Conheça os vinhos de altitude de Santa Catarina e por quais motivos o solo e o clima são os responsáveis pela elaboração de rótulos diferenciados
Há tempos que o Brasil do vinho não se resume somente ao Rio Grande do Sul. Outros estados do Brasil já cultivam vitisviníferas e elaboram vinhos de excelente qualidade. O estado de Santa Catarina, por exemplo, trilha uma história de dedicação e de respeito ao terroir. Uma das principais regiões produtoras de vinhos finos do estado é a de Altitude, que abrange o município de São Joaquim e cidades próximas. Por lá, há mais ou menos 15 anos, foram plantadas as primeiras mudas viníferas.
A entidade Vinho de Altitude Produtores e Associados, antiga Acavitis, é quem representa as vinícolas. Atualmente, 35 empresas fazem parte da associação, 20 delas já com seus vinhos no mercado. São 500 hectares plantados e uma produção anual total que chega a um milhão de garrafas, segundo informa o presidente da associação, Acari Amorin. Todos os vinhedos deste terroir estão acima de 900 metros do nível do mar, organizados em sistema espaldeira. O clima frio, as geadas frequentes e tardias e o granizo são o grande desafio para quem planta nessas áreas.
Algumas castas têm se adaptado muito bem e oferecem bebidas de qualidade acentuada. Entre as brancas, a Sauvignon Blanc recebe muitos elogios. Isso porque seus vinhos oferecem todas as características dessa variedade, originária da França. São refrescantes, seus aromas são vegetais e ao mesmo tempo frutados e complexos. Em boca, são intensos e com personalidade. “Essa uva se adaptou bem na nossa região. Com ela conseguimos produzir vinhos com muita estrutura, muita cor e aromas, características típicas e únicas dos vinhos de altitude”, diz Amorin.
Entre as tintas, destaque para a Pinot Noir, com seus aromas elegantes e sua intensidade em boca. Sangiovese, Montepulciano, Merlot e Cabernet Sauvignon também se adaptaram bem. “Uma característica típica de nossos vinhos é a acidez marcante, o que dá vivacidade e o torna muito bom para acompanhar refeições, ao contrário dos vinhos de clima quente, como o Chile e a Argentina, os quais possuem um grau alto de açúcar e álcool”, explica.
O solo da região de altitude de Santa Catarina é pedregoso, o que faz com que as raízes das parreiras busquem mais profundidade e onde encontram sais minerais e outras substâncias decisivas para formar uma uva de qualidade. Já o clima apresenta uma diferença térmica acentuada. Os dias entre a floração e a colheita são quentes e as noites são frias. Já no período de colheita, que inicia no final de fevereiro e se prolonga até final de maio, há poucos registros de chuva. Essas características potencializam a qualidade dos vinhos.
Enoturismo
A paisagem da região dos Vinhos de Altitude é única. Montanhas, pinheiros vistosos e o espetáculo da neve no inverno fazem com que os municípios tenham potencial para o enoturismo. Muitas vinícolas já recebem o turista, entre elas a pioneira Villa Francioni, que há pouco tempo também inaugurou um bistrô. “O vinho tem uma capacidade muito grande de alavancar outros negócios. Ele desencadeia uma rede de hotéis, pousadas, restaurantes, comida típica e artesanato regional. Sem dúvida, é a grande oportunidade de desenvolvimento econômico e social nas cidades de Lages, São Joaquim, Caçador, Campos e todos os municípios em volta. No mundo, as regiões agrícolas mais desenvolvidas têm parreira de uvas e produção de vinho”, destaca o presidente. “No entanto, na nossa região, a infraestrutura ainda é muito deficiente. Falta um aeroporto, o acesso à maioria das vinícolas é uma dificuldade, impossível em muitos dias de chuva. A rede hoteleira e gastronômica é ainda reduzida”, enfatiza Amorin.
Mas há iniciativas que fazem com que o enoturimo ganhe força. De 4 a 27 de março (de sexta-feira a domingo) acontece a Festa da Colheita das Uvas de Altitude. O evento contará com mais de 30 apresentações, gratuitas, em vinícolas de dez cidades, entre São Joaquim e Água Doce.
Andréia Debon
andreia@avindima.com.br