De olho no crescimento constante desse segmento, vinícolas investem em linhas de produtos populares
Na última década, o perfil socioeconômico do país mudou – e muito. A principal novidade foi o fortalecimento da classe C. Em uma década, 35 milhões de pessoas foram incluídas nesse segmento, um aumento de 51%. Dados divulgados recentemente pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República apresentam os resultados do estudo Vozes da Classe Média, que apontam que mais da metade da população brasileira (53%) faz parte da classe média, um total de 104 milhões de brasileiros.
Carro, móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, roupas, produtos de beleza e viagens estão no topo da lista dos anseios das famílias da nova classe média. O estudo Vozes da Classe Média mostra que os emergentes gastam 23% de seus recursos com serviços; 18,6% com alimentação; 8,7% com saúde e beleza; 8,1% com transportes; 5,1% com vestuário; 2% com educação; e 1% com entretenimento.
De olho nessa parcela da população ávida por consumo, algumas empresas do segmento vinícola estão investindo em produtos que atraiam a atenção e caiam no gosto da nova classe média. No início de 2012, a Vinícola Aurora, por exemplo, lançou espumantes Brut e Demi-sec e frisantes na linha Saint Germain, marca que está presente no portfólio da empresa há décadas, sempre com forte penetração no varejo nacional. Conforme a gerente de marketing da empresa, Lourdes Conci da Silva, trata-se de uma linha econômica elaborada com uvas viníferas. “A linha foi renovada no ano passado com a nova garrafa contendo menos vidro e novo rótulo”, explica. Outro investimento da vinícola também é voltado para a linha mais popular. Há cerca de dois meses a Aurora renovou sua linha de vinhos de mesa: Sangue de Boi e Country Wine. O primeiro passo foi o lançamento de uma nova garrafa de 750ml, que utiliza a tampa screwcap, sistema de fechamento com tampa de rosca. Logo em seguida, colocou no mercado a Sangue de Boi Branco, uma grande novidade nessa marca que está no mercado há várias décadas. “Pode ver que houve uma preocupação com todos os consumidores. Nos da classe C, há muitas novidades em viníferas, pensando naqueles que já começam a fazer outras escolhas em seu consumo, e nos vinhos de mesa, para aqueles que já são consumidores dessas linhas por preferência ou que, através dessas linhas básicas de mesa, começam a entrar no consumo do vinho”, evidencia Lourdes.
A Miolo Wine Group é outra empresa de grande porte que vem ampliando seu foco de consumidores, investindo em produtos de qualidade, mas que possuam um valor acessível, para que possam atingir um público maior. Em 2011, investiu na expansão da marca Almadén, com o lançamento de sua primeira linha de espumantes oferecidas em garrafas de 660ml: o Almadén Brut, o Almadén Meio-Doce e o Almadén Meio-Doce Rosé. Jovens e refrescantes, os produtos são elaborados na Campanha, em Santana do Livramento (RS), pelo método charmat, mesmo utilizado nos espumantes Terranova.
De acordo com o diretor comercial da Miolo, Alexandre Miolo, o objetivo foi elaborar um produto de qualidade, porém com menos quantidade da bebida, gerando um preço mais competitivo no mercado. “Percebemos que havia essa demanda, pois o mercado de espumantes duplicou nos últimos cinco anos e é o que mais cresce no Brasil. Trata-se de uma bebida que caiu no gosto do consumidor, com a qual ele se identifica”, evidencia Miolo, acrescentando que as vendas já estão superando as expectativas.
Miolo explica, ainda, que recentemente a Almadén relançou as opções de vinhos suaves. O objetivo foi atingir um consumidor que busca vinhos mais leves. “O Almadén Ugni Blanc Suave e o Cabernet Suave foram lançados com a assinatura do cantor sertanejo Daniel. Os produtos, que são relançamentos da Vinícola Almadén, foram hits na década de 1980 e agora voltam ao mercado para comemorar seus 30 anos de sucesso”, completa o diretor comercial da vinícola.
A nova classe média
Não se pode dizer que o país tenha mudado da noite para o dia. A modificação resulta de múltiplos fatores: de um processo de crescimento do país, combinado com a redução na desigualdade e nas taxas de juros e aumento de vagas de trabalho. Para a SAE, esse crescimento da classe média tem movimentado e impulsionado a economia do Brasil, pois essa fatia da população responde por 38% da renda e do consumo das famílias. Renda essa, que tem crescido mais do que a do restante da população. De acordo com os dados apresentados no estudo, enquanto na última década a renda média desse segmento cresceu 3,5% ao ano, a das famílias brasileiras cresceu, no mesmo período, 2,4% ao ano. De 2002 a 2012, 21% da população brasileira deslocou-se da base para o miolo da pirâmide social, enquanto apenas 6% ascenderam da classe média para a alta.
A estimativa dos elaboradores da pesquisa é de que em 2012 a classe média brasileira movimente cerca de R$ 1 trilhão. Já para os próximos 10 anos, se mantido o mesmo índice de crescimento, a SAE acredita que essa faixa da população represente 57% dos habitantes do Brasil.
Pelos padrões estabelecidos pela pesquisa, baseada em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Data Popular, a classe média é composta pelos que vivem em famílias com renda individual mensal entre R$ 291 e R$ 1.019.