A produção de vinhos de inverno tem revolucionado a vitivinicultura brasileira, especialmente no Sul de Minas, e agora esse método inovador chega também aos vinhos de mesa. A Vinhos Beloto, vinícola tradicional de Andradas (MG), acaba de lançar o Caterina, o primeiro vinho de mesa do Brasil elaborado a partir da colheita de inverno com uvas Jacquez.
A iniciativa representa um marco para o setor, combinando tradição e inovação em um rótulo que resgata a história da viticultura local. O nome Caterina homenageia a bisavó da família Beloto, imigrante italiana que ajudou a estabelecer os vinhedos da região, além de ser um tributo a todas as mulheres da família.
O projeto começou há dois anos e enfrentou desafios significativos. Segundo o enólogo Rogério Beloto, ninguém havia testado a colheita de inverno com a uva Jacques antes, tornando o processo um experimento de alto risco. A primeira tentativa, em 2022, não rendeu frutos, mas a equipe persistiu e, em 2023, obteve uma safra de qualidade excepcional.
A Jacques, uma variedade americana, foi fundamental para a subsistência das famílias italianas que colonizaram Andradas entre 1900 e 1970. Com o crescimento dos vinhos finos, muitas plantações dessa uva foram erradicadas, mas algumas vinícolas, como a Beloto, mantiveram seus parreirais. “A uva Jacques deu prestígio para Andradas como terra do vinho. O Caterina pode ser considera um marco para a vitivinicultura, pois é o primeiro vinho no Brasil elaborado a partir do método de poda de inverno, mostrando todo potencial das uvas”, destaca Rogério.
A inversão do ciclo da videira permitiu que a uva amadurecesse sob condições climáticas ideais, com dias quentes e noites frias, favorecendo a concentração de açúcar e taninos equilibrados. O resultado é um vinho de mesa diferenciado, que apresenta notas de frutas vermelhas, coloração rubi intensa e uma acidez agradável.
Além da inovação no cultivo, o Caterina se diferencia pelo seu posicionamento no mercado. Segundo Gervasio Beloto, gerente administrativo e comercial da vinícola, o vinho de mesa tradicional geralmente tem preços acessíveis, mas o Caterina surge como um vinho de mesa premium. “Enquanto um vinho de mesa convencional é vendido por cerca de R$ 20, o Caterina chega ao mercado por R$ 80, devido à sua qualidade superior e exclusividade”, explica.
A aposta da Vinhos Beloto reforça o crescente movimento de valorização dos vinhos de inverno no Sul de Minas, que tem conquistado reconhecimento internacional. O método tem sido amplamente adotado na região, permitindo a produção de vinhos com maior estrutura e potencial de envelhecimento.
Futuro da colheita de inverno para vinhos de mesa
O sucesso da experiência com a Jacques abre caminho para novos projetos. A vinícola já estuda aplicar o método de colheita de inverno a outras uvas de mesa, como Niágara e Bordô, ampliando as possibilidades para o segmento.
O lançamento do Caterina mostra que os vinhos de mesa podem ir além do convencional e ganhar um novo status no mercado. Ao combinar tradição, inovação e um terroir favorável, a Vinhos Beloto coloca Andradas no mapa da vitivinicultura brasileira de maneira inédita.
Com a crescente aceitação dos vinhos de inverno e o resgate da identidade das uvas tradicionais, o Caterina pode ser apenas o começo de uma nova fase para os vinhos de mesa nacionais.
