Doze dias de um mergulho em busca de informações e conhecimento sobre os modelos de organizações cooperativas, a organização de mercado, as práticas de manejo de vinhedos, funcionamento das grandes feiras internacionais e as dinâmicas do Comércio Justo. Assim pode ser definida a viagem de doze dias que seis técnicos das cooperativas, Nova Aliança, Garibaldi, São João e Pradense, seis associados das cooperativas Nova Aliança e Garibaldi e o padre Remi Casagrande (FECOVINHO) realizaram percorrendo Itália, França e Espanha. Eles aproveitaram a oportunidade para estabelecer contatos, a fim de proporcionar intercâmbios técnicos futuros, tanto para agricultores, quanto de técnicos e dirigentes de cooperativas. Também puderam conhecer os processos de produção orgânica e biodinâmica de uvas.
A programação incluiu a realização de visitas técnicas a cooperativas e produtores, conhecimento do escritório central do Comércio Justo Europeu e presença na Feira SANA, o maior evento mundial de comercialização de alimentos orgânicos. No roteiro pela Itália, na Região de Bologna, a comitiva conheceu a AGRINTESA, que atua na produção de vinhos e comercialização de frutas e a Caviro, a maior cooperativa da Itália que tem 13,5 mil associados, e que utiliza modernas tecnologias na área de produção e processamento.
Na visita à Região de Epernay (França), a comitiva pode degustar vinhos e espumantes franceses e conhecer as estratégias de regulação, controle e produção direcionada do mercado de vinho e espumantes. Na região de Barcelona, despertou grande interesse dos visitantes o sistema de organização das cooperativas, a alta tecnologia empregada para garantir qualidade e a preocupação social do cooperativismo vitivinícola, na visita à Cooperativa La Oliveira.
O Coordenador da Comitiva, Lenadro Venturin, disse que na Europa a organização e o espírito cooperativo se sobrepõem ao interesse do mercado. As relações societárias fortalecidas fazem com que, mesmo em momento de crise econômica, as cooperativas se mantenham em constante crescimento econômico. As mais diversas cooperativas se interrelacionam e planejam de forma conjunta o desenvolvimento do espaço social em que se encontram. Isso se deve a uma compreensão e ao elevado grau de consciência para a importância da cooperação. “Existe clareza e ‘comum acordo’ do setor vitiviní,cola. Todos sabem onde e como querem chegar, que tipo de mercado atingir, que produto final devem apresentar. Os objetivos são comuns, independente de que elo da cadeia representam e do tamanho das cooperativas. Todos tem a mesma importância e as mesmas condições de acesso ao mercado pelo instrumento da intercooperação”.
Por outro lado, o investimento em tecnologia segue mais a lógica de suprir a falta de mão de obra do que qualificar a produção. O mercado de produtos orgânicos e socialmente justos é promissor para a viticultura brasileira. Leandro acentua que o Brasil tem técnicas mais apuradas de produção orgânica. “Eles tratam esse tema de modo a qualificar e diferenciar o produto final voltado para um nicho de mercado”. Resultado dessa compreensão, os europeus agregam valor, através de uma identidade específica e diferenciação de qualidade, como alternativas consistentes para a agricultura familiar. “A construção de mercados diferenciados e de cadeias curtas são o enfoque principal da produção Europeia”. Venturin salienta que a agricultura europeia vive um momento caracterizado por uma figura simbólica: “todos estão no mesmo barco e resolveram remar para o mesmo lado. Parece obvio, mas não é a nossa realidade”.
Agricultor obtém conhecimento e experiência
Apesar da saudade da esposa e da filha, a viagem a Europa foi uma grande aula de qualidade na produção e da força do cooperativismo para o agricultor Sidimar Fleck. A primeira lição é a necessidade de conscientização dos próprios agricultores para realizar uma produção de qualidade para poder competir. Um dos itens que encantou o agricultor foi a alta tecnologia empregada nas propriedades. “Além do clima e dos solos favoráveis ao cultivo de uvas na Europa, eles têm um conjunto de outras ações que assegura uma produção de alta qualidade, entre eles a mecanização, as variedades adaptadas e o planejamento da safra, inclusive nos volumes a serem colhidos”.
Fleck explica que em nome da qualidade os agricultores não hesitam em reduzir os volumes a serem produzidos. “As cooperativas medem os níveis de graduação da uva nas propriedades antes da colheita para atingir a um nível mais adequado”. Ele observou que a intervenção dos técnicos na propriedade não encontra resistência nos associados das cooperativas. “Os técnicos planejam e acompanham todo o processo produtivo, apresentando determinações a serem cumpridas pelos agricultores”.
Outro fator que chamou a atenção do agricultor foi a perfeita organização do sistema cooperativo em diversos níveis, desde a cooperativa de primeiro grau, passando pelas centrais de processamento cooperativadas, as cooperativas de máquinas e a cooperação que cumpre a função somente de comercialização. “Em todo esse emaranhado de estruturas, a participação dos associados é total. Os associados realmente fazem o acompanhamento de toda a atividade da cooperativa. Se quisermos permanecer na atividade, temos de participar e acompanhar melhor a atividade de nossa cooperativa. Precisamos aprender a fazer isso”.
Sobre a produção orgânica, Fleck observou que eles não desenvolvem esse tipo de atividade por paixão ou por questão econômica. “Eles têm consciência de que o orgânico é diferenciado, um produto de qualidade”.
A viagem proporcionou a confirmação e maior clareza sobre alguns procedimentos importantes no ciclo produtivo como a condução adequada da parreira, maior ensolação, cobertura do solo e aumento das defesas naturais. “Esses são fatores que garantem a qualidade da uva”. Soma-se a tudo isso um fator decisivo. Cada país e cada região encontrou um produto com identidade própria. “A França, por exemplo, antes de comercializar seu vinho, vende uma identidade vinícola regional”.