Clima, solo e sustentabilidade: Vinícola Aurora mostra caminhos para uma viticultura resiliente no Brasil

Especialistas apresentaram soluções baseadas em dados, adaptação ao clima e uso racional do solo como caminhos para uma vitivinicultura mais resiliente e sustentável
Foto: Eduardo Benini

 

O debate sobre o futuro da agricultura sustentável ganhou contornos ainda mais urgentes em 2025, ano que antecede a realização da COP30, em Belém (PA). E a vitivinicultura brasileira, integrada à pauta global sobre mudanças climáticas, tem avançado em soluções que unem tecnologia, ciência e tradição. Um exemplo disso pôde ser observado durante a visita técnica promovida pelo 23º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia (CBAGRO 2025) à Cooperativa Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves (RS).

Mais de cem participantes, entre pesquisadores, técnicos e profissionais do setor, participaram do encontro realizado na unidade Matriz da cooperativa, que apresentou estratégias de manejo adaptadas aos prognósticos climáticos, sistemas de monitoramento meteorológico e práticas de uso sustentável do solo, alinhadas à agenda ambiental e de governança corporativa da empresa.

Segundo os especialistas, as cerca de 400 horas de frio registradas na Serra Gaúcha e os efeitos do fenômeno La Niña, que tende a reduzir a precipitação no verão, indicam condições favoráveis para uma safra 2026 de alta qualidade. O tema, no entanto, foi tratado dentro de um contexto mais amplo: a necessidade de integrar modelos agrometeorológicos e políticas de sustentabilidade às decisões de campo, para que o setor vitivinícola se mantenha competitivo e ambientalmente responsável.

“Na visita técnica pudemos trocar experiências com pesquisadores sobre temas relevantes que envolvem a viticultura e também de que forma a cooperativa vem atuando na prática para uma gestão cada vez mais sustentável dos recursos naturais”, explicou Maurício Bonafé, gerente Agrícola da Vinícola Aurora (foto). “O cuidado com o solo e o uso racional de insumos, por exemplo, são possíveis com o auxílio de ferramentas tecnológicas e também através de técnicas de manejo que pudemos demonstrar aos participantes”, acrescentou.

Durante o evento, três estações temáticas apresentaram metodologias e práticas aplicadas à realidade da vitivinicultura brasileira. Na primeira, o pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho, detalhou as características da Denominação de Origem Altos de Pinto Bandeira, destacando a relação entre solo basáltico, altitude, clima e condução das videiras como fatores determinantes para a elaboração de espumantes de excelência.

Os engenheiros agrônomos Jonas Panisson e Juciel Cardoso complementaram a abordagem explicando como a cooperativa trabalha para manter a padronização do cultivo, o controle técnico da produção e a sustentabilidade no uso do solo dentro da área delimitada pela DO. Eles citaram o sistema de condução em espaldeira, o uso de variedades adaptadas (Chardonnay, Riesling Itálico e Pinot Noir) e a adoção de portas-enxertos que equilibram produtividade e qualidade como pilares da produção.

Na segunda estação, o professor Júlio Quevedo Marques (UFPEL) e os engenheiros Maurício Fugalli e Jovani Milesi abordaram as adaptações do manejo da uva com base em prognósticos climáticos, defendendo o uso de dados meteorológicos como ferramenta de tomada de decisão. Técnicas como o uso de plantas de cobertura, a construção de patamares e o manejo de copas ajustado ao regime de chuvas e insolação foram apresentadas como exemplos práticos para reduzir os impactos de extremos climáticos, como estiagens e enxurradas.

A terceira estação apresentou o monitoramento meteorológico e os sistemas de alerta utilizados na fruticultura, conduzida pela pesquisadora Loana Cardoso, do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura do RS (DDPA/SEAPI). Ela demonstrou as ferramentas que auxiliam na previsão do tempo e no controle de doenças de impacto econômico.

Os engenheiros Júlio Taufer e Flávio Rotava explicaram como a cooperativa utiliza estações meteorológicas conectadas e sistemas digitais de alerta para orientar seus cooperados na aplicação de insumos e na irrigação, com foco em eficiência produtiva e redução de desperdícios.

Além das demonstrações técnicas, os congressistas conheceram a estratégia ESG da Vinícola Aurora, detalhada em seu Relatório de Sustentabilidade, que abrange inventário de emissões de gases de efeito estufa, gestão de recursos hídricos, manejo de efluentes e conservação de solos. A cooperativa, que reúne mais de 1,1 mil famílias associadas, tem investido em práticas regenerativas, reaproveitamento de resíduos e eficiência energética, consolidando-se como uma das referências em sustentabilidade na vitivinicultura brasileira.

O 23º Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Agrometeorologia (SBAgro) e coordenado pela UFRGS, reuniu mais de 500 pesquisadores e profissionais do Brasil e do exterior entre os dias 14 e 17 de outubro, em Porto Alegre (RS). O tema central — “Resiliência Climática, Ciência e Inovação na Agrometeorologia” — reforçou a importância da integração entre pesquisa científica, tecnologia e práticas agrícolas sustentáveis como resposta às mudanças climáticas globais.

Em um cenário em que a agenda climática e ambiental se fortalece às vésperas da COP30, a experiência da Vinícola Aurora demonstra que a vitivinicultura brasileira tem capacidade técnica e institucional para alinhar competitividade e responsabilidade ambiental, sendo também um indicador do compromisso do setor com o uso racional do solo, a eficiência dos recursos e a preservação do território que dá origem ao vinho.

 

Visita técnica realizada na Cooperativa Vinícola Aurora demonstrou como técnicas de manejo ajudam a prevenir prejuízos na viticultura. Foto: Eduardo Benini

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