Utilização de bagaço de uva na alimentação de ruminantes

A viticultura brasileira ocupa, atualmente, uma área de 81 mil hectares, com vinhedos desde o extremo Sul até regiões próximas à Linha do Equador. Duas regiões se destacam: o Rio Grande do Sul por contribuir, em média, com 777 milhões de quilos de uva por ano, e os polos de frutas de Petrolina/ PE e de Juazeiro/BA, no vale do rio São Francisco, responsável por 95% das exportações nacionais de uvas finas de mesa (MAPA, 2015). A produção de vinhos, suco de uva e derivados da uva e do vinho também está
concentrada no Rio Grande do Sul, sendo responsável por 330 milhões de litros de vinhos e mostos (sumo de uvas frescas que ainda não tenham passado pelo processo de fermentação) ou 90% da produção nacional (MAPA, 2015).

O principal coproduto gerado na agroindústria do suco e do vinho é o bagaço de uva, sendo sua produção equivalente a 20% da uva processada ou 155 mil toneladas ao ano no RS. O bagaço de uva está composto
por aproximadamente 55% de casca, 40% de sementes e 5% do engaço e, além de apresentar uma boa composição nutricional, contém compostos químicos com propriedades nutraceuticas (antioxidantes e fenólicos). Como pode ser observado na Tabela 1, o bagaço de uva apresenta uma composição nutricional similar à apresentada por outros coprodutos da agroindústria, porém com maiores teores de água (45,83%) e gordura (16,20%).

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As caraterísticas nutricionais anteriormente citadas têm permitido utilizar o bagaço de uva na elaboração de produtos funcionais utilizados na indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética, agregando valor econômico e ambiental a este coproduto e colaborando com a sustentabilidade das cadeias produtivas do agronegócio. Uma das áreas onde o bagaço de uva tem maior potencial de utilização é na alimentação
de ruminantes (ovinos, caprinos, gado de corte e gado de leite), devido a seu elevado teor de fibra e proteína e a presença de óleo, taninos condensados e compostos fenólicos, que podem diminuir a produção de metano no rúmen dos animais, sem prejudicar seu desempenho produtivo.
Em um recente trabalho realizado na Austrália com vacas leiteiras em final de lactação foi demonstrado que a substituição de feno de alfafa por bagaço de uva não comprometeu a produção e composição
do leite e permitiu diminuir as emissões de metano (Tabela 2).

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Segundos os autores deste trabalho (Moate, P.J. et al., J.Dairy Sci., 97(8): Utilização de bagaço de uva na alimentação de ruminantes Harold Ospina Patino, Zootecnista, M.Sc. D.Sc. Curso de Zootecnia – UFRGS
Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes – GNR 5073-5087. 2014) a incorporação de bagaço de uva em dietas de vacas leiteiras em final de lactação diminuiu as emissões de metano em 20%, sem redução no consumo de alimento. Além disto a produção de metano foi reduzida em 23% nos animais que recebiam bagaço de uva seco e em 18% nos animais que recebiam bagaço de uva na forma de silagem. Aparentemente estes efeitos são decorrentes da presença de óleos, taninos condensados e outros componentes químicos (ácido tartárico, resveratrol, etc) que geram mudanças na população microbiana do rúmen.

As características nutricionais e nutraceuticas do bagaço de uva o tornam um coproduto com enorme potencial para elaboração de suplementos e rações para ruminantes de alto valor agregado (ambiental
e econômico). O Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes coordenado pelo Professor Harold Ospina Patino do curso de Zootecnia da UFRGS, trabalha no desenvolvimento, avaliação e validação de alimentos elaborados utilizando bagaço de uva, farelo de arroz e outros coprodutos da agroindústria gaúcha, na busca de produtos de alto valor agregado, ambientalmente ativos e que melhorem o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais e a qualidade dos produtos de origem animal (carne e leite). Especificamente o nosso maior interesse é definir metodologias de processamento do bagaço de uva que diminuam a produção de metano e melhorem o perfil de ácidos graxos na gordura da carne
e do leite, de modo a trazer benefícios à saúde dos consumidores.

Por:

Harold Ospina Patino, Zootecnista, M.Sc. D.Sc.
Curso de Zootecnia – UFRGS
Grupo de Estudos em Nutrição de Ruminantes – GNR

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