Os danos provocados por herbicidas hormonais sobre videiras, oliveiras e outras frutíferas no Rio Grande do Sul vêm sendo denunciados há mais de uma década. Agora, em 2025, diante de perdas acumuladas, aumento da deriva e da ineficácia das medidas regulatórias existentes, os produtores decidiram organizar um movimento estadual: a Aliança pela Fruticultura Gaúcha.
A iniciativa surgiu da urgência de reagir ao que já é considerado por muitos agricultores como um “declínio silencioso”. Em entrevista ao Portal A Vindima, a engenheira agrônoma Aline Fogaça, doutora em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, explica os motivos da criação da Aliança e os próximos passos do movimento.
“É um declínio silencioso, porque o nosso problema não é uma deriva, o nosso problema é que nós estamos com 10 anos de deriva. Esse ano, eu basicamente não tenho mais vinhedo para cuidar porque entrou num declínio total. Aqui no nosso vale até os ipês-roxos sumiram”, relata Aline Fogaça, que também é viticultora de Itaara.
A Aliança defende abertamente a proibição dos herbicidas hormonais no estado. Os relatos são de que as instruções normativas vigentes, como a IN nº 5 de 2019, não têm sido suficientes para conter o avanço da deriva, agravado pelo aumento expressivo do uso desses produtos nos últimos anos, como indica levantamento da Embrapa Meio e Ambiente e Universidade de Rio Verde (Goiás).
“A gente só está lutando pelo nosso direito de poder produzir sem ter a deriva do vizinho. Esse é o nosso foco. Nenhuma pesquisa, até agora, conseguiu mostrar alguma forma de convivência. Onde a deriva chega, ela termina com a fruticultura”, alerta Aline.
Além dos impactos diretos no campo, a produtora destaca a sensação de abandono por parte das instituições de pesquisa, cuja atuação seria fundamental para dimensionar tecnicamente os efeitos acumulados da deriva sobre os cultivos. “O dano é cumulativo, e o que sentimos é uma falta de apoio muito grande das instituições de pesquisa. Há iniciativas pontuais, mas não há um comprometimento institucional. Fica mais difícil de pessoas não ligadas à fruticultura entenderem o nosso problema. O que temos é nossa experiência prática, e ela diz que, se nada for feito, vamos perder tudo.”, afirma.
O site da Aliança (veja aqui) está reunindo um levantamento completo de documentos, pesquisas, reportagens, medidas legais, imagens e relatos de produtores afetados em diferentes regiões do estado. O espaço também abriga a Carta de Jaguari e o recém-lançado Manifesto dos Produtores Gaúchos (leia aqui), enviado esta semana à Subcomissão da Assembleia Legislativa que relata os impactos dos herbicidas hormonais no RS.
O que pede o Manifesto
O Manifesto dos Produtores Gaúchos de Culturas Sensíveis a Herbicidas Hormonais propõe, como medida urgente, a suspensão imediata do uso de herbicidas hormonais no Rio Grande do Sul, com base em evidências técnicas e nas perdas socioambientais registradas. Entre os principais argumentos estão:
- Deriva comprovada em 86 municípios gaúchos, com ampla disseminação geográfica;
- Recorrente de deriva em cultivos sensíveis desde 2014, demonstrando sua persistência temporal
- Danos econômicos, com perda de safras, morte de pomares e inviabilização de novas plantações;
- Impactos à biodiversidade dos biomas Pampa e Mata Atlântica.
A carta também reforça que o objetivo não é inviabilizar o cultivo da soja, mas garantir que culturas perenes, como videiras, oliveiras e nogueiras, possam coexistir sem riscos causados por deriva química.
“Mesmo com boas práticas e tecnologias recomendadas, não há garantia de segurança para terceiros. A responsabilidade coletiva deve prevalecer sobre a conveniência individual”, destaca o manifesto.
O documento conta com a assinatura de mais de 10 entidades representativas de diferentes cadeias produtivas, incluindo Associação dos Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, Cooperativa São José (Jaguari), Associação dos Viticultores da Região Central, Associação de Vitivinicultores do Extremo Sul, UVIBRA, Consevitis-RS, Fecovinho, Sindivinho, Associação da Comissão Interestadual da Uva, IBRAOLIVA e AGAPOMI.
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