A videira, indiferente do grupo, seja europeia ou americana, é acometida, em maior ou menor grau, por uma série de doenças fúngicas ou cronista (míldio), nas condições subtropicais do Brasil, onde os invernos não apresentam temperaturas tão baixas, como observada nas regiões do Hemisfério Norte, que contribuem para reduzir as fontes de sobrevivência de patógenos. Além disso, durante a safra da uva podem ocorrer precipitações durante as estações da primavera e verão, agravando a severidade de algumas doenças. Somado a essas variáveis, observa-se uma alta concentração de vinhedos instalados, em locais cultivados há vários anos com videira o que contribui para o aumento do inóculo (“sementes dos fungos”) nas áreas.
Para algumas doenças o método da resistência genética é a melhor forma de controle, por meio do emprego de cultivares resistentes. Por outro lado, boa parte das cultivares tradicionais plantadas comercialmente apresentam suscetibilidade as doenças, o que requer a utilização de outros métodos de controle, como o químico.
Embora o controle químico seja extremamente importante, o mesmo deve ser utilizado associado a outros métodos para obtenção de uma eficiência maior. O acúmulo frequente de inóculo na área do vinhedo provoca uma maior pressão da doença e consequentemente será necessário maior número de pulverizações. Para algumas doenças, mesmo pulverizando-se mais, não se observa um ganho efetivo no controle. Além do mais, a utilização frequente de alguns princípio ativos sistêmicos provoca uma pressão na população do patógeno, selecionando cepas mais resistentes aos produtos aplicados. Logo, para que o controle químico seja eficaz, o manejo integrado deve ser adotado.
O manejo integrado de doenças compreende a utilização de diversos métodos de controle, sendo que no estádio de dormência invernal da videira podemos lançar mão da terapia, erradicação e proteção. Neste período que compreende o estádio de queda das folhas até a abertura das gemas, pouco antes do início da primavera, para as condições subtropicais, é a melhor época para a redução das fontes de sobrevivência de muitos fungos causadores de danos à videira.
A terapia é um princípio de controle que visa a cura da doença através da remoção de partes de tecido da planta doente. Esta remoção de tecidos doentes ou apodrecidos deve ser seguida da aplicação de uma pasta fungicida, visando proteger as partes expostas da planta. A retirada correta e adequada do tecido contaminado pelo fungo fitopatogênico implica na cura ou eliminação da doença. Logo esta medida deve ser adotada durante o período de dormência da videira retirando-se os ramos e esporões secos, ramos apresentando podridões internas ou cancros, pois são fontes de inóculo da podridão-descendente, antracnose, escoriose e eutipiose. A seguir recomenda-se a aplicação de uma calda a base de cobre, a fim de proteger os ferimentos, que são “porta-de-entrada”para fungos. Os cortesmaiores devem ser protegidos com uma pasta a base de fungicida.
O método de erradicação funciona à medida que é capaz de diminuir a quantidade de inóculo no vinhedo é acompanhado por outros métodos de controle que complementam sua ação. Do ponto de vista epidemiológico, atua essencialmente reduzindo o inóculo inicial, atrasando o desenvolvimento de epidemias e apresentam efeitos pronunciados sobre doenças cujos patógenos apresentam baixa taxa de disseminação. Assim, o produtor deve remover do vinhedo todos os restos culturais contaminados, cachos mumificados e ráquis presentes na planta ou sobre o solo. Nesse material além das doenças citadas anteriormente, ficam também alojados os agentes causais da podridão-da-uva-madura, podridão-amarga, podridão-negra e podridão-cinzenta.
Já a medida de proteção que atua tanto na formação de uma barreira contra a entrada do patógeno nos tecidos, como também apresenta a capacidade de combater estruturas de sobrevivência de alguns fungos alojadas na casca seca ou nas gemas. É uma prática bastante utilizada em países com grande expressão na produção de vinhos, mostrando-se barata e efetiva para o controle ou redução de inóculo de diversos patógenos causadores das doenças já citados anteriormente, como também do oídio, ferrugem, mancha-das-folhas e esca. Os produtos mais utilizados para controlar as doenças da videira no inverno são a calda sulfocálcica, calda bordalesa, produtos a base de cobre ou fungicidas sintéticos de contato para prevenir infecções e retardar o início de epidemias no vinhedo.
Vale destacar que as ferramentas utilizadas na poda como tesoura e serrote devem ser periodicamente desinfestadas com algum produto sanitizante, como a água sanitária : água na proporção de 1:1. Estas ferramentas no final do dia devem ser lavadas com água e sabão, enxugadas e em seguida passar um pano com óleo para evitar qualquer corrosão.
A adoção de medidas de sanitização no vinhedo contribuem para a prevenção da ocorrência de doenças durante a safra reduzindo a necessidade de pulverizações frequentes. Isto não quer dizer que durante a safra o viticultor não terá problemas com as doenças fúngicas, mas sim que o seu controle será mais fácil de ser realizado, mantendo-se abaixo do limiar de dano econômico.
Lucas da Ressurreição Garrido
Doutor em Fitopatologia
Uma resposta
Tenho dois pés de uvas em casa aqui no RS campanha. Estão com as folhas bem bonitas, a videira e nova com 1 ano e meio e já está dando dois cachos de uvas. Gostaria de saber qual tratamento agora no verão que devia adotar??