Polinização com abelhas sem ferrão

Pesquisas existentes mostram que muitas espécies são eficientes na polinização e manejada de culturas agrícolas, inclusive na polinização por vibração, tornando a produção de colônias de meliponíneos um mercado potencial

 

 

Escrito por:

Patrícia Nunes Silva, PUCRSSidia Witter, Fepagro Taquari e Marcos Botton, da Embrapa Uva e Vinho

 

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A polinização realizada por animais é essencial para o suprimento alimentar humano, sendo responsável direta ou indiretamente pela produção de alimentos e contribuindo para a sua quantidade e qualidade. A influência dos polinizadores varia de acordo com a cultura agrícola considerada, ou seja, para algumas culturas a polinização contribui mais para a produção e/ou qualidade quando comparada a outras. Dessa maneira, os polinizadores podem aumentar o valor econômico da produção agrícola. No Brasil, o valor econômico da polinização é estimado em 12 bilhões de dólares, valor que corresponde
a 30% do valor total da produção das culturas agrícolas dependentes de polinização.

Esse valor pode ser ainda maior, já que para muitas culturas importantes, como o açaí e o inhame, não se conhece o quanto a polinização contribui para a sua produção. A polinização é realizada por diversos
agentes, ditos polinizadores. Na agricultura, os principais polinizadores são as abelhas. Por muito tempo a polinização era realizada por abelhas provenientes de áreas naturais que estavam presentes nas paisagens agrícolas. No entanto, o cultivo em grande escala associado ao desmatamento
resultou na destruição do habitat desses insetos, o que tem comprometido a polinização. Para suprir a falta de polinizadores, é possível a utilização de polinização manejada, ou seja, introduzir abelhas nos cultivos agrícolas, prática rotineira em diversos países.

A abelha mais utilizada na polinização manejada é a Apis mellifera, conhecida como abelha melífera, doméstica ou africanizada. Além dessa espécie, algumas espécies de Bombus (mamangavas), também são manejadas para esse fim, especialmente em solanáceas. O tomate e a berinjela, por exemplo, precisam de um tipo especial de polinização, a polinização por vibração, requerendo que as abelhas
vibrem as anteras para retirar o pólen. Nesse caso a A. mellifera não realiza esse tipo de polinização, sendo por isso utilizadas as abelhas mamangavas. No Brasil, há um reduzido emprego de abelhas para a polinização aplicada, a qual, quando realizada, é feita principalmente com A. mellifera. As abelhas mamangavas não são domesticadas como em outros países. Assim, uma possibilidade para a polinização manejada são as abelhas sem ferrão (meliponíneos), as quais já são criadas há muito tempo, atividade chamada de meliponicultura.

Essa atividade é voltada para a produção de mel, no entanto, pode gerar outros produtos ainda pouco explorados, como o comércio das próprias colônias. Pela legislação brasileira, as colônias de abelhas não podem ser retiradas da natureza, podendo ser adquiridas através da utilização de ninhos armadilha ou compradas de meliponicultor registrado legalmente. No Brasil existem 241 espécies descritas de abelhas sem ferrão, porém poucas foram estudadas quanto ao seu papel polinizador. Apesar disso, as pesquisas existentes mostram que muitas espécies são eficientes na polinização e manejada de culturas agrícolas, inclusive na polinização por vibração, tornando a produção de colônias de meliponíneos um mercado potencial.

O exemplo mais comum do potencial do uso de abelhas sem ferrão para a polinização é o caso do morangueiro. Suas flores são autoférteis, mas dependendo da morfologia floral e da forma de manejo da
cultura (plantação em estufa), não é suficiente para produzir frutos com qualidade comercial. Com cerca de 50 a 500 pistilos (partes femininas da flor), se não houver distribuição uniforme de pólen nesses inúmeros pistilos, o morango gerado apresenta deformações, pois cresce de forma desigual. Além disso, a polinização por abelhas também pode aumentar a quantidade de frutos produzidos.

É possível utilizar as abelhas africanizadas na polinização manejada para prevenir ou diminuir a incidência de frutos deformados, porém, com o crescente emprego de estufas para a produção de morangos, o uso de abelhas sem ferrão apresenta a vantagem de não haver perigo de acidentes.

 

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