Não há dúvida que, em tempos de novidades tecnológicas a cada semana ou a cada dia, o fascínio pelo novo e a fuga do que já está ultrapassado nos trazem a percepção de que tecnologias se tornam velhas com muita rapidez. Isso também é verdade para tecnologias para o segmento agropecuário? Como a Embrapa age em relação ao envelhecimento de tecnologias? Tecnologias envelhecidas precisam ser abandonadas?
Como em qualquer setor da atividade humana, em que a criatividade se soma à experiência e à observação, usando métodos e equipamentos cada vez mais sofisticados, chegando-se assim a uma novidade tecnológica, o mesmo anseio que tem uma pessoa por algo novo acontece também na agropecuária.
E a existência da Embrapa por mais de quatro décadas, com 46 unidades localizadas em todo o Brasil, gerando produtos, cultivares, processos e metodologias que atendam a necessidade do produtor é a prova de que procurar o novo é uma atividade sem fim. Ou seja, o pesquisador é, antes de mais nada, um inconformado que, após ter chegado a uma tecnologia ou conhecimento, não se dá por satisfeito e segue em busca de um novo produto, que agregue algo mais à sua descoberta anterior. Igualmente, o produtor é (e precisa cada vez mais ser, para se manter competitivo) também alguém que está em busca de novas tecnologias, sem as quais sua atividade pode ser tornar menos lucrativa e menos sustentável. Em outras palavras, a busca pelo novo e pela inovação é desejável e essencial na agropecuária como em qualquer outro segmento produtivo.
Mas é preciso também saber, por vezes uma tecnologia “envelhecida” ou aparentemente ultrapassada também pode continuar sendo útil, sobretudo na agricultura e pecuária, onde a diversidade de níveis tecnológicos dos produtores é muito ampla, assim como o capital, o acesso ao crédito ou até mesmo a exigência do consumidor podem fazer com que, por vezes, uma tecnologia gerada há mais tempo seja tão ou mais apropriada do que outra gerada nos últimos meses ou anos. E por que isso acontece?
É preciso lembrar que o universo dos produtores é muito diversificado. Por isso, há tecnologias que podem parecer obsoletas para um produtor e uma grande novidade para outro; há casos, também, em que um conhecimento que já temos dado por muito bem disseminado entre os produtores é algo ainda desconhecido por outros. Por outro lado, a dinâmica da inovação na agricultura nem sempre segue a mesma intensidade entre produtores – alguns são muito ágeis em inovar e outros têm por opção atuar de forma mais conservadora. Embora saibamos que há tecnologias, como por exemplo, de manejo de pragas e doenças, que vão aprimorando as versões anteriores, com insumos mais eficientes e ambientalmente mais seguros, temos de considerar que é necessário ter um conjunto de tecnologias mais novas e mais antigas, disponíveis a qualquer momento, as quais poderão ser acessadas conforme a preferência e utilidade para o técnico ou o produtor.
Por fim, alguns exemplos muito interessantes. As primeiras cultivares de videira criadas pela Embrapa, ‘Dona Zilá’ e ‘Tardia de Caxias’ pareciam ultrapassadas pelas novas cultivares, até pouco tempo atrás. Contudo, o aumento da produção de uvas de mesa, similares à cv. Niágara Rosada, em regiões mais frias, tem estimulado o plantio destas cultivares para oferta após o encerramento da colheita de ‘Niágara’. Ou seja, cultivares criadas na década de 1990 voltaram a ser de interesse dos produtores. Outro caso é o da cultivar BRS Clara, que após um período inicial de aceitação, voltou a ter grande interesse de plantio no Vale do São Francisco (PE/BA) pelas suas características da uva e desempenho agronômico.
Por: Alexandre Hoffmann – Pesquisador, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho