Sommelier: a profissão que dá palavras ao vinho e fortalece a vitivinicultura brasileira

Regulamentada há 13 anos, a atividade expandiu seu campo de atuação no Brasil e hoje contribui para a valorização do terroir, para a comunicação entre vinícolas e consumidores e para o crescimento do mercado
Foto: Carla Souza

 

No dia 29 de agosto de 2011, a publicação da Lei 12.467 no Diário Oficial da União oficializou a regulamentação da profissão de sommelier no Brasil. Desde então, a data marca o Dia Nacional do Sommelier, uma conquista que ampliou a visibilidade e a legitimidade de uma categoria fundamental para a cadeia vitivinícola. No âmbito internacional, o dia 3 de junho celebra o ofício, em referência à fundação da Associação Internacional de Sommeliers (ASI), em 1969.

A trajetória do sommelier no Brasil é recente, mas marcada por avanços importantes. Segundo Júlio César Kunz, sommelier, psicanalista e vice-presidente da ABS Brasil, um dos fundadores da ABS-RS, a regulamentação de 2011 foi um divisor de águas.

“A profissão de sommelier no Brasil é bastante nova. Quando Danio Braga chegou da Itália e fundou a ABS em 1983, sequer conseguiu visto de permanência porque a profissão não era reconhecida. Foi a partir dali que surgiram os primeiros cursos no Rio e em São Paulo. Mas em termos de profissionalização, o grande marco foi a regulamentação em 2011”, explica.

Apesar do reconhecimento legal, ainda não há padronização para os currículos de formação. Kunz ressalta que isso é um entrave para a uniformidade da profissão no país.

“A regulamentação se dá em termos de atividades, mas não quanto à formação. A ABS segue as diretrizes internacionais da ASI, que definem o que um sommelier precisa saber em termos de certificação e concursos. Mas, no Brasil, ainda não temos um conteúdo mínimo nacional ou carga horária definida para todas as escolas”, lembra.

O sommelier, tradicionalmente associado ao serviço de vinhos em restaurantes, ampliou seu espaço de atuação nos últimos anos.

“Hoje o sommelier está presente em lojas especializadas, distribuidores, importadores e vinícolas, auxiliando em marketing, comunicação e até mesmo em diálogo com os enólogos. O Daniel Dalla Valle (enólogo da Casa Valduga) disse “a gente faz o vinho, tem um trabalho, mas ele chega na mesa do consumidor, na prateleira do consumidor sem palavras”.  Então, o sommelier é o profissional que “dá palavras ao vinho”, que ajuda o consumidor a colocar em palavras aquilo que ele está sentindo, que vai ajudar a criar essa experiência”, destaca Kunz.

Esse papel de mediação confere ao sommelier uma função estratégica: valorizar o trabalho de toda a cadeia produtiva e tornar a experiência de consumo mais consciente e memorável.

Expansão pelo Brasil

Nos últimos anos, a ABS expandiu suas seccionais para além do eixo Rio-São Paulo, alcançando estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Ceará, Pernambuco e Distrito Federal.

A ABS-RS, em particular, possui uma identidade fortemente ligada à produção de vinhos no Brasil.

“Na fundação da ABS-RS, todos os profissionais já tinham vivência com o vinho brasileiro. Isso gerou uma proximidade muito grande com a produção e com o terroir, algo que diferencia nossa atuação. Aqui, respeitamos toda a cadeia: enólogos, agrônomos, técnicos e produtores. Isso é parte da nossa identidade”, afirma.

Brasil no cenário internacional

Com presença na ASI desde 1989, o Brasil é um dos poucos países que regulamentaram a profissão de sommelier. Isso posiciona o país em destaque no cenário global, inclusive em comparação com países tradicionalmente vitivinícolas.

“Se tomarmos, por exemplo, a Itália, somente no ano passado é que a profissão foi regulamentada. Dos 65 países que fazem parte da ASI, hoje apenas sete ou oito apenas tem a profissão regulamentada. Isto nos ajuda a valorizar o trabalho que fazemos com esta profissão no Brasil.”, completa Kunz.

Mais do que especialistas em serviço, os sommeliers brasileiros são agentes de valorização da vitivinicultura nacional. Ao “dar palavras ao vinho”, como resume Julio Cesar Kunz, eles traduzem a experiência sensorial e fortalecem a conexão entre produtores, vinícolas e consumidores, consolidando o Brasil no mapa mundial da profissão.

 

 

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