
A vitivinicultura global e, em especial, a brasileira, enfrenta um dos seus maiores desafios: as mudanças climáticas. Em um movimento de antecipação a um cenário que pode se intensificar, a Cooperativa Vinícola Garibaldi, referência na Serra Gaúcha, tem investido na experimentação e cultivo de castas de uva inéditas no Brasil, buscando não apenas resiliência, mas também uma diferenciação estratégica no mercado nacional. O enólogo-chefe da cooperativa, Ricardo Morari, detalha essa estratégia que busca sustentabilidade e novas opções para o mercado de vinho brasileiro.
A principal motivação da Cooperativa Garibaldi para explorar variedades de uva não convencionais é a busca por maior resistência às intempéries do clima. Morari explica que essa é uma forma de se antecipar a um futuro mais desafiador, garantindo a sustentabilidade da atividade produtiva. “É uma forma de estarmos sempre pensando na sustentabilidade da cooperativa, afinal produzir vinhos, espumantes e sucos é a nossa atividade”, afirma.
Além da resiliência, a iniciativa visa ofertar ao mercado vinhos com grande potencial enológico, únicos e adaptados ao terroir gaúcho, cultivados de forma mais sustentável, com menor intervenção. Morari acrescenta que a cooperativa está “sempre procurando oportunidades para diversificar o mercado com novas opções ao consumidor, um processo que é bem identificado, por sinal, com nossa trajetória”.
O processo de seleção das novas variedades contou com a expertise de parceiros na Europa. Foram indicadas castas com potencial de adaptação às condições da Serra Gaúcha, considerando não apenas a resistência, mas também a sustentabilidade econômica, com boa produtividade e um perfil que se alinhasse às tendências de mercado. “Utilizamos do conhecimento de nossos parceiros do viveiro italiano que nos indicaram algumas variedades que entendiam, por experiência que tinha de cultivo na Europa, ter maior adaptação às nossas condições de clima e solo”, destaca Morari.

Atualmente, mais de 50 variedades estão em teste em um vinhedo experimental de quatro hectares, localizado na propriedade do cooperado Vanderlei Berra, em Santa Tereza. Esse local foi escolhido por representar as condições típicas da Serra Gaúcha, incluindo solo, clima e relevo. Dessas, mais de 15 estão em processo de microvinificação, com algumas demonstrando resultados promissores. A Cooperativa Garibaldi chega a cultivar algumas variedades em espaldeira e latada para um entendimento mais aprofundado de sua adaptação e produtividade.
Entre as castas inéditas que se destacam, a Pálava, de origem tcheca, e a Irsai Oliver, originária da Hungria, têm demonstrado um excelente desenvolvimento e regularidade em diferentes safras. Morari ressalta que essa adaptação positiva levou à ampliação da área de cultivo delas para volumes comerciais, além da fase experimental.
A Pálava, em particular, já resultou em rótulos lançados no mercado, pensados para o consumidor frequente de vinhos. Com intenso potencial aromático, a Pálava apresenta notas que remetem a aromas terpênicos e florais, além de um paladar elegante e refrescante. A recepção do mercado foi “muito satisfatória”, gerando grande interesse pela proposta inovadora de trazer algo inédito ao mercado brasileiro e comprovando sua qualidade. “Foi um dos grandes destaques da vinícola no ano passado e tem mantido um alto interesse nas feiras em que participamos”, comenta o enólogo-chefe. A Garibaldi já está em sua segunda safra de Pálava, com a edição 2025 já disponível.
A Cooperativa também reconhece uma demanda crescente por vinhos mais leves, frescos e com menor teor alcoólico. Morari afirma que a Garibaldi acompanha essas mudanças de perto, adaptando suas escolhas de variedades para atender a essa nova geração de consumidores, sem deixar de lado o público tradicional.
Visão de Futuro e Posição Pioneira
A expansão do cultivo dessas variedades é feita com cautela. A Cooperativa Garibaldi não pretende estender o vinhedo experimental para outros cooperados, pois considera o trabalho minucioso e que demanda atenção especializada. No entanto, as variedades que respondem bem nos experimentos, tanto no campo quanto em termos enológicos, terão suas áreas de cultivo ampliadas gradualmente para futuros volumes comerciais.
Essa introdução de novas uvas resistentes e ainda raras no panorama nacional é parte de uma estratégia de diversificação mais ampla. O desafio das mudanças climáticas inspirou a busca por soluções inovadoras, e os testes de adaptação resultam em uma diversificação que posiciona a cooperativa como pioneira, oferecendo produtos singulares no mercado.
Segundo Morari, “a partir dos testes de adaptação ao nosso terroir, à resistência a doenças, à produtividade e ao potencial enológico, elas podem, como estão, se tornando uma diversificação não só de produção como de produto”. Essa abordagem fortalece a posição de vanguarda da Cooperativa Garibaldi na vitivinicultura nacional. Embora não haja lançamentos imediatos para os próximos meses, a cooperativa já acompanha o comportamento de uma variedade promissora para um novo espumante, vislumbrando novas inovações para os próximos anos.

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