
A pesquisa iniciada há 11 anos pela Epagri, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Fundação Edmund Mach, da Itália, e o Instituto Julius Kühn, da Alemanha, resultou na introdução das primeiras variedades PIWI no Brasil. O projeto, que teve início com o teste de viníferas tradicionais, evoluiu para a pesquisa de uvas resistentes a doenças fúngicas, atendendo melhor às condições climáticas do sul do país. O resultado tem sido tão promissor que produtores de diferentes estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste já estão adotando essas variedades.
A principal vantagem das PIWI – sigla em alemão para variedades resistentes a fungos – é a redução do uso de defensivos agrícolas, tornando a produção mais sustentável e econômica. Segundo o pesquisador André Kulkamp, coordenador do estudo da Epagri, a necessidade de insumos fitossanitários pode cair em até 60% na comparação com viníferas tradicionais, o que beneficia o produtor na redução de custos e melhora o impacto ambiental da viticultura.
“Se formos comparar com Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, podemos falar em redução de dois terços de todo o insumo de produtos fitossanitários que são utilizados, o que faz com que haja um grande efeito, seja na questão econômica na qual o produtor tem um custo de produção muito menor, quanto também do ponto de vista da saúde dos produtores, dos consumidores, do meio ambiente, trazendo realmente um grande ganho para todos os elos da cadeia produtiva”, explica Kulkamp.
As uvas PIWI foram testadas em cinco regiões de Santa Catarina, abrangendo diferentes altitudes e microclimas. Os ensaios ocorreram em São Joaquim e Água Doce, que possuem temperaturas mais frias, e em Urussanga, no sul do estado, com clima quente e úmido, além de Videira e Curitibanos, áreas intermediárias.
Com dez safras de avaliações, a pesquisa identificou que algumas variedades apresentam alta resistência a doenças e grande potencial enológico, além de adaptação a diferentes condições climáticas. Os primeiros lançamentos comerciais no Brasil foram Calardis Blanc e Felícia, que entraram em cultivo comercial em 2022 e chegam ao mercado em 2025, já na primeira safra elaborada por produtores.
O estudo da Epagri se tornou referência e atraiu a atenção de vinícolas de outros estados, que já iniciaram a produção dessas variedades. Como os viveiros multiplicadores das mudas estão em Santa Catarina, esse foi o primeiro polo de difusão, mas não há restrições para o cultivo em outras regiões. Produtores de Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e até Pernambuco começaram a investir nas novas variedades, ampliando a presença da PIWI no Brasil.
Novas variedades em desenvolvimento
A pesquisa da Epagri não se encerra com os primeiros lançamentos. Em 2025, estão sendo introduzidas 13 novas variedades da Itália, além de cultivares oriundas da Hungria e da Alemanha, que estão em fase de avaliação. A grande aposta para o futuro, porém, é o desenvolvimento de variedades brasileiras, adaptadas especificamente ao terroir do país.
“Estamos desenvolvendo variedades brasileiras, elas serão ainda mais adaptadas ao nosso clima, já que elas estão sendo desenvolvidas por melhoramento genético”, ressalta André Kulkamp.

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