Grupo conheceu diversas regiões da Europa e cooperativas.
Grupo conheceu diversas regiões da Europa e cooperativas.

Com objetivo de recolher informações técnicas aplicadas ao ciclo produtivo, conhecer processos de gestão e estabelecer estratégias de intercâmbio e integração do setor vitivinícola mundial, uma comitiva integrada por 12 dirigentes de cooperativa vinícolas da Serra Gaúcha viajou recentemente à Europa, numa missão organizada pela FECOVINHO. Durante 15 dias, eles percorreram regiões da França e Espanha, que constituem uma das mais importantes rotas do cooperativismo europeu.

 

 

Como a viagem de estudo pretendia conhecer a complexidade da organização cooperativa, as visitas não ficaram restritas às cooperativas vinícolas.
No País Basco, primeiro ponto de parada da viagem, o grupo gaúcho foi recebido pelo Secretário Indústria, Promoção Empresarial e Inovação,Gorka Estebez Mendizabal. Ele manifestou grande interesse em firmar acordos de cooperação em alta tecnologia com o Rio Grande do Sul nas áreas de geração de pesquisa, ciência e tecnologia. Segundo o diretor executivo da FECOVINHO, Hélio Marchioro, este Estado possui uma grande maturidade na questão cooperativa, tendo como base de seu desenvolvimento econômico as cooperativas em todos os setores.

 

Em Biskaia, os cooperativistas gaúchos conheceram o Centro de Pesquisa e Inovação e Tecnologia. Uma das unidades, a Boiolan, realiza pesquisa com o desenvolvimento de biosensores para a vitivinicultura. Os equipamentos concebidos neste “embrionário” são usados na análise de uva e vinho, nas questões de sanidade, maturação, acidez e quantidade de açúcar. Na sequência, o grupo visitou Mondragón, um dos maiores complexos industriais da Europa. São 120 cooperativas, 80% delas com foco nas atividades industriais. Criado em 1943, como uma escola profissionalizante, tem mais de 100 mil associados com orientação focada nos fundamentos entre doutrina e princípios cooperativistas.

 

Imersão vitivinícola
Depois dessa primeira parte da viagem, o grupo mergulhou no espaço cooperativo vitivinícola da Espanha e França, passando pelo Museu do Vinho, em Paris, e por mais de 20 cooperativas e pequenas empresas. Para o vice-presidente da Cooperativa Agroindustrial Pradense, Altemar Magnabosco, um dos aspectos mais importantes da produção vitivinícola nesses países é o sistema de condução da produção, projetada para o uso da automação e da tecnologia. Diante da redução drástica da mão de obra disponível, eles modificaram o sistema. “Os europeus adequaram a tecnologia às suas necessidades de cultivo, facilitando o acesso e a aquisição de máquinas, equipamentos e estruturas de produção”.

 

Para Magnabosco, uma das novidades importantes adotadas pelas cooperativas e pelos governos é o sistema de planejamento da produção, especialmente no tamanho da área cultivada e no volume de produzido. Na avaliação do dirigente, isso favorece controle e melhor manuseio do sistema produtivo, planejamento e garantia de rendimento para os agricultores.

 

O secretário do Conselho de Administração da Aurora, Renato Conzatti, também observa que o sistema de planejamento da produção adotado pelas cooperativas vinícolas europeias é algo diferenciado. Tudo conduz para a qualidade do produto oferecido ao mercado. Em primeiro lugar, cada região tem poucas variedades cultivadas. “Isso resulta num produto com características específicas e diferenciadas em sabor, qualidade e preço, além de maior rentabilidade ao produtor”. Outro item apontado por Conzatti é o cuidado rigoroso no cultivo, desde o plantio das mudas e tamanho das áreas até o manejo e a época adequada para a colheita.

 

O secretário destaca ainda que a organização vertical do sistema cooperativo facilita a vida dos associados. Mesmo cooperativas muito pequenas têm acesso a alta tecnologia e qualidade da industrialização das grandes cooperativas.

 

Hélio Marchioro salienta que durante toda a viagem o grupo foi mobilizado para o conhecimento de questões técnicas e dos modelos adotados. “Fomos recebidos por amigos. Temos uma rede de relacionamento mundial que permite a troca de conhecimentos e de informações. As nossas cooperativas precisam superar um problema de identidade – medo ou vergonha de ser cooperativa – que apequena a nossa condição”.

 

Sistema cooperativo
O gerente administrativo da Nova Aliança, Paulo Mognon, destacou que um dos aspectos mais importantes observados pelo grupo foi a consistência da concepção de cooperativismo entre os agricultores europeus. Ele disse que houve uma comprovação clara de que o cooperativismo é a única saída viável para os pequenos produtores. “Isso significa dizer que a cooperação é a forma do pequeno agricultor consegue ter a mesma condição de grandes estruturas de competitividade e inserção no mercado”. Para ele, a produção em escala com a integração de muitos pequenos agricultores, a racionalização dos processos de produção e a melhoria da eficiência dos parques industriais serão capazes de agregar renda e assegurar a continuidade da atividade do agricultor. “Um sistema vertical de cooperação consegue assegurar rentabilidade e valorização do produto dos pequenos agricultores”.

 

O presidente da FECOVINHO, Oscar Ló, afirmou que esta forma de organização assegura que 60% da produção de vinhos da Europa é oriunda do sistema cooperativo. Isso garante inserção no mercado e maior valorização dos produtos das cooperativas, obtendo melhor valorização da produção cooperativada. Existem na França e na Espanha muitas pequenas cooperativas integradas e ligadas a uma central.

 

Conzatti lembra que cada região possui uma especificidade produtiva, que diferencia, inclusive, os preços da uva. Em algumas regiões o kg de uva é 5 € e outras que é 30 centavos de euro. Porém, o que se destaca nessas diferenças são sistemas tecnológicos que garantem benefícios ao produtor. Uma delas é a inovação e a tecnologia para a pequena propriedade, que em grande parte produz até seis mil quilos por hectare. “Tudo é cooperativado, inclusive a prestação de serviços, a colheita, máquinas e compra de insumos”.

 

Viagem promove integração1

 

Destaques

Alterar Magnabosco: “Os mesmos equipamentos, hoje, são oferecidos aqui. No entanto, os europeus adequaram a tecnologia às suas necessidades, facilitando o acesso e a aquisição de máquinas, equipamentos e estruturas de produção”.

Oscar Ló: “Com a globalização temos problemas idênticos. Por isso, a aproximação, as parcerias comerciais e técnicas podem favorecer a todos”.

Hélio Marchioro: “Temos uma rede de relacionamento mundial que permite a troca de conhecimento e de informações. Precisamos fortalecer esses laços”.

Renato Conzatti: “Tudo é cooperativado, inclusive a prestação de serviços pelos próprios agricultores, por exemplo, a colheita, máquinas, indústria e comercialização de insumos e dos produtos finais”.

Paulo Mognon: “A produção em escala com a integração de muitos pequenos agricultores, a racionalização dos processos de produção e a melhoria da eficiência dos parques industriais são capazes de agregar renda e assegurar a continuidade da atividade do agricultor europeu”.

 

Encontro Mundial
Em Narbone, Vale d’Orbieu, Sul da França, aconteceu um dos momentos marcantes e uma das razões do roteiro pela Europa. O Encontro Mundial de Cooperativas Vinícolas reuniu gaúchos, argentinos, franceses e espanhóis. A FECOVINHO foi protagonista na concepção desta iniciativa, que teve agendas técnicas, políticas, turísticas e culturais.

 

Viagem promove integração2
Grupo que viajou à Europa.

 

Nas rodadas de debate, os representantes dos países participantes definiram uma série de procedimentos que serão adotados em conjunto. O primeiro é estimular o intercâmbio permanente de informações relativas a mercado, preços, volumes e perspectivas de safra, através de um observatório. Também resolveram estabelecer intercâmbios técnicos envolvendo o sistema cooperativo e os governos. Essa ação deve contemplar jovens, produtores, técnicos, mulheres, enólogos e agrônomos.

 

O segmento vai reivindicar uma cadeira para o cooperativismo vinícola na Organização Internacional do Vinho (OIV). E, ao mesmo tempo, pleitear uma representação do setor junto a Aliança Cooperativa Internacional. A decisão mais importante é que o grupo estabeleceu a Serra Gaúcha como o locar do grande encontro mundial das cooperativas vinícolas, que será realizado em novembro de 2013. Segundo Marchioro, este encontro vai tratar de questões de marketing, fortalecimento da identidade, mercado e parcerias estratégicas. Em abril, haverá uma reunião preparatória na Serra Gaúcha, com lideranças cooperativistas do Brasil, Argentina e França.

 

O Presidente da FECOVINHO reforça que o intercâmbio entre os países proporciona informações, conhecimento e superação de obstáculos que dificultam o setor. “Com a globalização temos problemas idênticos. Por isso, a aproximação, as parcerias comerciais e técnicas podem favorecer a todos”.

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