditos ainda são confusos, com mais de 90 metodologias diferentes no mundo. Samitier defende a criação de regras padronizadas e confiáveis para que esses créditos possam ser usados com segurança no setor agrícola e tragam retorno financeiro real.
Solo saudável
A microbiologista Isabella Tomasi apresentou uma nova técnica para melhorar a saúde das raízes das plantas, com base no equilíbrio entre o pH e o potencial redox do solo. “Um pH entre 7,2 e 7,5 e um redox entre 430 e 450 mV são as condições ideais para uma fisiologia vegetal resiliente e ativa”, explicou.
Ela recomenda o uso de bioestimulantes lactofermentados e compostos ricos em matéria orgânica para ativar os microrganismos benéficos do solo, que ajudam na absorção de nutrientes, reduzem o estresse da planta e podem até diminuir a emissão de carbono pelas raízes.
Microrganismos que salvam a lavoura
A pesquisadora Amaia Nogales, do Institute of Agri-Food Research and Technology (IRTA), falou sobre os fungos micorrízicos, que criam uma relação simbiótica com as raízes e são essenciais para plantas mais resistentes e solos mais vivos. Segundo ela, esses fungos “aumentam a resistência das plantas a doenças e à seca, reduzem a mortalidade após o replantio e ajudam a formar uma estrutura estável no solo”.
Contudo, o uso intensivo de agrotóxicos e o excesso de lavração comprometem essa vida no subsolo. Por isso, ela defende o uso de cobertura vegetal e inoculação de fungos para recuperar o equilíbrio dos ecossistemas do solo, prática que já vem sendo testada em projetos como o Regenera.cat, coordenado pelo Centre de Recerca Ecològica i Aplicacions Forestals (CREAF).
Manual de boas práticas
O encerramento do simpósio trouxe os primeiros resultados do Vitiregenere, projeto realizado em parceria com a Família Torres, que avalia os efeitos da viticultura regenerativa com base em indicadores físicos, químicos e biológicos do solo. Os dados preliminares são positivos, especialmente no sequestro de carbono e na diversidade microbiana.
Os pesquisadores Marc Viñas e Felicidad de Herralde apresentaram um manual de boas práticas voltado a produtores que desejam adotar a viticultura regenerativa. O guia está disponível gratuitamente (leia aqui) e traz orientações práticas para quem quer iniciar ou ampliar suas ações sustentáveis no campo.
Por que isso importa para o Brasil?
Com solos cada vez mais degradados e eventos climáticos extremos afetando regiões produtoras, a viticultura regenerativa se apresenta como uma solução viável para o Brasil. Além de restaurar a vida no solo e proteger os vinhedos, as práticas regenerativas podem se transformar em créditos de carbono negociáveis, gerando renda extra para produtores de uva e vinho.
O modelo apresentado na Espanha também mostra o caminho para a construção de uma cadeia produtiva mais sustentável, competitiva e preparada para o futuro – algo essencial para as regiões brasileiras que vêm se consolidando como referências na vitivinicultura nacional.
O evento completo está disponível abaixo.
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