A vitivinicultura é uma atividade importante para a sustentabilidade da pequena propriedade no Brasil. Nos últimos anos tem se tornado importante também na geração de emprego em grandes empreendimentos para produção de uvas de mesa e de uvas para processamento. Em 2009, houve redução na produção de uvas na maioria dos Estados brasileiros. No Brasil, ocorreu redução de 4,08% no total de uvas produzidas, interrompendo a tendência crescente dos últimos anos (Tabela 1). Nesse ano, a crise mundial refletiu fortemente na produção de uvas de mesa, sendo que alguns produtores abandonaram parte dos vinhedos. Além disso, fatores climáticos desfavoráveis resultaram em menor produção. A maior redução de produção de uvas ocorreu no Estado de Minas Gerais (-14,13%), seguido por São Paulo (-7,79%) e pela Bahia (-7,15%). O Rio Grande do Sul, principal Estado produtor de uvas e vinhos do país, apresentou redução na produção de uvas de 4,98%. Os Estados de Santa Catarina e Paraná apresentaram acréscimo na produção de uvas de 16% e 0,57%, respectivamente.
Em 2009, praticamente metade da uva produzida no país foi destinada ao processamento para elaboração de vinhos, suco e derivados, sendo o restante destinado ao mercado de uva para consumo in natura (Tabela 2).
Da mesma forma que com a produção, ocorreu redução da área plantada e da área colhida de uvas no Brasil, de 1,15% e 0,41%, respectivamente, segundo dados capturados em janeiro de 2010, no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Tabelas 3 e 4). As maiores reduções ocorreram nos Estados da Bahia, São Paulo e Minas Gerais, com diminuição na área plantada de 14,9%, 9,03% e 6,26%, respectivamente. Comportamento semelhante ocorreu na área colhida de uvas desses Estados. Os Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pernambuco apresentaram aumento tanto na área plantada como na área colhida. Santa Catarina apresentou aumentos de 2,09% na área plantada e de 2,03% na área colhida. O Rio Grande do Sul teve incrementos de 1,2% na área plantada com videiras e de 2,29% na área colhida, enquanto o Estado de Pernambuco teve aumento de 0,3% na área plantada e de 1,16% na área colhida.
Embora não apareça nas estatísticas do IBGE, a viticultura está sendo implementada em vários Estados, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Ceará e Piauí.
Não se dispõe de estatísticas sobre a produção e comercialização nacional de vinhos e suco de uva. O Estado do Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 90% da produção nacional, possui informações de produção de uvas, vinhos e derivados, bem como de comercialização, cuja análise permite ter uma boa aproximação do desempenho da agroindústria vinícola do país. O Estado de Santa Catarina possui dados de uvas processadas, vinhos e derivados; no entanto, não tem informações sobre a comercialização de seus produtos. Nos demais Estados, as informações não são organizadas e, portanto, não acessíveis para divulgação.
A Tabela 5 apresenta a produção de vinhos, sucos e derivados do Rio Grande do Sul. Verifica-se, em 2009, redução de 16,79%. O único produto com aumento na produção foi o suco de uva (3,39%), sendo que o suco de uva simples (natural) cresceu 35,67% e o concentrado se manteve nos mesmos patamares de 2008. Os vinhos de mesa apresentaram a maior queda de produção (28,56%). Cabe mencionar que as uvas utilizadas para produção de vinhos de mesa são também, em grande parte, usadas para elaboração de suco – portanto, dividem o mesmo mercado.
Os vinhos finos tiveram sua produção reduzida em 15,79% no ano de 2009, em relação ao ano de 2008.
No Estado de Santa Catarina foram produzidos, em 2009, segundo dados da Superintendência Federal da Agricultura do Estado de Santa Catarina, 11,44 milhões de litros de vinho, sendo 97,92% de vinhos de mesa (Tabela 6).
Comparativamente ao ano de 2008, ocorreu redução de 36,74% na produção de vinhos em 2009, em Santa Catarina. O Estado também produz uma pequena quantidade de mosto de uva e de espumante. Vale ressaltar que parte do espumante produzido no Estado de Santa Catarina provém da uva Niágara Rosada, com característica distinta do espumante produzido no Rio Grande do Sul, que é elaborado com uvas de cultivares Vitis vinifera, de maior valor agregado.
O ano de 2009, conforme demonstrado anteriormente, não foi um ano positivo em termos de produção de uvas e vinhos, mas, em termos de mercado dos produtos derivados da uva, houve uma reação positiva. O Rio Grande do Sul apresentou aumento de 19,53% na comercialização de suco e vinhos no ano de 2009, em relação ao ano anterior (Tabela 7). Os vinhos de mesa apresentaram aumento de 17,66%, com destaque para os brancos, que cresceram 48,22%, seguidos pelos rosados, com 26,78%; os tintos, que representam mais de 80% do volume desta categoria de vinhos, cresceram 12,84%.
Dada a existência de estoques elevados de vinhos finos, em 2009 foram criados mecanismos, via PEP (Prêmio de Escoamento da Produção do Governo Federal), para impulsionar a comercialização, o que resultou num crescimento de 56,63%. Tanto os vinhos tintos como os brancos apresentaram crescimento semelhante ao total da categoria (quase 57%).
Os vinhos espumantes, cujo mercado tem absorvido toda produção gaúcha, pelas características e elevada qualidade, continuaram sua trajetória em 2009, aumentando 14,57%. Os espumantes moscatéis, de sabor e leveza atraentes, especialmente para os consumidores do sexo feminino, obtiveram aumento de 31,42%.
Os sucos de uva, que já apresentavam uma trajetória crescente, continuaram em ascendência, sendo que o suco de uva integral apresentou aumento de 35,15% e o suco concentrado cresceu 14,28%.
* Pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, mestra em Economia e Sociologia Rural. E-mail: loiva@cnpuv.embrapa.br.
Foto: Arquivo / Editora Novo Ciclo
Em 2009, houve redução na produção de uvas na maioria dos Estados brasileiros.