
O inverno ainda caminha para sua plenitude, mas em algumas propriedades vitícolas da Serra Gaúcha, a poda já começou. A tradicional operação de inverno, etapa essencial do ciclo produtivo, está sendo antecipada em parte dos vinhedos, como forma de garantir a realização do trabalho com os recursos disponíveis e dentro da janela adequada de dormência da planta. A decisão, no entanto, não é isenta de riscos e exige atenção redobrada ao comportamento do clima nos próximos meses.
O produtor Jocemar Dalcorno, de Caxias do Sul, já realizou uma primeira poda em meados de abril e maio, voltando ao vinhedo agora em julho para dar continuidade ao trabalho. Em sua propriedade, onde cultiva cerca de 100 toneladas de uvas americanas e híbridas, a decisão de adiantar parte da poda levou em conta a altimetria da área (próxima dos 700 metros), a limitação de mão de obra e a observação criteriosa das condições climáticas.
“Na verdade, existe uma série de fatores que vão influenciando as decisões de cada produtor, cada família. Depende da quantidade de área produtiva, da disponibilidade de mão de obra. Sempre miramos o limite, porque no início de setembro as parreiras começam a brotar, e quando isso acontece, a poda já é prejudicial”, explica.
A poda fora de época pode induzir a brotação precoce, especialmente em anos de inverno mais quente. A brotação desuniforme compromete a aplicação de tratamentos fitossanitários, afeta a maturação e desorganiza o cronograma da colheita. Segundo Dalcorno, o segredo está na leitura do comportamento do inverno, na seleção das variedades menos sensíveis e na diversificação das técnicas.
“Quem tem limitação de mão de obra, como é o nosso caso, muitas vezes recorre à chamada poda antecipada, entre meados de abril e maio. É uma poda completa, igual à de inverno. Se tudo ocorrer bem, ela não estimula brotação. Mas se o outono e o inverno forem quentes, corremos o risco da planta responder antes da hora”, pondera.
Em anos com comportamento térmico instável, ele afirma que opta por uma poda parcial, de limpeza, eliminando apenas os ramos mais fracos e deixando a definição final para o inverno. Outra estratégia usada na propriedade é amarrar os ramos logo após a poda, otimizando o trabalho e reduzindo o volume de tarefas no período mais crítico.
Dalcorno também monitora regularmente o acúmulo de horas de frio abaixo de 7,2ºC, indicador importante para a quebra da dormência da planta. “Ao término do outono, já tínhamos 150 horas acumuladas. Agora, com o início do inverno e as geadas intensas, estimamos que já passamos das 300 horas. Isso dá uma boa perspectiva para a brotação”, relata.
Apesar do otimismo com o frio até o momento, ele alerta para a imprevisibilidade climática: “Quando a gente começa bem, a tendência é terminar bem. Mas ainda precisamos observar os eventos como El Niño e La Niña, que podem mudar tudo”.
A poda antecipada, portanto, não é uma regra, mas uma alternativa de manejo adotada por quem busca otimizar recursos, diante de um cenário que exige cada vez mais planejamento e capacidade de adaptação. Para alguns, ela é estratégia. Para outros, um risco a evitar. O certo é que o inverno já mobiliza os vinhedos, cada um com suas escolhas e expectativas.

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