Para marcar o Dia Mundial da Água, comemorado hoje, dia 22, mostramos iniciativa que garante água à dezenas de famílias do interior de São Marcos
“Água pura é vida”. A frase do agricultor Lélio Rodrigues, 65 anos, resume exatamente a importância que esse elemento tem para a sobrevivência do planeta Terra. Seu Lélio, como prefere ser chamado, tem consciência de que o desperdício deve ser evitado para garantir que esse patrimônio natural da humanidade possa ser desfrutado por gerações subsequentes a dele. As sábias palavras são pronunciadas com conhecimento de causa, pois foi testemunha das dificuldades enfrentadas por muitas famílias da comunidade onde vive há 40 anos, a Linha São Roque, no interior de São Marcos (RS).
O agricultor conta que valoriza muito a água tratada que recebe na torneira de casa, que fica a 7,5 quilômetros de distância do poço artesiano que abastece a localidade, utilizando-a apenas para o consumo humano e na cozinha. “Nunca gastei mais do que três metros cúbicos. Uso apenas a quantidade necessária”, diz. Para a limpeza, banheiros e para a lavoura e os animais, ele utiliza a água das nascentes existentes em seu terreno, cinco no total. “Antigamente a gente usava a água das nascentes também para beber. Hoje, não uso mais, pois tenho uma água tratada e de excelente qualidade. Mesmo assim, continuo preservando essas nascentes para que sirvam de auxílio. Não desperdiço água, mesmo tendo em abundância”, acrescenta, revelando uma atitude que deve servir de exemplo para todas as pessoas.
Lélio é um dos fundadores da Sociedade de Abastecimento da Linha São Roque, uma associação de moradores criada há 12 anos com o objetivo de sanar a falta de água no interior rural, viabilizando a instalação de rede condutora do poço artesiano até as moradias dos associados. “Antes, as famílias utilizavam apenas as fontes naturais existentes em suas propriedades, sem nenhum tratamento. Porém, em períodos de seca, muitos ficavam sem água durante dias”, relembra o agricultor. Ele conta que o poço artesiano já existia no terreno. Todavia, era necessário fazer a rede de distribuição desta água, um investimento altíssimo, considerando que seriam necessários 22 quilômetros de extensão. Por isso, os moradores contaram com o apoio do governo municipal da época.
O projeto foi viabilizado pelo, então, prefeito, Adair Nazareno Casarotto, por meio de recursos do Ministério da Saúde, em parceria com a própria comunidade, ou seja, um projeto público-privado. “Recebemos em torno de R$ 100 mil, em materiais, para iniciar a rede. Além disso, cada associado, éramos em torno de 90, pagou R$ 1 mil. O montante foi utilizado na instalação e aterramento da rede de canos, na instalação da rede elétrica, caixa de água, hidrômetros e diversas outras despesas. Também iniciamos o caixa da Associação”, conta ele. Dois anos após foi necessário perfurar outro poço, já que o principal foi inutilizado depois que a bomba que puxava a água caiu. “Novamente, cada associado contribuiu com uma pequena quantia. O restante tínhamos em caixa”, conta seu Lélio, que hoje atua como tesoureiro da Associação.
Como uma empresa
Lélio frisa que a Sociedade de Abastecimento da Linha São Roque é uma instituição sem fins lucrativos. Funciona como uma espécie de cooperativa, registrada e com CNPJ. “É exatamente como uma empresa. Temos um escritório de Contabilidade que cuida das finanças e uma conta no banco onde fica depositado o dinheiro. A comissão, composta por 10 integrantes, entre os titulares e os suplentes, é responsável legal pela Associação”, explica.
Atualmente, a Sociedade conta com 110 integrados. Destes, 105 utilizam água da rede. Cada família recebe 15 metros cúbicos por mês, pelos quais paga R$ 30. Para cada metro em excesso é cobrado R$ 5. O controle de consumo é feito por hidrômetros individuais. Esse dinheiro é utilizado na manutenção da rede, pagamento da luz elétrica utilizada no bombeamento, além de um salário mensal para um funcionário que faz a leitura e a manutenção da rede. O controle de qualidade da água é feito pela prefeitura de São Marcos, por meio da Secretaria Municipal de Saúde.
A rede de abastecimento da Linha São Roque conta hoje com dois poços artesianos em funcionamento. O principal produz em média 12 mil litros de água por hora, sendo que o consumo dos moradores não ultrapassa os seis mil litros/hora. O reservatório tem capacidade de 20 mil litros, quantidade suficiente para abastecer as 105 famílias por três horas em caso de necessidade.
A Linha São Roque foi uma das primeiras comunidades de São Marcos a investir nesse modelo de abastecimento. Conforme o secretário de Agricultura, Osmar Antonio Cioato, atualmente 13 das 14 comunidades do interior do município já possuem água encanada, melhoria possível devido à parceria entre o poder Público Municipal e as comunidades, por meio da criação das cooperativas de água. “Apenas uma comunidade não tem água encanada, mas já existe o projeto para implantação”, esclarece Cioato.
Agricultor Repórter: contar a história da Sociedade de Abastecimento da Linha São Roque, interior de São Marcos, foi uma sugestão do agricultor Gilberto Verdi, de Flores da Cunha. Se você tiver alguma sugestão de pauta envie para avindima@avindima.com.br.
Por:
Mirian Spuldaro
mirian@avindima.com.br