O Rio Grande do Sul, berço da vitivinicultura brasileira, reuniu produtores, gestores públicos e especialistas no seminário “Cenário do Enoturismo Gaúcho”, realizado em Flores da Cunha, para discutir os rumos do setor e os desafios que se impõem diante do crescimento do enoturismo no Brasil. O encontro, promovido pela Frente Parlamentar do Enoturismo da Assembleia Legislativa, liderada pelo deputado estadual Guilherme Pasin (PP-RS), em parceria com a Câmara Municipal de Flores da Cunha, teve como objetivo fomentar um debate qualificado e regionalizado sobre as oportunidades do turismo do vinho como vetor de desenvolvimento econômico e cultural.
Com presença de representantes de municípios vitivinícolas como Nova Pádua, Garibaldi, Pinto Bandeira, Bento Gonçalves, Vacaria e Monte Alegre dos Campos, além de especialistas em vinhos, turismo e marketing territorial, o seminário reforçou que o enoturismo precisa ir além da experiência de visitação: deve ser pensado como cadeia integrada, geradora de identidade, renda e competitividade para os territórios.
Em sua fala, o deputado Guilherme Pasin alertou para a necessidade de o Rio Grande do Sul manter sua liderança enoturística em um cenário nacional que já conta com 17 estados com atividades vitícolas emergentes. “Outras regiões estão fazendo um trabalho competente. Temos que parar de nos enxergar como rivais e começar a atuar como polo integrado. A distância do Rio Grande do Sul em relação aos grandes centros consumidores impõe custos, e se não formos unidos, perderemos força”, afirmou.
Pasin reforçou que tradição não basta. “Não podemos mais depender do discurso de que temos o maior isso ou aquilo. O consumidor quer experiências. Precisamos melhorar a hospitalidade, a estrutura e a cooperação entre os municípios. Sozinhos, não vamos a lugar algum”, pontuou.
Daniel Panizzi, presidente da Uvibra, ressaltou o papel da colaboração regional. “O que o visitante busca é diversidade e recorrência. A gente precisa de mais atrativos, mais restaurantes, pousadas e vinícolas que se complementem. É isso que sustenta o polo e mantém a região atrativa ao longo do tempo”, lembrou.
Já Deborah Villas-Bôas Dadalt, vice-presidente da Enoturismo Brasil, apresentou os três pilares essenciais de uma região enoturística de excelência, são eles:
- Legado – o vinho como produto que leva cultura e território para a casa do consumidor;
- Cluster – diversidade com identidade, não volume sem propósito;
- Cadeia longa – turismo rural com geração de valor compartilhado, que respeita o entorno e estimula crescimento em círculos concêntricos.
Ela lembrou que “enoturismo não se faz só com vinhos bons, mas com conexão, paisagem preservada e experiências autênticas. Se perdermos nossa originalidade, viramos qualquer um”.
A diretora-executiva Márcia Ferronato (SSEGH – Região Uva e Vinho) provocou o público a pensar “o vinho além da garrafa”. “O enoturismo precisa se conectar com o jeito de ser local. Nosso diferencial está no que ninguém copia: o território, o sotaque, a história. Copiar modelos externos enfraquece nossa autenticidade”.
Ela defendeu também que o setor olhe para dentro. “Antes de pensar na Europa, precisamos saber como está o vizinho. Precisamos integrar Nova Pádua, Nova Roma, Flores da Cunha, Bento, e nos vender como região. O mercado quer pacotes completos, e não experiências isoladas”, assegurou.
Case Altos Montes
O gestor Igor Pan, da Associação Altos Montes, apresentou a trajetória da região como exemplo de indicação geográfica bem-sucedida associada ao turismo estruturado. “Começamos com 13 vinícolas. Hoje são 20 vinícolas e 20 empreendimentos turísticos parceiros. A certificação de origem atrai o visitante. Mas ele quer mais: bons hotéis, gastronomia, natureza. E isso precisa ser construído em rede, com apoio do poder público e união dos empreendedores”, destacou.
Tiago Mignoni, secretário de Turismo de Flores da Cunha, defendeu que uma cidade turística “não se faz com eventos pontuais, mas com atrativos permanentes e qualificação constante da oferta”. Destacou ainda que o município está construindo um calendário anual de eventos da uva e do vinho, com Festival de Vinhos, Vindima e Altos Montes, além de encontros regulares com o trade turístico para ouvir e planejar em conjunto.
A especialista Andrea Dubon reforçou a necessidade de incluir a comunidade local no processo. “É preciso cuidado com a elitização. Quando o morador não pode mais viver o turismo da própria cidade, algo está errado. O enoturismo precisa ser de todos”, ponderou.
Valorizar o vinho da terra e o agricultor
Ricardo Pagno, presidente da ACIU, defendeu a valorização dos vinhos de mesa e das uvas híbridas. “Temos um produto genuinamente nosso. Podemos oferecer vinhos acessíveis, refrescantes, com menor teor alcoólico, que ajudam a ampliar o consumo e conquistar novos públicos, sem deixar de lado os vinhos finos. O agricultor precisa ser parte ativa da cadeia enoturística”.
Matriz econômica e cultural
O seminário reforçou que o enoturismo é mais que um produto turístico: é uma matriz econômica integrada, geradora de cultura, identidade, consumo e riqueza regional. Para manter consolidado o Rio Grande do Sul como o estado do enoturismo brasileiro, é necessário trabalhar com planejamento, cooperação intermunicipal, valorização da originalidade e políticas públicas consistentes.
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