Diminuição na quantidade em relação à colheita passada passa dos 50%. Nas vinícolas, a uva apresenta boa sanidade e cor
Em muitas propriedades rurais da Serra Gaúcha, a vindima, que se estendia até meados de março, finalizou ainda no início de fevereiro. E não é só porque nos últimos anos a colheita tem iniciado antes devido ao clima, mas porque a quantidade de uvas nos parreirais está bem menor. Tanto é que as autoridades do setor afirmam que esta foi uma das safras mais ‘amargas’ dos últimos anos, e não somente para o viticultor, mas na comercialização dos vinhos de mesa.
A previsão do Instituto Brasileiro do Vinho é de que na safra 2016 serão colhidos cerca de 350 milhões
de quilos de uva, o que representa 50% em relação a 2014/2015 e 40% em relação à média dos últimos cinco períodos. Já a Emater é menos otimista, e divulgou que a redução da produtividade chega a 65% em relação a safra anterior, o que representa cerca de 550 mil toneladas a menos da fruta no mercado, e a 56% a menos comparando com a média histórica. Por outro lado, essa diminuição da quantidade fará com que os estoques das vinícolas abasteçam o mercado. “É nítido o desânimo escancarado no rosto dos produtores, que por um lado tiveram uma elevação dos seus custos de produção, muito devido a variação cambial, sendo que boa parte dos insumos e adubos estão atrelados a moeda estrangeira, e por outro lado
uma diminuição da produção, fazendo com que o custo médio do quilo da uva ficasse bem acima que a média de anos anteriores.
Em termos de quantidade, a Vinícola Don Giovanni irá receber entre 40% e 50% menos uvas que 2015. Qualitativamente temos uma vindima uniforme, os teores de açúcares das uvas estão dentro da normalidade, a acidez está equilibrada e as uvas estão com boa sanidade”, explica o enólogo da Vinícola
Don Giovanni, Luciano Vian. Outra vinícola de grande porte da região, a Salton, prevê receber até o final da vindima, incluindo os vinhedos novos implantados recentemente na Campanha Gaúcha, em torno de 8 milhões de quilos de uva, 7 milhões a menos que a vindima de 2015, como informa o diretor de enologia da empresa, Lucindo Copat. “As uvas Chardonay, Riesling, Prosecco e Trebbiano apresentaram qualidade
excelente para os espumantes”, diz Copat.
O presidente da entidade, Dirceu Scottá, explica que a diminuição do volume pode trazer benefícios quanto à qualidade. “Seguramente teremos perda de volume, que pode ser maior ou menor, dependendo da região, mas as uvas que estão sendo colhidas apresentam boa sanidade e cor”, sintetiza. Para o presidente da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho) e vice-presidente do Ibravin, Oscar Ló, os estoques, que passam dos 300 milhões de litros, deverão ajudar no abastecimento de mercado. “Considerando as vendas registradas em 2015 e até uma certa diminuição no volume que deve ser comercializado, certamente teremos produtos para atende 390 milhões de litros até o mês de
novembro, incluindo todos os produtos vitivinícolas: vinhos tranquilos, sucos, espumantes, vinagres, mosto, entre outros.
O destaque positivo, mais uma vez, fica por conta dos espumantes, com crescimento de 11,9%, e dos sucos de uva prontos para consumo, índice 30,5% maior em relação a 2014. Mesmo não endo crescimento em volume, nos vinhos de mesa a comercialização de produtos engarrafados cresceu 6,2%, compensando a queda na comercialização deste produto a granel e em garrafões.
O presidente do Ibravin, Dirceu Scottá, ao contextualizar os dados registrados em 2015 pelas vinícolas gaúchas, alerta para as dificuldades que o setor vem enfrentando em 2016. Scottá adianta que o resultado não deve se repetir em função do aumento dos custos de produção, da redução no volume da safra e das
mudanças na tributação, com o aumento do IPI e do ICMS. “O cenário é preocupante porque todos esses fatores encarecem os produtos no ponto de venda.
Isso, aliado à diminuição do poder de compra do consumidor devido ao momento de retração na economia, faz com que tenhamos uma perspectiva de diminuição nas vendas neste ano”, prevê.
Nas exportações, o resultado em valor foi de US$ 4 milhões ante os cerca de US$ 10,2 milhões registrados em 2014. O principal motivo para a diminuição, de acordo com o presidente do Ibravin, foi a formação de estoques com a visibilidade do país devido à realização da Copa do Mundo em 2014. “Por esse motivo,
mesmo com a valorização do dólar, o resultado de diminuição era previsto. Se compararmos com anos anteriores, podemos dizer que foi um resultado normal, devido ao Brasil ainda ser um país que exporta um baixo volume em comparação com países mais tradicionais, como Argentina e Chile”, analisa Scottá.