Vinícola inova do campo até a venda ao consumidor

Novidades como o cultivo de variedades vitis viníferas em sistema latada são algumas das práticas da Estrelas do Brasil

 

Enólogo Irineu Dall ‘Agnol trabalha com as uvas em sistema latada.
Enólogo Irineu Dall ‘Agnol trabalha com as uvas em sistema latada.

Inovação. Esta é a palavra que melhor define a Estrelas do Brasil, projeto de “vinho de autor” dos enólogos Irineo Dall’Agnol e Alejandro Cardozo. É na Estrelas do Brasil que Dall’Agnol, enólogo da Embrapa Uva e Vinho, e o uruguaio Alejandro, da Piagentini, experimentam a elaboração de vinhos e sobretudo espumantes de alta qualidade a partir de práticas originais: como espumantes feitos pelo método tradicional (champenoise), com leveduras imobilizadas (encapsuladas), que elimina a etapa da “remuagem”; ou espumantes elaborados de forma inédita com a uva Viognier, em um corte com Pinot Noir e Chardonnay. Eles ainda fazem um espumante 100% Prosecco, obtido pelo método charmat com uma única fermentação. E também um espumante 100% Riesling e outro rosé 100% Pinot Noir. As novidades também contemplam um espumante barricado, ou seja, com o vinho base Chardonnay com passagem de 12 meses por carvalho.

 

Dupla Maturação Direcionada
Nos vinhos, há um tinto elaborado pela técnica pioneira da Dupla Maturação Direcionada (DMD), isto é, a realização provocada de uma segunda maturação das uvas no próprio vinhedo, por meio do corte de parte dos ramos que sustentam os cachos. O resultado é uma forte passificação natural das bagas, muito similar ao famoso “amarone italiano”. “A diferença é que deixamos as uvas secarem no vinhedo e não em um ambiente controlado”, explica Dall’Agnol. Complexo e estruturado, este vinho deve ser decantado por no mínimo 10 horas antes do consumo, conforme recomendação dos enólogos.

 

O segundo vinho tinto da Estrelas do Brasil é o Dall’Agnol Superiore, da emblemática safra 2005, um blend das castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat, que maturou 24 meses em barricas de carvalho americano e foi engarrafado – um lote de apenas 1.000 unidades – sem filtração. Este vinho recebeu a Grande Medalha de Ouro no V Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, realizado em 2010.

 

Sistemas de condução: polêmica
A maior inovação da Estrelas do Brasil está na contramão do que reza o senso comum: a elaboração de vinhos finos de alta qualidade a partir do cultivo de uvas vitis viníferas conduzidas pelo sistema horizontal (latada) e não pelo consagrado sistema vertical (espaldeira). Os rótulos da Estrelas do Brasil são feitos com uvas cultivadas em dois vinhedos. Um de 9 hectares, no distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, entre o Vale dos Vinhedos, o Vale do Rio das Antes e o Vale Aurora, a 525 metros de altitude, onde 90% dos uvas estão erguidas no sistema latada. Em Nova Prata, também na Serra Gaúcha, com 12 hectares, 50% da área é conduzida em latada e a outra metade em espaldeira.

 

Dall’Agnol diz que “o sistema de condução da videira é só uma forma de sustentação do vinhedo”. “O melhor sistema é aquele que se adapta ao solo, ao clima e à planta”, afirma. O enólogo, que é formado em Ciências Agrárias e Agronomia, com especialidade em Enologia na Itália, rechaça a ideia de que o sistema de condução possa ser responsável pela qualidade final da uva e do vinho da Serra Gaúcha. “O que determina a qualidade final dos produtos é a soma de diversos fatores, como o clima, o solo e a sua interação com o homem”, ensina.

 

Ele diz que é inegável que a introdução de tecnologias prontas de outros países, em um primeiro momento, acelerou o crescimento da vitivinicultura brasileira. “Mas precisamos nos livrar de preconceitos, olhar mais para o nosso umbigo e acreditar que o brasileiro é criativo, temos nossas características próprias e podemos adaptar e criar produtos e tecnologias iguais ou superiores às existentes em outras regiões vitivinícolas do mundo”, defende.

 

Por esse motivo, os vinhedos da Estrelas do Brasil são completamente diferentes do que se vê na maioria dos países produtores e até mesmo na Serra Gaúcha. A maior parte dos vinhedos de uvas vitis vinífera são conduzidos no sistema horizontal (o senso comum reza que o melhor sistema é o vertical). O espaçamento entre as plantas e as linhas é maior e recheado por várias plantas nativas (nos vinhedos tradicionais, não se admite “mato” nos corredores das vinhas). O solo é fértil, com muita e rica matéria orgânica (ao contrário do solo pobre e pedregoso que distingue a maioria dos vinhedos de vitis vinífera).

 

E a produção por planta é, no mínimo, o dobro de outros vinhedos que geram vinhos tops, alcançando 20 toneladas por hectare. “Respeitamos a natureza. Estudamos as condições da nossa terra e agimos com o objetivo de conseguir o melhor equilíbrio para a produção de uvas de qualidade”, declara.

 

Só 10% da uva produzida pela Estrelas do Brasil vai para elaboração de vinhos próprios. São aproximadamente 30 toneladas. A produção excedente é vendida para Chandon, Valduga, Piagentini, Salton, entre outras empresas. Suas uvas são desejadas por produtores de vinhos de autor, como o garagista Marco Danielle.

 

A filosofia de “fazer produtos que não existem” segue viva na Estrelas do Brasil. A inovação desta safra é a elaboração de um vinho branco pelo método da Dupla Maturação Direcionada (DMD). As uvas, todas da variedade Riesling, ficaram 20 dias maturando, pela segunda vez, no próprio vinhedo, após ter ocorrido o corte dos ramos que sustentam os cachos. A intensa passificação natural das bagas por certo resultará em vinho complexo, de sobremesa. “Será um vinho único no Brasil”, anuncia Dall’Agnol.

 

Por Orestes de Andrade Jr/ Especial para o A Vindima
Foto: Orestes de Andrade Jr

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