
O movimento dos vinhos naturais — também conhecidos como vinhos de mínima intervenção — vem se consolidando como uma tendência mundial, enquanto a produção industrial enfrenta queda em diversos países produtores. No Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e São Paulo, o segmento cresce em número de produtores e de consumidores, abrindo espaço para novos modelos de negócio.

No Sul, à frente desse movimento está o engenheiro agrônomo e produtor Paulo Backes (Monte Vinhos de Autor), idealizador da feira Vinho no Vila Flores, realizada em Porto Alegre. Para ele, o crescimento do interesse pelo vinho natural é evidente. “O número de vinhateiros só aumenta. No mundo todo, bares especializados em vinho natural estão surgindo, e em Porto Alegre já temos um, o que é consequência direta da feira. O objetivo sempre foi esse: criar mercado e fomentar o movimento”, afirma.
Apesar do crescimento, o vinho natural ainda representa uma pequena fatia do mercado se comparado ao vinho industrial. Segundo Backes, o principal desafio está na falta de regulamentação específica e nos altos custos de adequação para pequenos produtores.
“Hoje já existem linhas de crédito voltadas à viticultura orgânica, mas não para a vinificação natural. Além disso, como não se utilizam todas as ferramentas da enologia moderna, há mais riscos de produção. Isso limita o volume e exige maior controle técnico”, explica.
Ainda assim, experiências de grandes grupos, como a Miolo com seu rótulo Wild Gamay, mostram que é possível ampliar a escala de produção mantendo a filosofia de mínima intervenção.
Outro fator central na vinificação natural é a qualidade da uva. “Uma uva sadia, sem podridões e cultivada com mínimo de insumos químicos é fundamental. O vinho natural respeita o terroir e a sazonalidade, sem a ‘maquiagem’ comum no mundo industrial”, observa Backes.
Ele ressalta, porém, que o clima úmido da Serra Gaúcha impõe limitações à produção orgânica de viníferas, o que dificulta a escala. Nesse cenário, o desenvolvimento das uvas PIWI, resistentes a doenças fúngicas, pode abrir novas perspectivas de cultivo sustentável no Brasil.
Se o volume é limitado, o preço compensa. Segundo Backes, o vinho natural oferece alto valor agregado, com garrafas variando entre R$ 100 e R$ 200. Isso torna o segmento atrativo para pequenos produtores, que encontram um público disposto a pagar mais por um produto autoral e diferenciado.
“Não faz sentido competir com a indústria do vinho massificado. O caminho é apostar em qualidade e autenticidade. O consumidor do vinho natural valoriza justamente o fato de cada garrafa expressar uma safra e um terroir de forma única”, aponta.
Feira consolida o movimento em Porto Alegre
O fortalecimento do setor se reflete no sucesso do Vinho no Vila Flores, que chega à sexta edição em 1º e 2 de novembro de 2025. O evento reunirá 24 vinícolas gaúchas em um formato que privilegia o contato direto entre produtores e consumidores.
“A feira não recebe importadoras nem lojas, justamente para preservar a relação direta entre quem produz e quem consome. Isso cria vínculo, educa o público e estimula novos produtores a continuarem no caminho da mínima intervenção”, explica Backes.
O evento ocorre no complexo Vila Flores, no Quarto Distrito de Porto Alegre, espaço histórico projetado em 1925 por José Lutzemberger.
Inspiração internacional
Para Backes, o Brasil pode se inspirar em diferentes países para desenvolver sua vitivinicultura natural, especialmente em regiões da Alemanha e do norte de Portugal, que possuem experiências consistentes nesse tipo de produção.
“O crescimento é robusto e constante. Enquanto o vinho industrial enfrenta retração em muitos mercados, o vinho natural, o vinho de autor e o vinho de alta gama seguem ganhando força. Esse é o caminho de diferenciação para o produtor que deseja se destacar”, conclui.
Para saber mais sobre o Vinho no Vila Flores, veja a página oficial do evento no Instagram: @vinhonovilaflores


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