A viticultura orgânica ocupa atualmente menos de 0,5% da área total cultivada com uva no RS, segundo dados apresentados pelo pesquisador João Caetano Fioravanço, da Embrapa Uva e Vinho, com base nas informações do Sistema de Declarações Vinícolas (SISDEVIN). Em palestra no X Seminário Regional da Uva Orgânica, João destacou a pequena participação do país na produção global — estimada em 527 mil hectares — e apontou que há espaço para ampliação da área e do consumo, desde que haja foco em cultivares resistentes e sistemas produtivos bem planejados.
“Hoje, a área estimada de produção orgânica no Rio Grande do Sul gira entre 60 a 120 hectares, dependendo da produtividade. É muito pouco diante dos nossos 47 mil hectares de viticultura convencional”, afirmou. “Isso nos mostra que há um mercado com potencial de expansão — tanto na área cultivada quanto no consumo, que ainda é baixíssimo”.
Produção e qualidade das BRS testadas em cinco safras
Entre 2018 e 2023, a Embrapa desenvolveu um experimento com oito variedades BRS em sistema de produção orgânica, sob duas condições de cultivo: com e sem cobertura plástica. O objetivo foi avaliar a adaptação e produtividade das cultivares em diferentes ambientes, comparando-as com variedades tradicionais como Bordô, Concord e Isabel.
Foram testadas as uvas BRS Carmen, BRS Cora, BRS Magna, BRS Rúbea, BRS Violeta, Concord Clone 30, Isabel Precoce e Seleção 13 — esta última, recém-nomeada BRS Lis, e prestes a ser lançada ao mercado. Em cada condição, foram utilizados dois porta-enxertos: o tradicional Paulsen 1103 e o VR043-43, com maior vigor e resistência a nematoides.
Resultados variam conforme o ambiente e o porta-enxerto
No sistema sem cobertura, o porta-enxerto Paulsen obteve, em média, 31% mais produção por planta do que o VR043-43. Já sob cultivo protegido, o resultado se inverteu: o VR043-43 superou o Paulsen também com uma diferença de 31%.
A explicação, segundo João Caetano, pode estar ligada às estiagens severas em algumas safras, que prejudicaram a adaptação do Paulsen sob cobertura. “O Paulsen sofreu mais com a limitação hídrica quando sob o plástico. Já o VR043 manteve uma produção estável em ambos os ambientes”, ponderou.
Produtividade e qualidade promissoras
Entre as cultivares com melhor desempenho fora da cobertura destacam-se Carmen (30 toneladas/ha), Isabel Precoce (27 t/ha) e Cora (27 t/ha). Sob o plástico, além das três anteriores, também apresentaram bom desempenho Violeta e Magna, que se adaptaram bem ao sistema protegido. João Caetano também ressaltou que, além da produtividade, a qualidade tecnológica das uvas de um modo geral foi bem satisfatória.
“O teor de sólidos solúveis totais, por exemplo, se manteve dentro ou acima dos padrões esperados para a elaboração de suco. A Carmen, por exemplo, apresentou teores médios de 18 a 20º Brix, o que é excelente para a produção de sucos com padrão elevado”, explicou.
Análises sensoriais confirmam bons resultados
A pesquisa também incluiu avaliações sensoriais dos sucos produzidos com as uvas cultivadas nas diferentes condições. “As notas atribuídas aos sucos, tanto dos vinhedos cobertos quanto descobertos, foram muito semelhantes, o que reforça a viabilidade do cultivo orgânico com foco em qualidade”, ressaltou.
Para o pesquisador, os resultados apontam caminhos promissores para o setor. “Com escolha correta de porta-enxerto, variedade adequada e manejo ajustado, é possível obter altas produtividades, com qualidade tecnológica e sensorial, mesmo em sistema orgânico”, concluiu.


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